|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ELEIÇÃO RUSSA
Apesar do desempenho, país depende demais do petróleo, e empresas são sufocadas pela burocracia e a corrupção
Economia cresce e vira trunfo de Putin
MARIE JÉGO
DO ""LE MONDE"
Cinco anos após a gigantesca
crise financeira, a Rússia parece
nunca ter estado tão bem, o que é
um dos principais trunfos do presidente Vladimir Putin na eleição
de hoje. Pela primeira vez em sua
história, o país apresenta taxa de
crescimento positiva (6,6%), uma
moeda estável, inflação sob controle, superávit de conta corrente
e uma reserva de divisas confortável. Por outro lado, embora o fluxo de investimentos externos tenha sido maior em 2003 do que
no passado, os capitais que entram ainda são insuficientes e se
concentram no setor petrolífero.
O crescimento russo é frágil.
Economicamente, o país continua dependente de um fator que
não controla: o preço do barril de
petróleo. Enquanto o petróleo iraquiano não voltar ao mercado e a
Opep continuar a frear a produção, o preço do barril deve permanecer elevado. Mas o que acontecerá se o preço do petróleo cair?
Os números de desempenho da
economia russa não devem ocultar o fato de que 12 grandes grupos produzem, sozinhos, 70% do
PIB. As pequenas e médias empresas têm dificuldade em se desenvolver num ambiente caracterizado pelo desprezo pela lei, por
decisões administrativas arbitrárias e pela corrupção.
""A burocracia consolidou consideravelmente suas posições,
comparada ao período soviético",
explica o sociólogo Igor Kliamkine. ""Pode-se afirmar que ela se
tornou a jogadora mais poderosa
nos mercados ilegais e corruptos.
A função pública se transformou
numa espécie de negócio privado.
Os empresários são forçados a
"comprar" seus direitos constitucionais dos burocratas."
O projeto político da ""ditadura
da lei", que vem sendo comentado sem parar desde a chegada de
Vladimir Putin ao Kremlin, em
2000, é elogiado pelas Chancelarias ocidentais, para as quais é sinal de uma retomada de controle
bem-vinda. Em lugar do capitalismo selvagem e corrupto da Presidência de Ieltsin, a Rússia de Putin estaria navegando em direção
à ordem e à prosperidade.
Apesar disso, 40 milhões de russos -ou seja, 25% da população
total- continuam a viver abaixo
do limite de pobreza (fixado pelo
Banco Mundial em menos de um
dólar por dia por pessoa).
Desaparecimento da imprensa
livre, Judiciário tutelado, chegada
aos cargos de comando de quadros da FSB (a antiga KGB) e do
Exército, tudo isso debilita o frágil
espaço democrático instalado
após o fim da União Soviética.
Em 1999, a campanha para a
eleição presidencial de março de
2000 foi colocada sob o signo da
""caça aos tchetchenos", que Vladimir Putin prometia ""liquidar
até nos banheiros". Agora, as eleições terão como pano de fundo a
""caça aos oligarcas" -megaempresários acusados de sonegação,
que financiam partidos de oposição. É sucesso garantido.
Tradução de Clara Allain
Texto Anterior: Eleição russa: Rússia vai às urnas para fortalecer Putin Próximo Texto: Pós-URSS: Democracia fracassa no espaço soviético Índice
|