São Paulo, quinta-feira, 07 de agosto de 2008

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Morales pede unidade em dia da pátria, mas é barrado em festa

Clima hostil impede presidente de ir a Sucre, palco usual de festejo; em La Paz, ele afirma que bolivianos não são mais "povo mendigo"

Morales também é impedido de desembarcar em Santa Cruz; tensão leva OEA a pedir apoio ao referendo deste domingo


DA REDAÇÃO

A festa nacional dos 183 anos de independência da Bolívia foi celebrada ontem sob a sombra da tensão política e social que aflige o país, a quatro dias do referendo revogatório que poderá confirmar ou retirar do poder o presidente Evo Morales e oito governadores.
Indicando os limites que a oposição vem impondo à movimentação do presidente pelo território nacional, Morales fez seu discurso comemorativo pela manhã em La Paz, depois que a hostilidade local forçou o cancelamento do ato em Sucre, o palco tradicional da festa.
À tarde, Morales foi impedido de desembarcar em Santa Cruz, o mais rico departamento boliviano, depois que manifestantes ligados ao comitê cívico -que reúne a elite política e econômica local- cercaram o aeroporto de El Trompillo, informou o porta-voz Ivan Canelas à agência Reuters.
Na fala de 20 minutos em La Paz, o presidente pediu unidade no país para alavancar o "processo de mudanças". Disse que a Bolívia "vai bem" e pediu aos opositores que respeitem o referendo de domingo.
"Alguns não querem se submeter ao povo, só querem se submeter ao império [alusão aos EUA]. A Bolívia deixou de ser um povo mendigo para se converter em um com muita dignidade", afirmou.
Pesquisas indicam que Morales deve ser mantido no cargo. Apesar da crise política, ele tem se beneficiado da folga de caixa proporcionada pelo aumento da arrecadação. Depois das nacionalizações no setor de gás natural -que atingiram a Petrobras-, a Bolívia passou a ter superávit fiscal.
A revista "The Economist" estima que o gasto público boliviano tenha passado de 34% do PIB em 2005 para 42% em 2007, mesmo com o superávit. Parte do dinheiro alimenta programas assistenciais inspirados no Bolsa Família brasileiro. Também houve aumento do salário mínimo, mas num país de tantas carências -o mais pobre da América do Sul-, setores sociais aliados de Morales disputam a ajuda do Estado.

Caminho tenso
Ontem, o secretário-geral da Organização dos Estados Americanos (OEA), José Miguel Insulza, expressou "profunda preocupação" com a Bolívia.
"A situação de violência, confrontações e graves desacordos políticos pode impedir que a crise política atual encontre um caminho pacífico para sua solução", disse em nota. Ele pediu colaboração com o referendo.
A tensão continuava alta em Caihuasi, onde confrontos entre policiais e mineiros mataram duas pessoas e deixaram 46 feridos na terça. Os mineiros protestam contra a rejeição de um projeto de reforma previdenciária que o governo diz ser inexequível, mas não houve novos choques.
Apesar de acusar o governo de impedir a realização de uma sessão de honra do Senado em Sucre, a oposição manteve sua festa de independência na cidade. Sucre é considerada capital histórica da Bolívia, abriga o Judiciário e disputa com La Paz a capitalidade plena. O presidente do Senado, Óscar Ortiz, e a governadora Savina Cuéllar, ambos opositores, participaram de um desfile cívico.
Já o governo disse que "matadores contratados por pessoas que se vêem afetadas por um cenário adverso" atacaram o ministro Juan Ramón Quintana, em Trinidad, departamento de Beni (noroeste) anteontem. O carro estava vazio quando foi alvo de três tiros.


Com agências internacionais


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