São Paulo, domingo, 08 de dezembro de 2002

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IRAQUE NA MIRA

Ditador se retrata por invasão do Kuait em 1990; Bagdá entrega dossiê e nega ter armas de destruição em massa

Saddam pede desculpas a kuaitianos

DA REDAÇÃO

O ditador iraquiano, Saddam Hussein, divulgou uma carta ontem em que pedia desculpas aos kuaitianos por ter invadido o Kuait em 1990 e pedia que eles lutassem ao lado dos iraquianos contra Exércitos estrangeiros. A carta foi lida ao mesmo tempo em que o Iraque entregava um dossiê sobre seus programas químicos, biológicos e nucleares a inspetores da ONU. O governo iraquiano alegou novamente não possuir armas de destruição em massa.
"Pedimos desculpas a Deus por qualquer ato que tenha provocado Sua ira no passado e tenha sido atribuído a nós e, com base nisso, pedimos desculpas a vocês", afirmava uma carta de Saddam dirigida à população kuaitiana e lida pelo ministro da Informação do Iraque, Mohammed Saeed, na TV estatal iraquiana.
Em uma aparente referência à presença militar americana no Kuait, a declaração também exortava a população kuaitiana a se unir ao Iraque na resistência à ocupação por forças estrangeiras.
"Por que os fiéis, os devotos e os guerreiros sagrados no Kuait não se reúnem a seus colegas no Iraque sob o manto de seu criador -em vez de sob o manto de Londres ou Washington ou da entidade sionista- para discutir suas questões, no topo das quais está a "guerra santa" contra a ocupação por Exércitos infiéis?", dizia.
O presidente do Parlamento iraquiano, Jassem al Kharafi, criticou a carta. "O Kuait não dá nenhum peso ao discurso e o considera uma tentativa desesperada de provocar dissensão entre seus líderes e seu povo."
A resolução 1441 do Conselho de Segurança da ONU, aprovada em novembro, exigia que o Iraque entregasse um relatório "preciso, integral e completo" de seus programas de armas até hoje.
O relatório entregue ontem tem 11.807 páginas, além de 352 páginas de adendos, e CD-ROMs com um total de 529 megabytes de dados, segundo Bagdá.
A ONU confirmou ter recebido os documentos no prazo estabelecido pela resolução.
"Declaramos que o Iraque não tem armas de destruição em massa. O dossiê relata algumas atividades que têm uso duplo", disse Hussam Mohammed Amin, responsável pelo documento, referindo-se a tecnologias que têm aplicações pacíficas e militares. "Se os EUA têm um nível mínimo de justiça e bravura, aceitarão o relatório", disse Amin.
Sob a resolução, omissões ou informações incorretas no relatório podem ser julgadas pelo CS uma violação das obrigações do Iraque, que pode então sofrer "sérias consequências", possivelmente uma ofensiva militar pelos EUA.
Washington já afirmou, contudo, que não citaria a violação como uma causa imediata para a guerra, mas permitiria a continuação das inspeções da ONU enquanto busca novos aliados para um ataque. O país segue enviando tropas e armamentos à região do golfo Pérsico.
"O governo dos EUA analisará essa declaração no que diz respeito à sua credibilidade e à sua obediência [à resolução"", disse ontem o porta-voz da Casa Branca, Ari Fleischer. "Continuaremos a trabalhar com outros países para atingir o objetivo de proteger a paz dando fim à produção e ao acúmulo de armas de destruição em massa por Saddam."
A ONU deve levar semanas analisando os documentos.
Os EUA alegam que Bagdá tem programas de armas químicas, biológicas e nucleares, em desacordo com resoluções da ONU aprovadas após a Guerra do Golfo (1991), quando uma coalizão internacional liderada pelos EUA expulsou tropas iraquianas do Kuait, invadido em 1990.
Um alto funcionário do governo americano, que pediu para não ser identificado, disse que os EUA têm "provas substanciais" de que o Iraque possui armas de destruição em massa.
"Desde 1998, os serviços de inteligência obtiveram informações que sugerem que alguns desses programas não apenas continuam, mas também foram acelerados", afirmou ele anteontem, sob a condição de que suas observações não fossem divulgadas antes de expirar o prazo para o Iraque entregar o relatório.
Após ser expulsos do Iraque em 1998, acusados de espionagem, os inspetores retomaram seu trabalho no país no mês passado. Eles dizem que Bagdá tem cooperado com as inspeções e que já examinaram cerca de 20 locais suspeitos, incluindo um palácio presidencial de Saddam.
Os inspetores estiveram ontem em um centro de pesquisa nuclear e no principal centro de pesquisa militar do país.
A declaração iraquiana será enviada hoje a Viena (Áustria), sede da Agência Internacional de Energia Atômica, e à ONU, com sede em Nova York.
Amin disse que o relatório iraquiano também lista empresas e países que ajudaram o Iraque no passado a desenvolver armas de destruição em massa.
O CS decidiu adiar a divulgação do dossiê em até uma semana para permitir que os inspetores o examinem em busca de segredos militares que possam ajudar terceiros a desenvolver suas próprias armas de destruição em massa.
Diplomatas disseram que pode levar uma semana até que todos os 15 membros do CS tenham acesso ao documento. Os inspetores devem fazer um relatório final ao CS até 26 de janeiro.


Com agências internacionais


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