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Putin ignora EUA e diz que não recua
Parlamento da Geórgia declara estado de guerra; Bush insta Moscou a parar bombardeios, e UE tenta mediar fim do conflito
Governo americano ressalta que Tbilisi é aliado e conta com seu apoio militar; ação georgiana contra rebeldes foi "insensata", diz Berlim
DA REDAÇÃO
Horas depois de seu sucessor
na Presidência russa, Dmitri
Medvedev, dizer que só a retirada total das tropas georgianas
da região separatista da Ossétia
do Sul poria fim aos confrontos
no sul do Cáucaso, o premiê
Vladimir Putin disse duvidar
que a continuidade territorial
pudesse ser recuperada.
A declaração acirra um cenário onde o Parlamento da Geórgia declarara estado de guerra e
os russos preparavam o desembarque de tropas terrestres na
ex-república soviética.
Com a região à beira da guerra total, potências ocidentais
buscavam intermediar um
acordo. Uma delegação dos
EUA, da União Européia e da
Organização para Segurança e
Cooperação na Europa viajaria
à Geórgia ainda ontem para
tentar mediar um cessar-fogo.
O americano George W.
Bush, que falou por telefone
com Medvedev, exortou os dois
lados: "Pedimos a suspensão
imediata da violência e um recuo de todos os soldados. Pedimos o fim dos bombardeios
russos", afirmou em Pequim,
onde se reuniu com Putin na
véspera, durante a Olimpíada.
Um porta-voz de seu governo
elevaria o tom ao lembrar que a
Geórgia é aliada dos EUA e conta assim com seu apoio militar.
Ele condenou a resposta russa
ao ataque georgiano como
"desproporcional", ainda que
admitindo a culpa do aliado.
Na véspera, soldados de Tbilisi invadiram a região autônoma georgiana separatista da
Ossétia do Sul e desencadearem uma resposta militar russa, fazendo eclodir um conflito
latente havia semanas. O presidente georgiano, Mikhail Saakashvili, acusa a Rússia de deflagrar o confronto.
Em Paris, o presidente Nicolas Sarkozy, que exerce a presidência rotativa da União Européia, propôs um plano em três
pontos para interromper o conflito: a interrupção dos combates; o recuo militar às posições
ocupadas na quinta-feira, antes
da eclosão; e o respeito à integridade territorial da Geórgia
Sarkozy manteve contato telefônico com dirigentes da
Geórgia, Ucrânia, Espanha e
Itália; também conversou com
a Rússia, Alemanha, Polônia e
EUA. Segundo o governo francês, os chefes das diplomacias
dos membros da UE se reunirão no início da semana.
Mas nenhum dos lados do
conflito deu sinal de recuo.
Irritação latente
O argumento de Moscou para invadir a Ossétia do Sul é
proteger seus cidadãos. Cerca
de dois terços dos sul-ossetianos têm cidadania russa, e é
russa grande parte dos soldados de paz mantidos na área.
Putin voltou às pressas de
Pequim, onde estava para a
Olimpíada, e assumiu o controle da situação, encontrando-se
com generais e visitando refugiados na Ossétia do Norte
-república russa fronteiriça e
etnicamente identificada com a
Ossétia do Sul. A ONU calcula
que entre 4.000 e 5.000 sul-ossetianos se refugiaram nos dois
últimos dias na região.
"Praticamente não há jeito
de imaginarmos um retorno
para o status inicial [de reintegração da Ossétia do Sul à
Geórgia]", declarou.
Em entrevista coletiva mais
cedo, o chanceler russo, Serguei Lavrov, equiparara os ataques da Geórgia da "equivaliam
a uma limpeza étnica". Indagado se a Rússia estava pronta para a "guerra declarada" com a
Geórgia, respondeu que "não".
Na versão de Lavrov, a Rússia
é responsável por manter a paz
de um conflito deflagrado pela
Geórgia. Tbilisi de fato foi a primeira a enviar tropas para suprimir os separatistas sul-ossetianos. A estratégia duvidosa
municiou Moscou para agir
contra a ex-república soviética,
hoje convertida em aliada dos
EUA e candidata à Otan -Putin
ontem disse que a candidatura
era uma busca por "aventuras
sangrentas".
A Polônia e as três Repúblicas bálticas -Letônia, Lituânia
e Estônia- publicaram declaração em solidariedade à Geórgia e acusaram a Rússia de
exercer "uma política imperialista" na região. Os quatro países se definiram no comunicado conjunto como "ex-escravos
da União Soviética".
Já a Alemanha, por meio do
número dois de sua diplomacia,
disse que a Geórgia comete
"uma violação do direito internacional" ao tentar solucionar
pela força a crise com a região
separatista. "É uma guerra insensata, sangrenta que não resolverá o problema na Ossétia",
disse Gernot Erler.
O Conselho de Segurança da
ONU promoveu ontem a terceira reunião sobre o conflito,
mas, sendo a Rússia um dos
membros com direito a veto,
todas acabaram sem consenso.
Com agências internacionais e
"The New York Times"
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