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GIGANTE DESIGUAL
Atrás de mão-de-obra barata, cidades ignoram lei e aceitam empregar camponeses sem documentação
Migrantes chineses ilegais são tolerados
DE PEQUIM
O êxodo rural é dificultado na
China pelo sistema que exige o registro dos moradores de cada lugar nos órgãos de segurança pública locais. Cada habitante tem
sua carteira de residente, que lhe
permite matricular os filhos na escola e ter acesso aos serviços.
Até o ano passado, a polícia tinha o poder de prender pessoas
que se encontrassem em uma cidade sem autorização de residência. No fim do ano, a regra foi revogada. Além disso, os governos
locais adotam uma atitude cada
vez mais tolerante em relação aos
imigrantes, em razão da necessidade de mão-de-obra barata nas
centenas de obras nas cidades.
Wang Chunguan, sociólogo da
Academia Chinesa de Ciências
Sociais, estima que cerca de 100
milhões de chineses do campo
conseguiram furar o bloqueio do
cartão de residência.
Em conseqüência do relaxamento na fiscalização, é cada vez
maior o número de mendigos nas
grandes capitais -ainda que em
quantidade bem inferior ao que se
vê nas capitais brasileiras. Até para os que dependem da caridade,
a situação na cidade parece ser
melhor. "Se as pessoas têm mais
dinheiro, eu também posso ganhar mais dinheiro", afirma Cao
Jia Chun, tocador do clássico instrumento de cordas er hu.
Cao declara-se comunista e não
considera um problema o enriquecimento de uma parte reduzida da população. O mesmo raciocínio é feito por Liu Changhui, 37,
outra chinesa que trocou o campo
por Pequim, há três anos. Todas
as semanas, Liu volta à sua cidade
natal, na Província de Shangdong,
em busca de alho para vender em
feira da capital. Por mês, diz que
vende cerca de 5.000 quilos.
"Saí da minha cidade porque
faltava dinheiro." Casada e com
dois filhos, Liu diz ganhar o suficiente para sustentar os filhos e
pagar o aluguel do ponto na feira
(mil yuan ou R$ 340) e o da casa.
Chen Huixin, 42, não teve a
mesma sorte. Chen deixou sua vila na Província de Henan com outras 20 pessoas para trabalhar na
construção civil de Pequim. Dois
meses depois, diz que foi enganado pelo patrão: ganha apenas 120
yuan (R$ 40) por mês, menos do
que lhe havia sido proposto. Para
sobreviver, Chen recolhe entulho
pela cidade e o revende nas ruas.
"A vida das pessoas da cidade
melhorou muito, mas no campo
as coisas continuam iguais", afirma Chen. Apesar disso, ele pretende voltar para sua vila, onde
deixou a mulher e três filhos.
Cao, o músico, afirma que a
China continua a ser comunista,
apesar do aumento da desigualdade social. E toca "O Oriente
Vermelho", que homenageia Mao
Tsé-tung.
(CLÁUDIA TREVISAN)
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