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IRAQUE NA MIRA
Ditador se retrata por invasão do Kuait em 1990; Bagdá entrega dossiê e nega ter armas de destruição em massa
Saddam pede desculpas a kuaitianos
DA REDAÇÃO
O ditador iraquiano, Saddam
Hussein, divulgou uma carta ontem em que pedia desculpas aos
kuaitianos por ter invadido o
Kuait em 1990 e pedia que eles lutassem ao lado dos iraquianos
contra Exércitos estrangeiros. A
carta foi lida ao mesmo tempo em
que o Iraque entregava um dossiê
sobre seus programas químicos,
biológicos e nucleares a inspetores da ONU. O governo iraquiano
alegou novamente não possuir armas de destruição em massa.
"Pedimos desculpas a Deus por
qualquer ato que tenha provocado Sua ira no passado e tenha sido
atribuído a nós e, com base nisso,
pedimos desculpas a vocês", afirmava uma carta de Saddam dirigida à população kuaitiana e lida
pelo ministro da Informação do
Iraque, Mohammed Saeed, na TV
estatal iraquiana.
Em uma aparente referência à
presença militar americana no
Kuait, a declaração também exortava a população kuaitiana a se
unir ao Iraque na resistência à
ocupação por forças estrangeiras.
"Por que os fiéis, os devotos e os
guerreiros sagrados no Kuait não
se reúnem a seus colegas no Iraque sob o manto de seu criador
-em vez de sob o manto de Londres ou Washington ou da entidade sionista- para discutir suas
questões, no topo das quais está a
"guerra santa" contra a ocupação
por Exércitos infiéis?", dizia.
O presidente do Parlamento iraquiano, Jassem al Kharafi, criticou a carta. "O Kuait não dá nenhum peso ao discurso e o considera uma tentativa desesperada
de provocar dissensão entre seus
líderes e seu povo."
A resolução 1441 do Conselho
de Segurança da ONU, aprovada
em novembro, exigia que o Iraque entregasse um relatório "preciso, integral e completo" de seus
programas de armas até hoje.
O relatório entregue ontem tem
11.807 páginas, além de 352 páginas de adendos, e CD-ROMs com
um total de 529 megabytes de dados, segundo Bagdá.
A ONU confirmou ter recebido
os documentos no prazo estabelecido pela resolução.
"Declaramos que o Iraque não
tem armas de destruição em massa. O dossiê relata algumas atividades que têm uso duplo", disse
Hussam Mohammed Amin, responsável pelo documento, referindo-se a tecnologias que têm
aplicações pacíficas e militares.
"Se os EUA têm um nível mínimo
de justiça e bravura, aceitarão o
relatório", disse Amin.
Sob a resolução, omissões ou informações incorretas no relatório
podem ser julgadas pelo CS uma
violação das obrigações do Iraque, que pode então sofrer "sérias
consequências", possivelmente
uma ofensiva militar pelos EUA.
Washington já afirmou, contudo, que não citaria a violação como uma causa imediata para a
guerra, mas permitiria a continuação das inspeções da ONU enquanto busca novos aliados para
um ataque. O país segue enviando
tropas e armamentos à região do
golfo Pérsico.
"O governo dos EUA analisará
essa declaração no que diz respeito à sua credibilidade e à sua obediência [à resolução"", disse ontem o porta-voz da Casa Branca,
Ari Fleischer. "Continuaremos a
trabalhar com outros países para
atingir o objetivo de proteger a
paz dando fim à produção e ao
acúmulo de armas de destruição
em massa por Saddam."
A ONU deve levar semanas analisando os documentos.
Os EUA alegam que Bagdá tem
programas de armas químicas,
biológicas e nucleares, em desacordo com resoluções da ONU
aprovadas após a Guerra do Golfo
(1991), quando uma coalizão internacional liderada pelos EUA
expulsou tropas iraquianas do
Kuait, invadido em 1990.
Um alto funcionário do governo americano, que pediu para
não ser identificado, disse que os
EUA têm "provas substanciais"
de que o Iraque possui armas de
destruição em massa.
"Desde 1998, os serviços de inteligência obtiveram informações
que sugerem que alguns desses
programas não apenas continuam, mas também foram acelerados", afirmou ele anteontem,
sob a condição de que suas observações não fossem divulgadas antes de expirar o prazo para o Iraque entregar o relatório.
Após ser expulsos do Iraque em
1998, acusados de espionagem, os
inspetores retomaram seu trabalho no país no mês passado. Eles
dizem que Bagdá tem cooperado
com as inspeções e que já examinaram cerca de 20 locais suspeitos, incluindo um palácio presidencial de Saddam.
Os inspetores estiveram ontem
em um centro de pesquisa nuclear e no principal centro de pesquisa militar do país.
A declaração iraquiana será enviada hoje a Viena (Áustria), sede
da Agência Internacional de
Energia Atômica, e à ONU, com
sede em Nova York.
Amin disse que o relatório iraquiano também lista empresas e
países que ajudaram o Iraque no
passado a desenvolver armas de
destruição em massa.
O CS decidiu adiar a divulgação
do dossiê em até uma semana para permitir que os inspetores o
examinem em busca de segredos
militares que possam ajudar terceiros a desenvolver suas próprias
armas de destruição em massa.
Diplomatas disseram que pode
levar uma semana até que todos
os 15 membros do CS tenham
acesso ao documento. Os inspetores devem fazer um relatório final
ao CS até 26 de janeiro.
Com agências internacionais
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