São Paulo, domingo, 07 de setembro de 2003 |
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"Não sinto mais medo da morte", diz sobrevivente
DE NOVA YORK
O dia - "Eu tinha uma reunião às
7h30 e estava lá um pouco mais
cedo, porque tinha de me preparar. O escritório não ficava cheio
até as 9h, 9h15, quando as pessoas
começavam a aparecer." O ataque - "Estava sentado na
minha mesa fazia uns 15 minutos.
Do nada, veio um "bum". O prédio
balançou bastante. Foi como uma
pessoa te pegando pelo ombro e
te chacoalhando." A reação - "A primeira coisa que
me veio à cabeça foi a bomba de
1993 [outro ataque terrorista ao
prédio]. Aí passou pela minha cabeça o que poderia atingi-lo tão
alto. A seguir, que poderia ser
uma explosão de gás no alto do
prédio. Imediatamente pensei:
"Será que isso vai cair?". Quando
percebi que não, olhei pela janela
e vi milhares de folhas de papel e
de metal caindo do céu." A fuga - "Peguei minha carteira,
minha chave e meu Palm Pilot e
fui para a escada. Você nunca sabe onde as escadas ficam até
acontecer uma emergência." A descida - "A escada tinha a largura de duas pessoas. Havia água
descendo de cima. Era surpreendentemente calmo porque a gente
não sabia o que tinha acontecido
ainda. Alguém disse: "Um avião
atingiu o prédio". Mas, claro, ninguém podia confirmar. A coisa
mais maluca que eu vi foi uma
mulher que tinha uma lojinha
dois andares acima falando que
tinha deixado a caixa registradora
aberta. Eu disse a ela: "Acho que
ninguém vai pegar"." Dificuldades - "Em algum momento começou a aparecer fumaça na escada. Não muita, um pouco. Algumas pessoas cobriam a
boca, mas eu estava ok. Vinha
muita água de cima, era como um
rio. Quando cheguei ao que acredito que fosse o nono andar, o sistema antiincêndio [de onde ele
estava] disparou. Mais um pouco
adiante, encontramos os bombeiros que vinham entrando. Então
tivemos de encostar no lado das
escadas para deixá-los ir. Eles pareciam preocupados." A saída - "Demorei mais ou menos 25 minutos para chegar embaixo. Era uma saída no lobby, e
eu olhava para a praça, onde ficava aquele globo de metal. Era a
coisa mais estranha que eu já vi. O
céu estava amarelo por causa da
fumaça, parecia o Armagedon.
Era estranho, havia coisas queimando no chão. Era um dia bonito aquele. Num dia assim, aquela
praça estaria cheia de gente. Vê-la
completamente vazia é tão incomum. Havia muito vidro caindo.
Eu ainda não tinha nenhuma
idéia sobre o outro prédio." Disparada - "Quando cheguei à
porta, parei por um segundo, tomei fôlego e corri tão rápido
quanto pude, porque não queria
ser atingido por nada." Pulo para a morte - "Quando estava mais afastado, parei e olhei
para a entrada do WTC e vi várias
pessoas que pularam do alto caindo no chão. Você vê a pessoa movendo o braço lentamente e então
"bum". Alguém gritou: "Meu Deus!
É uma pessoa!". Fiquei ali por alguns segundos, vi vários corpos
atingido o chão, caindo de cem
andares. Vamos dizer que você
não fica em um pedaço só. É um
barulho horrível." Para casa - "Eu vivia no West Village. Comecei a andar. Uns 400
metros depois, ouvi alguém falando que havia uma bomba no segundo prédio. Então percebi que
ele também fora atingido." A queda - "Quando estava entre
a rua Bleecker e a Sétima Avenida,
o primeiro prédio caiu. Havia gritos, eu corri para a avenida e perguntei: "O que aconteceu?". Aí disseram: "Um dos prédios caiu". Eu
fui para a Sexta Avenida. Estava
conversando com uma pessoa
que trabalhava comigo, e aí vimos
o segundo prédio caindo." Notícias - "Comecei a entrar pela
cidade, e alguém estava no carro
com o rádio ligado. Foi quando
ouvi que o Pentágono também
havia sido atingido." Mortos - "[Morreram] pessoas
que eu conheci no passado. Mas
não eram meus amigos. Da Lehman, uma pessoa morreu. Cobrança - "Depois que tudo
aconteceu, uma ou duas pessoas
me xingaram porque eu me livrei
e não ajudei ninguém. Eu disse:
"Eu não encontrei ninguém que
precisasse da minha ajuda"." Os dias seguintes - "Eu não trabalhei por sete semanas. Só trabalhava na Lehman havia alguns
meses. Como era novo, não me
viam como alguém que tivesse de
estar lá no dia seguinte." O governo americano - "Houve
muitas ações tomadas em nome
do ataque. Mas você nunca sabe
se é realmente verdade o que nos
contam. E houve uma série de
coisas que passaram no Congresso, como o Patriot Act [medidas
antiterror que restringem liberdades civis], que eram, em alguma
medida, invasão de privacidade.
Claro, há coisas positivas e negativos nele, mas esse tipo de coisa
nunca teria passado antes de
eventos como esse." Mudança pessoal - "Eu digo que
não sinto mais medo da morte.
Estive muito perto dela. Só o fato
de ver alguém nos últimos segundos antes de atingir o chão e não
sobrar mais nada, isso muda sua
perspectiva. Filmes de horror que
antes me fariam ranger os dentes
não me assustam mais." |
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