São Paulo, quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

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REVOLTA ÁRABE

Vice de ditador faz ameaça e atiça paralisações no Egito

Omar Suleiman diz que rejeição de promessas do governo levaria a "golpe'

Greves se espalham; em Suez, sede do canal de mesmo nome, 6.000 cruzam os braços, ameaçando o tráfego

MARCELO NINIO
ENVIADO ESPECIAL AO CAIRO

Sem conseguir esvaziar o movimento popular que pede a cabeça do ditador Hosni Mubarak, mesmo após fazer concessões que há duas semanas eram impensáveis, o regime egípcio formulou uma ameaça velada.
De acordo com o vice-presidente Omar Suleiman, a continuação dos protestos poderá levar a um "golpe".
A escalada retórica, porém, teve efeito nulo para conter a ampliação dos protestos, que ontem se estenderam bem além do Cairo e da revolta dos jovens que deflagraram o movimento.
Enquanto a manifestação na Tahrir, a praça central da capital, completava ontem 16 dias, atraindo um número cada vez maior de adeptos, milhares de trabalhadores entraram em greve em outras cidades do país, elevando a tensão e os riscos a uma economia já semiparalisada.
Numa demonstração de que o regime começa a perder a paciência com a insistência dos manifestantes na renúncia imediata do ditador Hosni Mubarak, Suleiman aconselhou-os a negociar ou encarar as consequências.
"Queremos evitar um golpe apressado e irracional", disse Suleiman em um encontro com editores de jornais egípcios na noite de terça. "O diálogo é a forma correta de alcançar a estabilidade de forma pacífica".
Nomeado vice-presidente no início da crise, ele abriu um inédito diálogo com a oposição no último domingo, mas as concessões feitas até agora foram consideradas vagas e insuficientes pelos manifestantes.

GREVE EM SUEZ
Na principal demanda, a renúncia imediata de Mubarak, o regime permanece irredutível. O máximo que admitiu até agora é que ele não concorrerá a mais um mandato na eleição de setembro.
Mubarak, que completa 83 anos em maio, está no poder desde 1981. Para o general Suleiman, exigir a renúncia do ditador "é um insulto não só ao presidente, mas a todos os egípcios".
Em tom de alerta, o general, que era comandante do temido serviço de inteligência do país, acrescentou que os protestos são "um perigo" para o Egito e que o regime não quer lidar com a sociedade por meio de "instrumentos policiais".
As palavras de Suleiman não dissolveram o impasse que se arrasta há mais de duas semanas e coincidiram com a volta da violência no país. Três manifestantes morreram ontem em choques com a polícia na província de Vale Novo, no sudoeste do Egito.
A ameaça de que os distúrbios ganhem alcance nacional voltou a se materializar, com a entrada em greve de milhares de trabalhadores.
Na ação mais significativa, cerca de 6.000 funcionários de empresas da Autoridade do Canal de Suez - componente fundamental da economia egípcia- estão de braços cruzados. Ainda não há registro de ruptura no tráfego do canal, crucial para a circulação de petroleiros.

Leia coluna de Clóvis Rossi
folha.com.br/pr873077



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