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Morales faz de Lula seu "cabo eleitoral"
Discurso de brasileiro é usado no rádio como resposta à campanha da oposição, que pinta o boliviano como fantoche de Chávez
Lula tem imagem positiva até em regiões hostis a Morales, que amanhã põe seu mandato em jogo em um referendo revogatório
FLÁVIA MARREIRO
ENVIADA ESPECIAL A LA PAZ
Na campanha do referendo
revogatório no qual está em jogo amanhã o mandato do presidente boliviano, Evo Morales,
seu aliado estratégico venezuelano, Hugo Chávez, é a adaga. O
presidente Luiz Inácio Lula da
Silva, o escudo.
"Chávez manda, Evo cumpre" é um dos principais bordões da oposição, um trocadilho com o slogan do presidente
sobre o cumprimento de suas
promessas de campanha de
2005. A palavra de ordem está
no rádio, na TV e na boca de
quem vota contra Morales
-que, no entanto, segundo
pesquisas recentes e analistas,
deve ser ratificado.
A campanha da oposição,
apoiada em frases de Chávez,
diz que Morales quer transformar a Bolívia numa nova Venezuela ou Cuba. Afirma que os
cheques venezuelanos que o
presidente distribui às prefeituras são "esmolas" que fazem
o país dependente do "instável"
governo de Caracas.
Mas a influente rede de rádio
pública Pátria Nova contra-ataca, dizendo que os apoios internacionais de Morales vão além
de Chávez. Usa trechos de discurso de Lula -que é aclamado,
com reservas, até na oposicionista Santa Cruz, no leste e sob
forte influência brasileira.
"Gostaria de dizer ao companheiro Evo Morales, transmitir
meu sentimento mais profundo, a minha mais profunda alegria, quando vi o povo boliviano
eleger um índio para presidente", diz Lula num spot da rádio.
Não se menciona o nome do
brasileiro e há tradução.
O trecho foi retirado do discurso de Lula na visita a Riberalta, na região amazônica de
Beni, em 18 de julho. Foi um ato
de apoio a Morales em uma região ferrenhamente opositora
-o presidente foi impedido de
chegar a cinco dessas regiões
nesta semana.
Ao lado de Lula, estava Chávez. A presença do presidente
brasileiro, e o anúncio da cooperação para a construção de
uma estrada altiplano-Amazônia, funcionaram como escudo
para que não ocorresse o mesmo que em Tarija, na última
terça-feira, quando protestos
impediram o encontro do venezuelano e da argentina Cristina
Kirchner com Morales.
Na época da visita de Lula,
um Comitê Cívico de Beni chegou a ameaçar Chávez num comunicado distribuído até à
Embaixada do Brasil em La
Paz, que se reuniu com os líderes para acalmar os ânimos.
"Expressamos nosso repúdio
à descarada intenção de Chávez
de querer somar-se à visita do
presidente do Brasil", diz o texto, de 16 de julho. "Estaremos
atentos para tomar ações, se
persistir sua ingrata visita."
Apesar da ameaça, o encontro entre os presidentes ocorreu sem problemas.
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