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VIAGEM INSÓLITA
Intenção é trazer voluntários para projetos habitacionais
Favela vira atração em novo parque americano
LUCIANA COELHO
DA REDAÇÃO
Depois de cenário de filme e decoração de bares da moda, favela
agora é atração de parque temático nos Estados Unidos. O Global
Village & Discovery Center, em
Americus (Geórgia), que seria
inaugurado ontem, é uma espécie
de Epcot Center -o parque cultural da Disney World em Orlando. Mas, no lugar de lojas, restaurantes e atrações culturais representando outros países, o novo
parque tem como principal atrativo barracos e casas pobres de diferentes lugares do mundo.
Estranho? Pois além de "conhecer em primeira mão as condições
em que vivem as pessoas pobres
do mundo hoje em dia" -palavras do site do parque-, o visitante entusiasmado também pode aprender a... fabricar tijolos.
Peculiaridades à parte, a intenção é nobre. O parque, uma área
de 24,3 mil m2 a cerca de 190 km
ao sul de Atlanta que no passado
abrigava uma fazenda de amendoim, pertence à Habitat for Humanity International -um movimento cristão ecumênico que
tem como objetivo "eliminar a
pobreza habitacional" no mundo.
Para tanto, possui missões e
grupos de trabalho associados em
87 países, incluindo o Brasil, onde
constrói casas que são vendidas a
prestações para famílias carentes.
A renda é revertida para a construção de novas moradias.
"A idéia do Global Village veio
da necessidade de mostrarmos
como são as casas que construímos no mundo, e como são as casas em em que essas pessoas [para
quem construímos] viviam antes", disse à Folha David Minich,
51, diretor do parque.
"Moradias decentes"
O parque dispõe de apenas quatro atrações -um centro de visitantes, onde os turistas recebem
explicações sobre o projeto e as
áreas onde ele atua, um centro de
demonstração, onde aprendem a
fazer tijolos e telhas, e uma praça
com lojas e exposições. Mas o
grande atrativo é o vilarejo.
"É uma espécie de bairro onde
há barracos e casas, todos com piso de terra, feitos de papelão, tábuas ou barro, com furos na parede e no teto e vãos onde insetos se
instalam", disse Minich. "Logo ao
lado, há modelos das casas construídas com a ajuda da Habitat
-que são muito simples e pequenas, mas são moradias decentes."
Segundo ele, o objetivo é conquistar, entre os turistas, potenciais doadores e voluntários para
os projetos. "O importante é colocar as pessoas em ação, para produzir algo, depois que elas são
sensibilizadas por essa visão. Nós
as encorajamos a participar, doar
ou se oferecer como voluntários
por algumas semanas ou até meses", afirma.
Casa do Brasil
O vilarejo tem hoje 15 casas, cada uma representando um país.
"Como um barraco na Colômbia,
por exemplo, é bem diferente de
um em Hong Kong ou na Índia,
tentamos mostrar todos", afirma
Minich. Por enquanto, não há nenhuma que represente o Brasil.
"Ainda não a construímos, mas
pretendemos fazê-lo no ano que
vem. Por enquanto, a maioria é de
países da África -a única latino-americana é da Guatemala."
As coordenadas para montar a
favela do parque, segundo Minich, vieram de fotos e informações colhidas nos países onde a
Habitat atua. O material é similar
ao usado no "mundo real", e os
voluntários que participaram de
projetos de campo foram encarregados de dar maior realismo.
"Pretendíamos apenas construir um barraco para mostrar como as pessoas moravam, mas esses voluntários nos fizeram ver
que uma favela não é somente
uma série de barracos, é uma comunidade. As pessoas não apenas
moram lá, elas cortam o cabelo,
compram comida, se divertem."
Bom negócio
Segundo Minich, até agora foram investidos cerca de US$ 800
mil no parque, e as doações para o
projeto já chegam a US$ 900 mil.
Isso significa que o dinheiro arrecadado -as entradas custam
de US$ 3 a US$ 5- a partir daqui
será todo investido na construção
de casas.
E há, ainda, as doações. "Se você
doa US$ 10 para a construção de
casas na Índia, esse dinheiro será
usado em casas na Índia, não no
parque. As pessoas podem escolher com o que contribuir."
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