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Paulista julga processos sobre massacres de 99
DO ENVIADO ESPECIAL A TIMOR LESTE
A juíza paulista Dora Aparecida
Martins de Morais acompanhou
pela imprensa, em 1999, as chacinas cometidas em Timor Leste
pelas milícias pró-Indonésia. Hoje ela julga, ao lado de cinco outros juízes, os criminosos.
A ONU criou em 2000 o Painel
de Crimes e dividiu os juízes em
dois grupos. Dora trabalha com
um juiz italiano e um timorense.
Há 350 pessoas em julgamento
por crimes contra a humanidade;
"65% dos réus estão na Indonésia", afirmou Dora em uma entrevista em seu escritório em Dili, no
final de outubro.
Dora nasceu em Botucatu, estudou direito em Bauru e, como juíza auxiliar da capital, trabalhava
na 2ª Vara da Família no Foro Regional de Jabaquara. Através da
sua militância na Associação Juízes para a Democracia, ficou sabendo que havia vaga para trabalhar em Timor Leste. Cedida pelo
Tribunal de Justiça de São Paulo,
chegou a Timor em março passado e deve ficar até dezembro. "Se
pudesse, continuaria por mais um
ano. O painel deve ir até 2005."
O trabalho é complexo, e as audiências podem ser muito longas,
necessitando às vezes três traduções dos depoimentos. Orelhas
cortadas, crianças esfaqueadas,
pessoas queimadas vivas, corpos
abandonados comidos pelos porcos. Os processos estão longe de
ser uma leitura agradável.
Um dos processos sob seus cuidados foi um caso famoso na época. Um bando de milicianos invadiu a casa, em Dili, de um político
influente, Manuel Carrascalão, de
uma família que chegou mesmo a
colaborar com os ocupantes indonésios. Em 17 de abril de 1999,
havia mais de cem refugiados na
casa; 12 morreram, incluindo o filho de Carrascalão, e muitos foram feridos.
"O Brasil tem tudo para colaborar com Timor na área judiciária",
diz ela, citando como exemplo a
área de defensoria pública. Uma
das carências do sistema judicial
do novo país é particularmente
curiosa: faltam advogados.
(RBN)
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