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Drogas, livre comércio e Caracas apertam laço entre Colômbia e EUA
ADRIANA KÜCHLER
DE BUENOS AIRES
A relação entre Colômbia e
EUA continuará firme e forte
para além de uma possível derrota das Farc, debilitadas após
o resgate de Ingrid Betancourt
e outros 14 prisioneiros na última quarta, por abarcar outras
questões cruciais para os dois
países: o narcotráfico, acordos
comerciais e a neutralização da
Venezuela no continente.
A política de segurança do
presidente colombiano, Alvaro
Uribe, e os EUA, que viram seus
investimentos militares no Plano Colômbia darem frutos, são
os vencedores dessa batalha. "O
fato de tanto John McCain
quanto Barack Obama [candidatos da situação e da oposição
à Presidência dos EUA] terem
apoiado a ação de Uribe mostra
que o plano deve continuar",
diz o analista argentino Jorge
Castro, diretor do Instituto de
Planejamento Estratégico.
Mas a razão para a continuidade seria a mesma que impulsionou a criação do plano em
2000, sob Bill Clinton: o narcotráfico. A Colômbia é o maior
produtor mundial de cocaína, e
os EUA vêem aí um problema
para a sua segurança nacional.
Com a ajuda americana, os
colombianos vêm empregando
diversas ações para reduzir a
produção e a comercialização
de drogas, como fumigações,
prisões de narcotraficantes e
incentivo a cultivos alternativos, sem sucesso.
"Apesar do êxito tanto na
desmobilização de paramilitares envolvidos no narcotráfico
quanto na redução das áreas de
plantio, os narcotraficantes desenvolveram formas de aumentar a produtividade das
plantações de coca", diz Castro.
Os relatórios mais recentes,
entretanto, dão conta de um
aumento na área de plantio.
Além disso, apesar dos US$ 5
bilhões já investidos pelos EUA
na Colômbia, o lucro do narcotráfico também é significativo e
cria outro obstáculo, sua "capacidade de corrupção".
"Até um agregado militar
americano em serviço já foi
descoberto na Colômbia enviando drogas aos EUA", exemplifica o analista chileno Raúl
Sohr. "Além disso, a Colômbia
tem uma tradição de "bandoleirismo". Antes das Farc, eram os
poderosos traficantes de esmeralda. É uma tendência difícil
de erradicar", diz Sohr.
Acordos comerciais
Se o principal interesse dos
EUA na região é combater o
narcotráfico, para a Colômbia,
o mais importante agora é
aprovar o Tratado de Livre Comércio com os americanos, travado no Congresso dos EUA
pela majoritária oposição democrata. "O sucesso da operação pode facilitar a aprovação.
Esse deve ser o impacto mais
imediato na relação entre os
dois países", diz Jorge Castro.
"A Colômbia sabe que é importante se relacionar bem
com os EUA para ter projeção
internacional e vê o TLC como
uma forma de atrair investimentos estrangeiros", destaca.
Dos US$ 5 bilhões vindos dos
EUA desde 2000, 30% foram
voltados ao desenvolvimento
do país e 70% destinados a gastos militares. No entanto, as
Forças Armadas colombianas
não estariam tão bem preparadas quanto se imagina.
Segundo Sohr, o Exército
tem ótimos helicópteros, essenciais para buscas e combates na selva, mas a Força Aérea
e a Marinha estariam pouco armadas. "Com as compras de armas e submarinos que está fazendo na Rússia, em pouco tempo, a Venezuela vai ter forças muito mais modernas e potentes do que as que a Colômbia levou anos para equipar."
A Venezuela é elemento-chave na equação. A Colômbia é
para os EUA um contraponto à
hostilidade de Caracas -assim,
outra vitória do eixo Bogotá-Washington é que o presidente
Hugo Chávez tenha saído em
baixa do episódio. Para Sohr,
"Chávez considerava as Farc
em linha com seu movimento
bolivariano e levou um golpe
tão grande quanto a guerrilha".
Nas últimas semanas, no entanto, o venezuelano baixou o
tom e, assim como o ex-ditador
cubano Fidel Castro, já chamou
a guerrilha a depor armas.
"Além de estarem frustrados
com as Farc, eles viram que, ao
apoiarem o grupo, poderiam
criar uma desculpa para uma
maior intervenção dos EUA na
região", afirma Sohr. "E acharam melhor não dar motivo."
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