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ANÁLISE
Crise revela falta de rumo político
SÉRGIO MALBERGIER
EDITOR DE MUNDO
O pedido de renúncia de Abu
Mazen é o sinal mais claro até
aqui do fracasso do novo plano de
paz. Mais do que isso, revela a falta de rumo da política palestina
desde o início da desastrada Intifada, a revolta contra a ocupação
israelense, em setembro de 2000.
O presidente da Autoridade Nacional Palestina (ANP), Iasser
Arafat, acreditava que a dura reação israelense à revolta levaria a
comunidade internacional a pressionar Israel por mais concessões
na busca de um acordo de paz definitivo. Mas esse apoio não veio.
E, após o 11 de Setembro, cresceu
ainda mais a repulsa mundial a
atos terroristas.
A persistência dos atentados e
as respostas israelenses instauraram um pavoroso ciclo de violência que endureceu as posições dos
dois lados. Israel hoje oferece
muito menos aos palestinos do
que ofereceu a Arafat pouco antes
do início da Intifada. E a hiperpotência americana, hegemônica no
Oriente Médio após a ocupação
do Iraque, favorece mais do que
nunca seu aliado Israel.
O presidente George W. Bush
tem horror a Arafat -nunca o recebeu na Casa Branca -, enquanto nutre uma amizade pessoal com o premiê israelense,
Ariel Sharon. Boa parte dos principais assessores de Bush são ferrenhos defensores de Israel. Assim como a poderosa comunidade cristã evangélica, cada vez mais
influente dentro do Partido Republicano de Bush. De olho nas eleições presidenciais de 2004, tanto
democratas quanto republicanos
cortejam o apoio judaico. Isso tudo é péssimo para os palestinos.
Nada acontece hoje no Oriente
Médio sem o aval de Washington.
Isolado, acuado pelas ações militares israelenses e acusado de
apoiar ou, no mínimo, não combater o terror, Arafat teve de aceitar as pressões de EUA e Israel e
ceder poder. Em fevereiro último,
o cargo de premiê foi criado.
O moderado Mazen, antigo
aliado de Arafat, que vinha criticando a violência terrorista e a sua
ineficácia como arma política, foi
eleito pelo Parlamento em 30 de
abril. A razão de ser de seu governo era a implementação do novo
plano de paz para a região, formulado por EUA, União Européia,
Rússia e ONU (o chamado Quarteto), que previa o fim imediato
da violência e a criação de um Estado palestino em 2005.
No pomposo lançamento do
plano, na Jordânia, em 4 de junho,
Mazen defendeu, diante de Bush e
Sharon, o fim do terrorismo e a
volta à mesa de negociação.
O ponto-chave de seu discurso
era a necessidade de os palestinos
atuarem com uma só voz e estratégia política, a de seu governo.
Para alcançar tal objetivo, tinha
dois desafios extraordinários:
convencer os grupos terroristas a
cessarem seus ataques contra Israel e Arafat, líder histórico da
causa palestina, a ceder o comando das negociações e das forças de
segurança palestinas.
Depois de um início auspicioso,
com uma trégua anunciada pelos
terroristas no final de junho, fracassou em ambos.
Israel, que poderia fortalecê-lo
com concessões, limitou-se a libertar alguns prisioneiros e a desmantelar pequenas colônias ilegais. Pior, seguiu fazendo operações contra os grupos terroristas.
O golpe final no novo plano de
paz veio com o atentado suicida
do Hamas em Jerusalém, em 19 de
agosto, que matou 22 israelenses.
Mazen abandonou o discurso de
que não atacaria os terroristas para não gerar uma guerra civil palestina e prometeu confrontá-los.
Mas Israel não o esperou agir e
iniciou uma série de ataques contra líderes do Hamas, disparando
mísseis de helicópteros contra alvos dentro da populosa faixa de
Gaza, causando a morte de cidadãos não ligados ao grupo.
Mazen, fraco politicamente, ficou ainda mais suscetível a acusações de que era um capacho de Israel e EUA, escalado para combater os terroristas. Sem o controle
das forças palestinas, foi ao Parlamento pedir mais apoio, ameaçando renunciar. Não conseguiu.
Seu pedido de renúncia mostra
como será difícil aos palestinos
quebrar a lógica do terror. Os terroristas suicidas são glorificados
diariamente na mídia, dando nome a escolas e torneios de futebol.
A única fonte de esperança é o
desejo da maioria dos palestinos,
conforme pesquisas, de que a violência cesse e suas vidas, arrasadas pelas draconianas medidas
antiterror de Israel, retomem alguma normalidade. Mas como
transformar esse desejo em força
política forte segue o maior desafio, não conquistado por Mazen.
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