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Novela da Turquia encanta mundo árabe
"Nour" mostra aventuras de casal apaixonado; trama com temas como aborto irrita líderes religiosos
BENJAMIN BARTHE
DO "MONDE", EM RAMALLAH
Um toque de recolher de gênero inédito está em vigor nos
territórios palestinos ocupados. Todos os dias, quando o relógio se aproxima das 22h, milhares de palestinas se apressam para voltar a suas casas. A
causa desse movimento de
massas é a transmissão da telenovela "Nour".
Produzida na Turquia, dublada em dialeto árabe sírio e
transmitida pela rede de TV
saudita via satélite MBC, essa
saga familiar em poucos meses
se converteu na nova série cult
das mulheres árabes.
Do Marrocos ao Iraque, milhares acompanham fascinadas
as vicissitudes de Nour e Mohannad, o casal dessa novela
cujo roteiro açucarado exibe ao
mesmo tempo luxo e poder.
"Ontem minha irmã me
mandou embora de sua casa
porque ia começar a novela",
conta Najwa, funcionária da
Autoridade Nacional Palestina
(ANP). "Todas as noites, não
posso colocar minha filha de
nove anos na cama antes do final da novela. As pessoas trocam imagens da novela pelo celular. Hoje já se vendem roupas
e até álbuns de férias com os retratos de Nour e Mohannad."
A bela morena e seu amado
loiro e alto, que provoca suspiros, fascinam as telespectadoras mais ainda pelo fato de seu
idílio acontecer em um contexto cultural que lhes é familiar.
O fenômeno é tão avassalador que, apesar dos cortes feitos pela MBC na versão original, o mufti (autoridade religiosa) da Arábia Saudita lançou
uma fatwa (decreto religioso)
contra a novela, considerando-a "aviltante".
Em Nablus, na Cisjordânia,
um xeque ligado ao grupo islâmico Hamas também criticou
as audácias da telenovela. Mas,
em Ramallah, Beirute ou Argel,
as reprimendas não têm efeito
sobre a "nourmania".
"Essa novela é genial porque
ela mostra as tradições que são
nossas, como o respeito pela família, e ao mesmo tempo nos
expõem a um modo de vida
mais ocidental", disse a estudante Nowar, de 19 anos, que se
derrete pelo belo Mohannad.
A novela mostrou uma mulher que abortou sem que seu
marido soubesse e outra que
decidiu criar seu filho fora do
casamento. O roteiro também
inclui cenas de intimidade
amorosa entre personagens
mais velhos, como o avô e sua
segunda esposa.
"O que agrada às mulheres é
o romantismo demonstrado
pelos homens nessa novela",
observa Hanan, uma mãe de família. "Isso é uma coisa que faz
muita falta no mundo árabe,
onde os homens acham que,
para serem viris, não podem
exprimir seus sentimentos."
Tradução de CLARA ALLAIN
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