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Luta no Afeganistão entra em fase de baixo atrito
RICARDO BONALUME NETO
DA REPORTAGEM LOCAL
A intervenção internacional liderada pelos Estados Unidos no
Afeganistão está vivendo agora a
fase que se previa que um dia iria
acontecer: patrulhas constantes
contra um inimigo que age com
técnicas de guerra de guerrilha,
sem prazo para terminar.
Quando o regime do Taleban
desmoronou, suas tropas e os terroristas da rede Al Qaeda fugiram
das principais cidades para locais
de difícil acesso. Acredita-se que
os terroristas foram também para
o vizinho Paquistão.
O general Gregory Newbold, diretor de Operações do Estado-Maior Combinado das Forças Armadas dos EUA, relembrou na semana passada o que se dizia no
começo da operação, no ano passado: "À medida que as coisas fossem adiante no Afeganistão, elas
se tornariam mais difíceis".
Segundo Newbold, as tropas
dos americanos e de seus aliados
estão enfrentando bolsões de resistência de fanáticos "que não
têm nada a perder".
"É muito duro achá-los. É muito
duro combatê-los. Por isso nós
sabíamos que iria ficar cada vez
mais difícil", afirmou o general,
durante uma entrevista.
Já faz semanas que as patrulhas
percorrem o território praticamente todos os dias. São iniciadas
por tropas que fazem o reconhecimento antes de uma operação de
maior envergadura, com um
maior número de soldados.
Pequenas patrulhas de reconhecimento tendem a ficar nervosas
se acontece uma emboscada ou
se, de repente, topam com uma
força potencialmente hostil.
Para minimizar perdas, a tendência natural é chamar por reforços ou por aquilo que é mais
rápido: a aviação.
O problema, nesse último caso,
é a dificuldade dos aviadores em
distinguir de fato onde está o inimigo, se é que ele está ali.
Os caças supersônicos passam
muito rápido e, por isso, só são
empregados quando há certeza
ou urgência e quando a distância
entre o inimigo e as tropas americanas e aliadas é suficiente para
impedir o chamado "fogo amigo"
(acertar o próprio lado).
Por isso um avião rotineiramente empregado é o avião-canhoneiro ("gunship") AC-130,
basicamente um avião de transporte quadrimotor a hélice C-130
armado com canhões.
Voando relativamente devagar
e com vários sensores a bordo capazes de dar uma razoável imagem do solo, o AC-130 permite fazer fogo mesmo com os dois lados
separados por umas poucas dezenas de metros.
Mas mesmo os "gunships"
-primeiro usados na Guerra do
Vietnã- não têm como reconhecer com clareza o inimigo. A informação precisa ser passada pelas tropas em terra. Assim como
no Vietnã era impossível distinguir entre o guerrilheiro e a população civil, pois a guerrilha não
usava uniformes, o mesmo acontece no Afeganistão, pois os membros do Taleban se vestem do
mesmo modo que qualquer civil.
Junte-se a isso o completo choque cultural das forças ocidentais
em operação no país -sem falar
a língua e sem ter meios próprios
de obter inteligência-, e o resultado são ataques acidentais que
causam mortes na população civil, como esse último, em que se
estima que 40 civis foram mortos
em um ataque aéreo.
Há dois grupos de tropas estrangeiras no Afeganistão. De um
lado está uma força internacional
composta por militares de 19 países, a "International Security Assistance Force", antes comandada
por um general britânico, no momento comandada por um turco.
O total é de cerca de 5.000 homens, baseados principalmente
na capital, Cabul. Nos seus primeiros seis meses de operação,
essa força realizou 2.185 patrulhas
de policiamento e destruiu perto
de três milhões de explosivos, dos
quais 80% eram as conhecidas
minas antipessoais.
As outras forças são os americanos e seus aliados mais próximos,
como britânicos e canadenses. Os
números são variáveis, mas estão
também na ordem dos milhares.
A contribuição britânica está diminuindo de cerca de 4.000 para
2.000 homens. Ela chegou a incluir uma força de elite, os 1.700
fuzileiros navais (o Commando
45 dos Royal Marines).
Além das forças no próprio teatro de operações, os EUA e seus
aliados contam com bases em boa
parte dos países em torno (veja
mapa). Servem para basear caças-bombardeiros, aviões de transporte e tropas terrestres para
pronto emprego ou para uso num
prazo mais longo.
Por último, existem as forças
navais ocidentais de prontidão no
mar Arábico e no mar Vermelho,
nucleadas em porta-aviões. Em
geral há um dos gigantes porta-aviões americanos de 90 mil toneladas e cerca de 85 aeronaves em
cada um desses mares.
Os maiores navios de guerra europeus também foram destacados -ou ainda se encontram-
na região: o porta-aviões nuclear
francês Charles de Gaulle (40 mil
toneladas e 40 aeronaves), o britânico HMS Ocean (21.750 toneladas e 18 aeronaves) e o italiano
Giuseppe Garibaldi (13.370 toneladas e 16 aeronaves).
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