São Paulo, segunda-feira, 07 de julho de 2008

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Drogas, livre comércio e Caracas apertam laço entre Colômbia e EUA

ADRIANA KÜCHLER
DE BUENOS AIRES

A relação entre Colômbia e EUA continuará firme e forte para além de uma possível derrota das Farc, debilitadas após o resgate de Ingrid Betancourt e outros 14 prisioneiros na última quarta, por abarcar outras questões cruciais para os dois países: o narcotráfico, acordos comerciais e a neutralização da Venezuela no continente.
A política de segurança do presidente colombiano, Alvaro Uribe, e os EUA, que viram seus investimentos militares no Plano Colômbia darem frutos, são os vencedores dessa batalha. "O fato de tanto John McCain quanto Barack Obama [candidatos da situação e da oposição à Presidência dos EUA] terem apoiado a ação de Uribe mostra que o plano deve continuar", diz o analista argentino Jorge Castro, diretor do Instituto de Planejamento Estratégico.
Mas a razão para a continuidade seria a mesma que impulsionou a criação do plano em 2000, sob Bill Clinton: o narcotráfico. A Colômbia é o maior produtor mundial de cocaína, e os EUA vêem aí um problema para a sua segurança nacional.
Com a ajuda americana, os colombianos vêm empregando diversas ações para reduzir a produção e a comercialização de drogas, como fumigações, prisões de narcotraficantes e incentivo a cultivos alternativos, sem sucesso.
"Apesar do êxito tanto na desmobilização de paramilitares envolvidos no narcotráfico quanto na redução das áreas de plantio, os narcotraficantes desenvolveram formas de aumentar a produtividade das plantações de coca", diz Castro.
Os relatórios mais recentes, entretanto, dão conta de um aumento na área de plantio. Além disso, apesar dos US$ 5 bilhões já investidos pelos EUA na Colômbia, o lucro do narcotráfico também é significativo e cria outro obstáculo, sua "capacidade de corrupção".
"Até um agregado militar americano em serviço já foi descoberto na Colômbia enviando drogas aos EUA", exemplifica o analista chileno Raúl Sohr. "Além disso, a Colômbia tem uma tradição de "bandoleirismo". Antes das Farc, eram os poderosos traficantes de esmeralda. É uma tendência difícil de erradicar", diz Sohr.

Acordos comerciais
Se o principal interesse dos EUA na região é combater o narcotráfico, para a Colômbia, o mais importante agora é aprovar o Tratado de Livre Comércio com os americanos, travado no Congresso dos EUA pela majoritária oposição democrata. "O sucesso da operação pode facilitar a aprovação. Esse deve ser o impacto mais imediato na relação entre os dois países", diz Jorge Castro.
"A Colômbia sabe que é importante se relacionar bem com os EUA para ter projeção internacional e vê o TLC como uma forma de atrair investimentos estrangeiros", destaca.
Dos US$ 5 bilhões vindos dos EUA desde 2000, 30% foram voltados ao desenvolvimento do país e 70% destinados a gastos militares. No entanto, as Forças Armadas colombianas não estariam tão bem preparadas quanto se imagina.
Segundo Sohr, o Exército tem ótimos helicópteros, essenciais para buscas e combates na selva, mas a Força Aérea e a Marinha estariam pouco armadas. "Com as compras de armas e submarinos que está fazendo na Rússia, em pouco tempo, a Venezuela vai ter forças muito mais modernas e potentes do que as que a Colômbia levou anos para equipar."
A Venezuela é elemento-chave na equação. A Colômbia é para os EUA um contraponto à hostilidade de Caracas -assim, outra vitória do eixo Bogotá-Washington é que o presidente Hugo Chávez tenha saído em baixa do episódio. Para Sohr, "Chávez considerava as Farc em linha com seu movimento bolivariano e levou um golpe tão grande quanto a guerrilha".
Nas últimas semanas, no entanto, o venezuelano baixou o tom e, assim como o ex-ditador cubano Fidel Castro, já chamou a guerrilha a depor armas. "Além de estarem frustrados com as Farc, eles viram que, ao apoiarem o grupo, poderiam criar uma desculpa para uma maior intervenção dos EUA na região", afirma Sohr. "E acharam melhor não dar motivo."


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