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Historiador usou arquivos do Itamaraty
DA EDITORA DE MUNDO
Para traçar a história do
governo Allende e suas ramificações regionais e hemisféricas, Moniz Bandeira teve acesso a documentos inéditos do arquivo do
Itamaraty, que mostram
os telegramas enviados
pelo embaixador brasileiro em Santiago, Antônio
Câmara Canto, um simpatizante dos golpistas, ao
governo do general Emílio
Garrastazu Médici.
Além da torcida pela
derrubada de Allende, os
documentos indicam que
o Brasil se envolveu diretamente já perto do golpe.
Primeiro, ajudando conspiradores ligados ao grupo
de extrema-direita Pátria
e Liberdade, que planejava
isolar o sul chileno do resto do país, na hipótese de
que houvesse guerra civil.
Depois, o Brasil reconheu rapidamente o regime militar, lhe deu ajuda
financeira e enviou agentes para interrogar os brasileiros presos em seguida
ao golpe -eram mais de
1.200 no país, na época,
dos quais pelo menos seis
foram mortos.
Também houve, segundo o livro, assessoria à
oposição chilena de empresários brasileiros, entre eles Glaycon de Paiva,
um dos fundadores do
IPES (Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais). Ele
teria recomendado a versão chilena das Marchas
da Família com Deus pela
Liberdade, em que mulheres de classe média e alta
saíam batendo panelas.
O livro também é baseado nos documentos sobre
o envolvimento do governo de Richard Nixon
(1969-1974) na preparação do golpe e no financiamento da oposição, incluindo tanto os do Relatório Church, da comissão
que investigou o caso no
Congresso americano,
quanto os desclassificados
posteriormente pela ONG
National Security Archive.
Está lá a famosa frase de
Henry Kissinger, secretário de Estado de Nixon, de
que os EUA não poderiam
"deixar um país se tornar
marxista só porque seu
povo é irresponsável". O
próprio título do livro é tirado de um memorando
do agente Henry Heckscher, chefe da estação da
CIA em Santiago.
Moniz Bandeira também usou fontes secundárias e relatos do período
feitas por seus protagonistas. Entrevistou alguns deles, incluindo Roberto
Thieme, genro de Pinochet e dirigente do Pátria e
Liberdade. "Ele me contou
que oficiais do alto comando da Marinha lhes deram
os planos de atentados terroristas praticados pelo
grupo, como o grande blecaute que atingiu todo o
Chile, em 1973", comenta
o historiador.
(CA)
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