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Angola vive caos eleitoral, e oposição pede novo pleito
Desorganização leva a filas gigantescas, e muitos eleitores desistem de votar
Comissão admite erros logísticos nas legislativas
e pede que parte das urnas siga aberta na primeira votação no país desde 1992
JOÃO FELLET
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM LUANDA
Depois de esperar por cinco
horas na fila de um posto de votação no centro de Luanda, a
capital de Angola, Fernando
Esteves, 50, perdeu a paciência.
"Esperei 18 anos para ver Angola independente, 21 para sair do
Exército e 50 para ser avô. Mas
não fico nem mais um minuto
nesta fila", disse o comerciante,
pouco antes de voltar para casa
frustrado por não participar da
primeira eleição no país desde
o fim da guerra civil, em 2002.
Como ele, centenas de eleitores exaustos abandonaram as
filas nas seções eleitorais da região central de Luanda. A confusão fez a Unita (União Nacional para a Independência Total
de Angola), principal partido da
oposição, pedir a anulação do
pleito: "O sistema entrou em
colapso, e temos de fazer algo
para recuperar o processo",
disse Isaías Samakuva, presidente do partido.
"Os postos estão como enfeites, pois ou não há urnas, ou
não há cédulas. Está sol, tenho
sede e fome. Mulheres grávidas
estão desmaiando", contou Tatiana Baptista, 20, que também
voltou para a casa sem votar -o
voto em Angola é facultativo.
Observadores da União Européia já haviam denunciado,
pela manhã, o "caos" com que a
votação transcorria.
No fim do dia, a Comissão
Nacional Eleitoral anunciou
que o prazo para votação seria
estendido -hoje, abrirão 320
seções eleitorais em Luanda,
aproximadamente 10% do total, que ou não foram abertas
ontem ou tiveram problemas
logísticos graves.
Sem cabines
Embora não tenham sido registrados distúrbios graves no
interior do país, em Luanda, a
votação teve momentos tragicômicos. Numa estação montada numa praça, sobravam cédulas e urnas, mas ninguém podia votar por causa da ausência
de outro item: cabines.
A situação fugia do controle
quando uma camionete estacionou na praça e dela foram
retiradas placas de papelão que,
montadas, deveriam resolver o
problema. Quando os fiscais tinham o papelão nas mãos, e o
tumulto diminuía, um novo
problema surgiu: ninguém sabia como encaixar as placas.
Vinte minutos depois, seguindo as dicas da multidão, os
constrangidos fiscais finalmente conseguiram erguer a cabine, e a votação pôde começar.
Ex-colônia de Portugal, de
quem se tornou independente
em 1975, Angola tem feito
avanços consideráveis na economia. Com o auxílio dos altos
preços do petróleo, do qual é o
maior produtor da África subsaariana, o país viu sua economia crescer 21% em 2007.
Para conquistar de vez a confiança dos investidores estrangeiros, porém, Angola estava
sendo pressionada a tornar-se
mais democrática, já que as últimas eleições no país ocorreram em 1992.
Naquela ocasião, os angolanos iam às urnas pela primeira
vez. Mas a Unita contestou o
resultado, que mostrava à frente o MPLA (Movimento Popular para a Libertação de Angola), no poder desde a independência. Com isso, a guerra entre os dois grupos, que se arrastava desde a saída dos portugueses, foi retomada.
Há seis anos em paz, o governo julgou que o país estivesse
finalmente preparado para votar outra vez, e foram marcadas
eleições legislativas para renovar a Assembléia Nacional.
A votação caótica na cidade
que concentra um terço dos 8
milhões eleitores do país contraria as expectativas do presidente José Eduardo dos Santos, 66, há 29 anos no poder.
Em discursos ao longo da campanha eleitoral, ele havia afirmado que o seu país mostraria
à África e ao mundo como realizar eleições exemplares.
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