|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
SUCESSÃO NOS EUA / GUERRA E PAZ
EUA estão perto de marcar retirada
Pressionado pela corrida eleitoral, Bush deve concordar com um prazo para saída escalonada do Iraque
Data proposta por árabes, outubro de 2010, é o ponto principal de divergência entre países; anúncio pode ser feito já nesta semana
Thaier al-Sudani -5.ago.08/Reuters
|
|
Soldado dos EUA em Baquba
SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON
Segundo relatos de funcionários dos dois governos feitos a
jornalistas em Washington, os
EUA e o Iraque estão prestes a
anunciar um acordo que prevê
um prazo para retirada escalonada de boa parte dos cerca de
140 mil soldados norte-americanos hoje em solo iraquiano.
A pedido do presidente americano, George W. Bush, a secretária de Estado Condoleezza Rice conversou com o primeiro-ministro iraquiano, Nuri al Maliki, por telefone na última quarta-feira para acertarem
os termos gerais do acordo. Um
dos pontos que ficaram pendentes foi a data da retirada.
Após pedir que fosse em até
12 meses a contar de janeiro de
2009 e, depois, em até 16 meses, o iraquiano sugere agora
que seja até outubro de 2010; os
norte-americanos questionam
os três prazos. De qualquer maneira, é um grande avanço para
uma administração que até o
mês passado nem sequer aceitava falar em datas para a saída
das tropas.
Agora, as equipes dos dois governos trabalham nos detalhes
do acordo, que pode ser anunciado já na próxima terça ou
quarta-feira -Bush retorna da
China na segunda à noite e tira
suas férias de verão de quinta-feira ao dia 26 de agosto. Se deixar o anúncio para sua volta, é
porque o obstáculo do prazo de
saída não foi ultrapassado.
Em Pequim, a porta-voz da
Casa Branca disse que não havia anúncio iminente de acordo
e que era "prematuro" falar sobre quais serão as datas para retirada. "Em nossas negociações, nós continuamos trabalhando com eles nessas questões", disse Dana Perino.
Em Washington, o porta-voz
do Pentágono reconheceu que
o "acordo final está mais próximo", mas disse "que não estamos lá ainda". "Houve progresso o suficiente para que haja
um esboço de acordo circulando em nossas respectivas capitais", disse Geoff Morrell.
Na cópia do esboço do documento que já circula em Washington, no lugar destinado à
data de retirada das tropas, há
apenas a sigla "T.B.D.", "a ser
determinado", em inglês, segundo o veterano jornalista
Jim Hoagland, do "Washington
Post", que leu o texto.
Outubro de 2010
A princípio, Maliki insistia
em um ano a partir de expirada
a autorização do Conselho de
Segurança da ONU para a presença de uma força multinacional no Iraque, que vai até 31 de
dezembro de 2008 -a data pode ser adiada a pedido do Iraque. Mas, com a visita de Barack Obama ao Oriente Médio,
há duas semanas, o iraquiano
passou a falar em 16 meses, o
que coincide com a proposta do
candidato democrata.
O apoio público ao candidato
opositor à sucessão de Bush,
depois negado sem sucesso por
Maliki, irritou profundamente
a Casa Branca. Após a conversa
entre os dois governos, um novo prazo, agora outubro de
2010, voltou a ser discutido.
Com a relativa calma por que
passa o Iraque -julho foi o mês
em que os EUA registraram o
menor número de baixas militares desde o início da guerra,
em 2003-, o prazo para saída
dos soldados norte-americanos
do país voltou a ser questão importante na disputa eleitoral.
A idéia do governo Bush é
anunciar um acordo antes das
eleições, dando assim mais munição para que o candidato republicano, John McCain, enfrente o democrata nesse quesito. McCain entrou na disputa
dizendo que não sabia se o país
ficaria "até cem anos" no Iraque; agora, com a boa recepção
pública da proposta de retirada
de Obama aliada às condições
mais favoráveis no front, o senador reconsiderou a posição.
Além da questão do prazo para a retirada, outros itens estão
sendo discutidos. Entre eles, o
reconhecimento da soberania
iraquiana sobre seu próprio
território, mas também a necessidade de as forças multinacionais continuarem atuando
temporariamente em áreas como defesa das fronteiras, funcionamento das prisões, treinamento de pessoal militar e operação de tráfego aéreo. Uma pequena fração dos atuais 140 mil
soldados seria necessária para
cumprir essas tarefas.
É o chamado Sofa, na sigla
em inglês, ou Acordo da Situação das Forças, que esclarece
como, quando e onde forças
militares estrangeiras podem
funcionar num país. Define
também a responsabilidade
desses soldados diante das leis
locais, outro ponto de discórdia
entre os dois governos. Ambos
os aspectos estavam delineados
já na Declaração de Intenções,
documento conjunto assinado
por Bush e Maliki em dezembro de 2007.
Aquele documento dava o
prazo de 31 de julho de 2008
para que o acordo fosse anunciado, data não respeitada.
Apesar de os EUA não estarem
em guerra com o Iraque -hoje,
o primeiro é um país com presença militar no segundo, autorizado por esse e pela ONU-,
um acordo do tipo tem a importância equivalente a um tratado
de paz, e seus termos são exaustivamente negociados.
Após a divulgação, o documento será submetido à aprovação do Congresso iraquiano.
O mesmo não deve necessariamente acontecer em relação ao
Congresso norte-americano, o
que já causa polêmica. Na semana passada, quatro senadores de ambos os partidos apresentaram medida que exige que
o acordo passe pelo Legislativo
antes de ser aprovado.
Texto Anterior: Sucesso da Olímpiada interessa ao Ocidente Próximo Texto: Guerra cresce na Geórgia; russos ocupam Tskhinvali Índice
|