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Mulheres desafiam tradições para votar
DA ASSOCIATED PRESS
Enquanto Bibi Gul votava na
eleição presidencial de ontem, ela
se recordava de que perdeu seu
marido para a guerra, de que
criou cinco filhos sob o regime do
Taleban e de que recebeu ameaças
de ter a mão cortada se ousasse
depositar seu voto na urna.
"Eu tenho tantos problemas
que, às vezes, minha mente não
funciona direito", disse a mulher
de 45 anos numa multidão de
burcas azuis e verdes em um posto de votação exclusivo para mulheres em Kandahar, antigo bastião do Taleban.
"Se Karzai se tornar presidente,
nós talvez consigamos um pouco
de terra e talvez possamos ir a Meca. Nós precisamos do Islã, que é
paz", acrescentou.
Mais de 4 milhões de mulheres
se registraram para a eleição de
ontem, ou seja, 41% do total de
10,5 milhões de pessoas que se
inscreveram para votar no país de
25 milhões.
Apesar das denúncias de fraude
de candidatos de oposição, as mulheres afegãs esperam que estas
eleições marquem o início do sufrágio feminino num país detentor de uma tradição islâmica bastante conservadora.
Os números de eleitoras registradas foram surpreendentes e
sugerem que as mulheres afegãs
estão determinadas a conquistar
direitos. Apesar disso, principalmente no sul dominado pela etnia
pashtun, muitos acreditam que
mulheres só devem sair de casa
em caso de emergência médica.
As mulheres se registraram em
maior proporção nos centros urbanos, como a relativamente cosmopolita capital Cabul, e no norte
e no centro do país, onde os grupos étnicos dominantes têm uma
visão um pouco menos radical do
patriarcado.
Num posto de votação em Cabul, Gul Sum, 60, da etnia hazara,
disse que o pleito pode ajudar a
recompor o país depois de mais
de duas décadas de violência e de
profundas divisões étnicas. "Na
fila comigo havia mulheres de diferentes grupos: pashtun, tadjiques, uzbeques e hazaras. Pela
primeira vez, mulheres estão podendo dizer algo sobre o futuro
do Afeganistão. Estamos cansadas da guerra".
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