|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
"Tenho medo", diz presidente de sindicato
DA REPORTAGEM LOCAL
Quando o senador Joseph
McCarthy voltou a mira para
Hollywood, nos anos 50, seu principal alvo não foram os atores,
mas alguns poucos diretores e
muitos roteiristas, principalmente europeus fugidos do nazismo.
É por isso que a simples menção
de "lista negra" eriça os pêlos da
nuca da atual presidente do Writers Guild of America, entidade
sindical que reúne 9.000 roteiristas dos EUA que trabalham no cinema, na TV e na internet.
"Tenho medo", disse Victoria
Riskin em entrevista à Folha. Leia
trechos a seguir.
(SD)
Folha - A onda conservadora da
era Bush está fazendo suas primeiras vítimas na indústria cultural?
Victoria Riskin - Sim. Um grupo
de atores conhecidos, que acha
que os EUA devem dar tempo suficiente aos inspetores da ONU
para que façam seu trabalho, teve
muita exposição na mídia.
Isso causou uma reação na mesma medida, principalmente na
América mais profunda, que se
guia pelos apresentadores ultraconservadores de "talk shows" radiofônicos. Eles encorajaram os
ouvintes a escrever para as emissoras e os estúdios pedindo que
tais atores fossem demitidos.
Foi isso o que uniu a comunidade de Hollywood em torno da liberdade de expressão. Você pode
ser pró-guerra, contra a guerra ou
muito pelo contrário, mas a coisa
começa a preocupar quando pessoas se juntam para pedir cabeças.
Folha - Esses ouvintes são representativos da sociedade dos EUA?
Riskin - Sim. O que torna ainda
mais perigoso eles estarem promovendo uma lista negra...
Folha - Há mesmo o risco de volta
ao macarthismo, como diz o SGA?
Riskin - Não estamos nem perto,
mas qualquer coisa que lembre isso é muito perturbadora...
Folha - A sra. está com medo?
Riskin - Sim. Os estúdios e as
emissoras são controlados por
pessoas, que também têm suas
opiniões e sentimentos pessoais, e
não acredito que eles venham a
fazer um esforço coletivo para
atender aos pedidos das cartas e
dos e-mails. Acontece que eles
podem receber milhões de manifestações, e aí começo a ficar preocupada se olharem para aquela
pilha e pensarem na audiência e
nos anunciantes...
Folha - Qual a posição do Writers
Guild em relação a uma intervenção militar no Iraque?
Riskin - A organização não tem
posição, mas minha visão é que a
ONU é uma organização extremamente importante e eu gostaria que os EUA trabalhassem com
a comunidade internacional.
Texto Anterior: Críticos de Bush denunciam "caça às bruxas" Próximo Texto: Medo do declínio move EUA, diz Wallerstein Índice
|