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Morales pede unidade em dia da pátria, mas é barrado em festa
Clima hostil impede presidente de ir a Sucre, palco usual de festejo; em La Paz, ele afirma que bolivianos não são mais "povo mendigo"
Morales também é impedido de desembarcar em Santa Cruz; tensão leva OEA a pedir apoio ao
referendo deste domingo
DA REDAÇÃO
A festa nacional dos 183 anos
de independência da Bolívia foi
celebrada ontem sob a sombra
da tensão política e social que
aflige o país, a quatro dias do referendo revogatório que poderá confirmar ou retirar do poder o presidente Evo Morales e
oito governadores.
Indicando os limites que a
oposição vem impondo à movimentação do presidente pelo
território nacional, Morales fez
seu discurso comemorativo pela manhã em La Paz, depois que
a hostilidade local forçou o cancelamento do ato em Sucre, o
palco tradicional da festa.
À tarde, Morales foi impedido de desembarcar em Santa
Cruz, o mais rico departamento boliviano, depois que manifestantes ligados ao comitê cívico -que reúne a elite política
e econômica local- cercaram o
aeroporto de El Trompillo, informou o porta-voz Ivan Canelas à agência Reuters.
Na fala de 20 minutos em La
Paz, o presidente pediu unidade no país para alavancar o
"processo de mudanças". Disse
que a Bolívia "vai bem" e pediu
aos opositores que respeitem o
referendo de domingo.
"Alguns não querem se submeter ao povo, só querem se
submeter ao império [alusão
aos EUA]. A Bolívia deixou de
ser um povo mendigo para se
converter em um com muita
dignidade", afirmou.
Pesquisas indicam que Morales deve ser mantido no cargo. Apesar da crise política, ele
tem se beneficiado da folga de
caixa proporcionada pelo aumento da arrecadação. Depois
das nacionalizações no setor de
gás natural -que atingiram a
Petrobras-, a Bolívia passou a
ter superávit fiscal.
A revista "The Economist"
estima que o gasto público boliviano tenha passado de 34% do
PIB em 2005 para 42% em
2007, mesmo com o superávit.
Parte do dinheiro alimenta
programas assistenciais inspirados no Bolsa Família brasileiro. Também houve aumento do
salário mínimo, mas num país
de tantas carências -o mais pobre da América do Sul-, setores sociais aliados de Morales
disputam a ajuda do Estado.
Caminho tenso
Ontem, o secretário-geral da
Organização dos Estados Americanos (OEA), José Miguel Insulza, expressou "profunda
preocupação" com a Bolívia.
"A situação de violência, confrontações e graves desacordos
políticos pode impedir que a
crise política atual encontre um
caminho pacífico para sua solução", disse em nota. Ele pediu
colaboração com o referendo.
A tensão continuava alta em
Caihuasi, onde confrontos entre policiais e mineiros mataram duas pessoas e deixaram
46 feridos na terça. Os mineiros
protestam contra a rejeição de
um projeto de reforma previdenciária que o governo diz ser
inexequível, mas não houve novos choques.
Apesar de acusar o governo
de impedir a realização de uma
sessão de honra do Senado em
Sucre, a oposição manteve sua
festa de independência na cidade. Sucre é considerada capital
histórica da Bolívia, abriga o
Judiciário e disputa com La Paz
a capitalidade plena. O presidente do Senado, Óscar Ortiz, e
a governadora Savina Cuéllar,
ambos opositores, participaram de um desfile cívico.
Já o governo disse que "matadores contratados por pessoas que se vêem afetadas por
um cenário adverso" atacaram
o ministro Juan Ramón Quintana, em Trinidad, departamento de Beni (noroeste) anteontem. O carro estava vazio
quando foi alvo de três tiros.
Com agências internacionais
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