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Guerra cresce na Geórgia; russos ocupam Tskhinvali
Moscou afirma que 1.500 civis já morreram desde sexta no conflito do Cáucaso
Kremlin diz haver até 30 mil
refugiados da Ossétia do Sul
e ONU contabiliza 2.400;
russos dizem ter libertado
capital de região separatista
DA REDAÇÃO
A guerra entre a Rússia e a
Geórgia pelo controle da região
separatista da Ossétia do Sul
registrou ontem dramática escalada, com o número de mortos desde a véspera chegando
aos 1.500 civis, segundo o
Kremlin.
O embaixador russo em Tbilisi, a capital georgiana -os
dois países paradoxalmente
ainda não romperam relações
diplomáticas-, afirmou, segundo a agência russa Interfax,
que desde a véspera haviam sido mortos cerca de 2.000 civis.
O Kremlin cita 1.500.
O governo da Geórgia disse
ter abatido dez caças-bombardeiros russos. Moscou diz ter
perdido apenas duas aeronaves
e 12 militares. Afirma também
ter "libertado totalmente" a capital sul-ossetiana, Tskhinvali.
Segundo o porta-voz militar
russo no local, Vladimir Boldyrev, "grupos táticos conseguiram livrar a cidade do domínio
dos militares da Geórgia".
Em sua primeira versão, a
Geórgia diz que se retirou ontem da cidade ocupada na sexta. Mas sua artilharia voltou à
tarde a abrir fogo contra a cidade, disse a Interfax.
A aviação russa bombardeou
Gori, em princípio fora da região de conflito. A Associated
Press testemunhou naquela cidade prédios de apartamento
em ruínas, alguns deles ainda
em chamas, e cadáveres espalhados pelas ruas.
Refugiados
A agência das Nações Unidas
para refugiados disse que cerca
de 2.400 pessoas etnicamente
georgianas deixaram a Ossétia
do Sul nas últimas horas. Informantes do Kremlin anunciam
que entre 4.000 e 5.000 civis
etnicamente russos deixaram a
região separatista para se refugiar na Ossétia do Norte, já
dentro do território da Rússia.
O vice-premiê russo, Serguei
Sobianine, disse que os refugiados podem chegar a 30 mil.
Não há um número oficial de
mortos. O governo sul-ossetiano disse que perdeu 50 militares, enquanto Kakha Lomaia,
secretário do Conselho de Segurança Nacional da Geórgia,
afirma ser plausível que as vítimas sejam abaixo de cem.
Mas estimativas dos poucos
jornalistas que circulavam desde sexta na região são bem mais
pessimistas. Só em Tskhinvali,
a capital da Ossétia do Sul, a
destruição era tamanha -e tão
grande a quantidade de cadáveres- que a verdade pode estar
próxima dos cálculos russos.
Moscou estaria interessado em
inflar os números para dramatizar os efeitos de um conflito
desencadeado pela Geórgia.
A mesma lógica se aplica aos
autonomistas sul-ossetianos. A
porta-voz do governo pró-russo na região disse que "1.600
morreram" na tentativa georgiana de se apoderar de Tskhinvali, o que o presidente da
Geórgia se apressou em qualificar de "flagrante mentira".
Um jornalista russo, Zaid
Tsarnayev, disse à Reuters que
na sexta esteve num hospital da
capital sul-ossetiana, em que
mal cabiam feridos, mas que à
noite o prédio foi destruído por
um caça da Geórgia, com a possibilidade de os pacientes terem sido todos mortos.
Os movimentos georgianos
foram ontem contraditórios.
De um lado, o presidente Mikheil Saakashvili lançou um
apelo "por um imediato cessar-fogo" e acusou os russos de terem lançado uma operação de
invasão de seu país. De outro,
no entanto, Saakashvili obteve
pela manhã do Parlamento a
declaração do "estado de guerra" em que a Rússia é explicitamente a inimiga.
A Geórgia abriga um importante oleoduto que transporta
combustível para a Europa -a
estrutura foi alvo ontem de
bombardeio por caças russos,
mas as aeronaves erraram o alvo, segundo a ministra georgiana do Desenvolvimento, Ekaterina Sharashidze. Para ela, o
episódio "confirma que o
Kremlin não se limita a querer
destruir a infra-estrutura econômica" de seu país.
Porta-voz da diplomacia
georgiana disse que o porto de
Poti, no mar Negro, bombardeado desde a véspera, estava
ontem "devastado".
Abkházia em chamas
Outro território com pretensões separatistas da Geórgia, a
Abkházia, também cobiçada
pelos russos, anunciou ontem
ter iniciado ações militares para expulsar as forças georgianas. Seus comandantes disseram que bombardearam posições da Geórgia na região, desmentindo os relatos iniciais de
que os bombardeios partiram
de aviões militares russos.
O presidente Saakashvili
confirmou a eclosão desse segundo foco no conflito, mas
disse que suas forças "repeliram" a ofensiva.
No fim da tarde Moscou comunicou a Washington que determinara que parte de sua esquadra no mar Negro rumasse
a Ochamchire, pequeno porto
de Abkhazia, "aparentemente
para proteger cidadãos russos",
disse funcionário americano.
Com agências internacionais
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