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11.09 - DOIS ANOS QUE MUDARAM O MUNDO
Traumatizada pelo 11 de Setembro, cidade procura ajuda psicológica à espera de um novo ataque enquanto vê economia estagnar
Agora, nervos atacam Nova York
ROBERTO DIAS
DE NOVA YORK
O medo da população não cede.
A procura de ajuda psicológica
cresce. As pessoas sofrem com
problemas respiratórios e ainda
descobrem que foram enganadas
pelo governo. A economia passou
de mal a pior. No buraco que restou, poucos sinais visíveis de mudança.
Dois anos após ter sido o alvo
principal do maior ataque da história americana, Nova York padece com uma cicatriz não-curada,
aberta quando dois aviões sequestrados foram usados para
destruir as torres do World Trade
Center.
O tamanho do trauma é dado
por uma pesquisa divulgada na
última semana: 69% dos nova-iorquinos acreditam que possam
sofrer novo ataque terrorista em,
no máximo, um ano. Já a persistência do trauma é mostrada por
uma comparação: o número está
em empate técnico com o verificado no ano passado, em pesquisa semelhante (75%). "O medo
ainda está lá. Ele foi incorporado
nas nossas vidas", explica Julie
Weprin, do instituto Blum & Weprin, que fez o levantamento.
Ar impróprio
Um quinto da população se
lembra dos ataques todos os dias.
Mas uma parcela desconhecida
ainda hoje sofre fisicamente por
causa daquele 11 de setembro de
2001: a poeira que tomou a parte
sul de Manhattan nos dias seguintes afetou o sistema respiratório
de muitas pessoas que moravam
ou trabalhavam na região.
A única coisa que se sabe é que o
problema não é pequeno. Por
causa disso, a prefeitura nova-iorquina lançou anteontem um programa pedindo a todos os que estavam lá naqueles dias que se registrem em um cadastro especial.
Terão sua saúde monitorada pelos próximos 20 anos.
O pior, porém, é que a ação da
prefeitura ocorre dias depois de
os nova-iorquinos descobrirem
que a Casa Branca manipulou um
relatório sobre a qualidade do ar,
de forma a incentivar que as pessoas voltassem a trabalhar na região nos dias seguintes.
"Quando a EPA [a agência ambiental americana] anunciou em
18 de setembro [de 2001] que era
seguro respirar aquele ar, não havia dados suficientes para afirmar
isso", diz um recém-divulgado relatório interno da agência. Meses
depois do ataque, a EPA expôs ratos à poeira do Ground Zero.
Comprovou que respirá-la não
era nada saudável. Calcula-se que
200 mil pessoas o tenham feito.
Há indicações também de que o
grupo diretamente afetado pelo
ataque -como as famílias de vítimas- passa por sérios problemas. O mais conhecido serviço
público de aconselhamento psicológico da cidade viu o número
de pedidos de ajuda pular de
3.000 para 5.800 mensais após o
ataque. Só que, com o 11 de Setembro cada vez mais distante, o
número não só não retrocedeu
como continua a aumentar. A
média deste ano está em 6.400.
"Isso não é surpresa para pessoas que estudam desastres. Para
muitos das que foram diretamente afetadas, o primeiro ano é para
lidar com necessidades básicas.
Algumas têm de achar novos empregos, outras têm de reorientar
sua vida, talvez tenham de lidar
com advogados. Em algum ponto
depois, reconhecem que, emocionalmente, ainda têm problema",
diz John Draper, diretor da Lifenet, que opera o serviço.
Sobre a economia, sabia-se havia tempos que ela estava mal
-na verdade, os atentados pioraram uma situação já ruim. A novidade é que o efeito foi ainda pior
que o imaginado.
No primeiro aniversário do
atentado, no ano passado, a Controladoria de Nova York calculara
que os atentados teria sido responsáveis pelo desaparecimento
de US$ 16 bilhões da economia local em 2002. Neste mês, apresentou a conta real: US$ 18 bilhões. A
estimativa de perda para este ano
pulou de US$ 19 bilhões para US$
25 bilhões (mais de 5% do que seria o PIB nova-iorquino).
"Acredito que os efeitos do 11 de
Setembro sejam piores que o estimado porque o sentimento de
medo não foi embora", aponta
John Tepper Marlin, economista-chefe da Controladoria, acrescentando que outros fatores, a seguir,
agravaram a situação -cita as
fraudes de Wall Street e a Guerra
do Iraque.
Em sua opinião, a situação só
será alterada depois que a cidade
decidir o que fazer com a área do
WTC. "Penso que os aspectos físicos e espirituais estarão resolvidos nos próximos meses, e 2004
trará recuperação para a cidade."
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