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ARTIGO
Ante derrota, Kremlin limita ação
MARY DEJEVSKY
DO "INDEPENDENT"
A eclosão de hostilidades entre Rússia e Geórgia na minúscula região da Ossétia do Sul
parece ter surgido do nada. Mas
a perspectiva de uma guerra
entre os dois é temida há anos.
A Revolução Rosa, que levou
Mikhail Saakashvili ao poder
na Geórgia em 2003, reabriu o
tema da integridade territorial.
Temendo que a Geórgia tentasse se impor à força, a Ossétia do
Sul e a Abkházia declararam independência unilateralmente.
Sem reconhecimento externo, os separatistas se voltaram
para a Rússia em busca de
apoio moral, que veio na forma
de "soldados de manutenção da
paz" na região. Seu propósito
declarado era proteger russos
étnicos, muitos dos quais têm
cidadania russa, ante o temor
de assimilação pela Geórgia.
Esses encraves têm sido fonte de irritação perpétua para o
governo georgiano. Mas o mesmo pode ser dito da posição
pró-Ocidente flagrante de Tbilisi ante a Rússia, que o acusa de
proteger separatistas tchetchenos. Os últimos meses testemunharam uma escalada retórica, juntamente com escaramuças esporádicas envolvendo
mísseis e vôos não autorizados.
Seria fácil interpretar o conflito que eclodiu anteontem como obra da Rússia grande e má,
ressentida da independência
da Geórgia e de sua crescente
aproximação do Ocidente.
Mas o que é certo e o que é errado se confunde, em muito
porque a Rússia reconhece a
Geórgia como Estado independente, com direito à integridade territorial. Tampouco há dúvida de que o confronto tenha
sido deflagrado pela Geórgia,
cujas forças entraram na Ossétia do Sul para reintegrá-la.
O momento, para o propósito
da Geórgia, era perfeito. A atenção do mundo estava voltada
para a Olimpíada de Pequim,
onde o atual premiê e ex-presidente russo Vladimir Putin,
que detém o poder de fato, era
convidado de honra. Seu sucessor, Dmitri Medvedev, estava
no comando, mas sua autoridade ainda não havia sido testada.
Se a Geórgia esperava uma
vitória rápida e precisa para recuperar o que vê como território perdido, pode ter errado
feio. As circunstâncias que tornavam o momento propício
também o faziam arriscado.
Muitos russos vêem na Geórgia, com seu Exército equipado
e treinado pelos EUA, nada
além de um procurador da intenção americana de assegurar
rotas energéticas. Eles não estão dispostos a ver seu país humilhado por "esnobes do sul".
Entre eles, Medvedev e Putin
têm seu trabalho limitado. Espalhar o conflito além da Ossétia do Sul -por exemplo, atacando Tbilisi- arriscaria inflamar as chamas da guerra e perder a vantagem moral que Moscou pode ter. Bater em retirada,
entretanto, faria da Ossétia do
Sul a mais recente de uma série
de perdas amargas.
Moscou não tem conseguido
deter os planos dos EUA para
instalar um escudo antimísseis
em sua fronteira e pôde apenas
assistir ao consenso ocidental
que trouxe à luz um Kosovo independente, contra a vontade
dos irmãos eslavos na Sérvia.
Com os russos étnicos na Geórgia sitiados, o Kremlin se vê
diante do risco de nova derrota.
NA FOLHA ONLINE -
www.folha.com.br/082212
especial sobre a Ossétia do Sul
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