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ÁSIA
15 candidatos alegam fraude na votação e dizem que não reconhecem resultado; ONU não viu motivos para suspender pleito
Rivais de Karzai boicotam eleições afegãs
DA REDAÇÃO
A primeira eleição presidencial
direta da história do Afeganistão
terminou em confusão. Horas depois de iniciado o pleito, ontem,
todos os 15 adversários de Hamid
Karzai, atual presidente e candidato à reeleição, anunciaram que
boicotariam a eleição e não reconheceriam seus resultados. Eles
afirmam que houve fraude.
As autoridades que organizam
as eleições, porém, criticaram o
boicote e se recusaram a interromper o pleito. "Paralisar a votação neste momento não se justifica e significaria negar a esses indivíduos o direito de votar", disse
Ray Kennedy, vice-diretor da
missão conjunta da ONU e do governo afegão.
Karzai, favorito para conquistar
a reeleição, reagiu ao boicote.
"Apenas porque 15 pessoas disseram não, nós não podemos negar
os votos de milhões", disse em entrevista coletiva após seus rivais
anunciarem o boicote.
O boicote foi um balde de água
fria no que tinha sido, até aquele
momento, um dia de votação
tranqüilo. Milhões de afegãos
compareceram aos locais de votação, apesar das ameaças de violência feitas pelo Taleban, o grupo
radical islâmico que dominava o
país até que foi deposto pelos
americanos em 2001, como reação ao 11 de Setembro.
Os candidatos de oposição tomaram a decisão de boicotar o
pleito em reunião na casa de um
deles, o uzbeque Abdul Satar Sirat. Eles justificaram a sua atitude
alegando problemas com a forma
pela qual as autoridades eleitorais
se certificavam de que cada eleitor
só votaria uma única vez.
De fato, autoridades verificaram que, em alguns locais de votação, a tinta usada para marcar
os dedos dos eleitores depois que
votavam era facilmente lavável.
Isso, em tese, poderia facilitar que
um mesmo indivíduo votasse
mais de uma vez.
Mas as mesmas pessoas responsáveis pela organização da eleição
disseram que o problema foi rapidamente identificado e sanado.
Na verdade, argumentam, alguns
funcionários utilizavam uma caneta comum para identificar o
eleitor que votou, em vez da que
continha tinta especial, indelével
por várias horas.
Ainda assim, Sirat -um candidato "nanico", de acordo com
pesquisas- manteve o boicote:
"A eleição de hoje não é legítima.
Deveria ter sido interrompida e
nós não reconhecemos os resultados. Essa votação é uma fraude",
disse, em seu nome e no dos outros 14 oposicionistas.
Ray Kennedy, da missão ONU-Afeganistão, disse que pode demorar até que as autoridades eleitorais cheguem a uma decisão sobre a legitimidade do pleito. Manoel de Almeida e Silva, o brasileiro que é o diretor de comunicação
da Missão de Assistência da ONU
no Afeganistão, disse que os problemas levantados pelos 15 candidatos não eram generalizados.
Observadores internacionais
que acompanharam o processo
preferiram não fazer comentários
sobre o protesto dos oposicionistas ontem. Os primeiros resultados da eleição só devem começar
a ser conhecidos hoje ou amanhã.
Comentando as eleições, o presidente dos EUA, George W.
Bush, comemorou: "Pense numa
sociedade na qual as garotas não
podiam ir à escola e suas mães
eram chicoteadas em praça pública. Hoje todas estão participando
de uma eleição presidencial."
Com agências internacionais
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