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CISMA DO OCIDENTE
Para o analista Charles Tilly, democrata será mais multilateralista e propenso a cooperar com a ONU
Kerry reunirá EUA e Europa, diz americano
DA REDAÇÃO
A vitória do democrata John
Kerry sobre o republicano George
W. Bush, na eleição de novembro,
fará que as relações transatlânticas voltem gradativamente ao
normal, pois ele é mais multilateralista e propenso a cooperar com
a ONU e com a Europa.
A análise é de Charles Tilly, historiador, especialista em relações
internacionais da Universidade
Columbia (EUA) e autor de "Contention and Democracy in Europe, 1650-2000" (contenção e democracia na Europa, 1650-2000).
(MÁRCIO SENNE DE MORAES)
Folha - O sr. crê que a situação
atual das relações transatlânticas
seja um ponto de inflexão?
Charles Tilly - A situação atual
vem-se desenvolvendo há dois
anos. Afinal, a guinada da política
externa americana ocorrida após
o 11 de Setembro foi responsável
pelo resfriamento dos laços que
unem os EUA à Europa. Acredito
que, se Kerry vencer Bush em novembro, as relações transatlânticas devam gradativamente voltar
ao normal, já que ele daria mais
atenção à Europa e à ONU.
Creio, portanto, que tenha havido uma mudança temporária, ligada a questões conjunturais, não
estruturais. A situação é séria,
mas não deverá alterar o alinhamento estrutural existente entre
os EUA e as potências européias.
Folha - Essa aliança é fundamental para a civilização ocidental?
Tilly - Ela tem sido a base da civilização ocidental desde 1945. Penso que as conexões estabelecidas
desde o final da Segunda Guerra
são mais fortes que as diferenças
atuais, que não deverão durar
mais de cinco ou dez anos.
Houve uma miríade de desacordos entre os EUA e a Europa nas
últimas décadas. Contudo isso
não significa que surgirão diferenças irreconciliáveis no futuro.
Folha - Como os danos provocados pela atual política externa dos
EUA poderão ser reparados?
Tilly - Ela tem sido terrível e mina o sistema multilateralista criado após a Segunda Guerra. Mas
isso não representa uma mudança permanente da percepção
americana da política e da economia mundiais. Europeus e americanos têm boas chances de manter-se unidos por décadas graças
às suas relações comerciais e à sua
identidade político-cultural.
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