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Sucesso da Olímpiada interessa ao Ocidente
China demorou para decidir se integrar a instituições internacionais, e manutenção da convivência pacífica é trunfo geral
Idéia de Deng Xiaoping de que país deveria manter discrição no cenário externo para não despertar inveja
é enterrada com os Jogos
GEOFF DYER
DO "FINANCIAL TIMES"
Quando Deng Xiaoping lançou o programa chinês de reforma econômica, quase 30
anos atrás, ele tinha uma idéia
simples sobre política externa:
manter a discrição. "Ocultar o
brilho; alimentar a obscuridade", ele recomendou -ou outros países se sentiriam ameaçados e se uniriam para bloquear a ascensão da China.
Essa parte do legado de Deng
foi enterrada pela Olimpíada.
Com a abertura multimilionária, ficou evidente que a China
decidiu que não precisa mais
ocultar o seu brilho.
Em um esforço por enfatizar
sua condição de grande potência emergente, a China cortejou líderes mundiais para que
comparecessem à cerimônia de
abertura dos Jogos. Quando o
francês Nicolas Sarkozy deu a
entender que um boicote era
possível, meses atrás, os burocratas de Pequim bloquearam
as visitas de turistas chineses à
França. George W. Bush foi o
primeiro presidente dos EUA a
assistir a uma abertura olímpica fora de seu país.
Todos os presidentes e primeiros-ministros estavam presentes para render homenagem aos anfitriões chineses,
mas existe outro motivo para
sua viagem: eles também desejam que os Jogos sejam um sucesso e compreendem que isso
pode influenciar a maneira pela
qual a China conduzirá seu envolvimento com o mundo.
As manifestações e as contra-manifestações deflagradas pela
passagem da tocha olímpica os
ensinaram a temer uma China
propensa a um nacionalismo
frágil, para a qual a Olimpíada
pode tanto servir como bálsamo quanto agir como irritante.
Debate interno
Há anos um debate sobre política externa está em curso entre os especialistas de Pequim,
sobre integrar o país de maneira mais estreita ao sistema internacional existente ou assumir um caminho mais unilateral. Os Jogos podem ter impacto importante nessa discussão.
"Não existe dúvida de que a
Olimpíada gerará maior nacionalismo, mas ele pode ser ou
construtivo ou de uma variedade menos benéfica", disse Victor Cha, da Universidade de
Georgetown. "Uma boa Olimpíada tornará o país mais orgulhoso, mas, caso os Jogos transcorram mal, isso reforçará a
idéia de que o Ocidente tenta
impedir que a China ascenda."
Os líderes chineses desejam
expor um país confiante. Uma
recente pesquisa da Pew Research aponta que 80% dos chineses estão satisfeitos com a
maneira pela qual as coisas estão indo no país. E, embora a
Olimpíada tenha se provado
um revés em termos de direitos
humanos, com detenções de
ativistas, sob a superfície existem sinais de uma sociedade
que se torna mais ativa e exigente quanto aos seus líderes.
Os diplomatas ocidentais esperam que esse senso de confiança encoraje a China a se integrar mais às instituições internacionais e alivie tensões
que cercam o surgimento de
novas potências. A admissão da
China na Organização Mundial
do Comércio, em 2001, foi um
marco importante.
No período pré-Olimpíada, a
China resistiu a apelos ocidentais para que reduzisse conexões com os regimes do Sudão e
do Zimbábue, mas o país é visto
pelos diplomatas como participante construtivo nas negociações em curso com Coréia do
Norte e Irã. Além disso, promoveu avanços em duas de suas
relações mais importantes e
potencialmente mais venenosas, com Taiwan e com o Japão.
Mas existe certa dose de hesitação entre os líderes que vieram a Pequim, devido à dinâmica potencialmente explosiva
que cerca uma Olimpíada promovida por um país ansioso
por aprovação, mas apavorado
diante da possibilidade de qualquer embaraço. Há muitas maneiras de os cuidadosos preparativos fracassarem, de problemas em função da poluição a
cenas de violência causadas por
protestos, passando pela possibilidade de que os atletas chineses não se saiam bem como o
governo espera. A mídia estrangeira está acompanhando a
situação com ceticismo, atenta
a qualquer tropeço.
Desde a Guerra do Ópio, no
século 19, a China sofreu uma
série de brutais invasões estrangeiras e seus livros de história enfatizam a idéia de uma
situação de humilhação nacional que precisava ser retificada.
Para muita gente na China, a
Olimpíada está relacionada a
essa narrativa.
A atmosfera delicada de hospitalidade e suspeita que cerca
os jogos foi resumida por um
dos aposentados de Pequim
que o governo recrutou para
ajudar na Olimpíada. Hou
Yuanxiang, professor aposentado, não hesitou em se pronunciar quanto à sua atitude
em relação aos Jogos.
"Trata-se de uma oportunidade de recebermos vocês, estrangeiros, para louvar nossos
avanços e ajudar a superar nossos problemas. Temos muitos
defeitos e queremos ouvir sua
opinião", disse. "Mas temos de
reconhecer que vocês invadiram e intimidaram demais a
China. Boa parte de nossa riqueza nos foi roubada pelos
norte-americanos e japoneses." Ele faz uma breve pausa e
continua: "Nós chineses somos
muito amistosos. Por favor, venha visitar meu apartamento".
Tradução de PAULO MIGLIACCI
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