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"Império informal" é solução para crises, afirma historiador britânico
FREE-LANCE PARA A FOLHA
O historiador britânico Niall
Ferguson, 40, é professor de história financeira na Universidade
Nova York e defende o império
americano como solução para as
crises financeiras e políticas de
um mundo globalizado.
Suas teses provocaram debate
na revista do "New York Times"
em 2003, pois, como admite, os
americanos não gostam da idéia
de gerir um império.
(HP)
Folha - Por que uma defesa tão
ardorosa da centralização política?
Niall Ferguson - O Brasil seria
mais ou menos estável se se dividisse nos Estados federativos que
o compõem? A resposta é óbvia. A
integração européia tem sido fonte de estabilidade, e o colapso do
Império Soviético levou à instabilidade. O Oriente Médio é muito
menos estável do que quando os
britânicos governavam.
Folha - Então os EUA devem ser
uma entidade unificadora?
Ferguson - Não sei quem mais
faria esse papel. Existe uma economia integrada globalmente,
mas não há uma polícia global para lidar com as regiões do planeta
mal governadas. Mas os EUA são
um império bem hesitante, pois
os americanos detestam o conceito de império.
Folha - E o mundo estaria disposto a aceitar esse papel?
Ferguson - Já aceitou. Quando os
EUA fizeram bem esse papel, como na Europa ocidental ou na
Coréia, houve poucas queixas.
Quando fizeram uma enorme bagunça, como no Chile ou na América Central, houve hostilidade.
Folha - Muitos americanos acham
que os EUA perdem hoje uma guerra cultural.
Ferguson - Não é a cultura que
explode trens em Madri ou joga
gás nos curdos no Iraque. A idéia
de um choque de civilizações
sempre me pareceu uma grande
simplificação, e regimes inescrupulosos podem existir em qualquer cultura.
Folha - Mas como as células terroristas conseguem recrutar gente?
Ferguson - Há uma enorme oferta de homens jovens desempregados no mundo, particularmente
nos países islâmicos, onde as taxas de natalidade ainda são bem
altas. Ela forma uma base de
apoio natural para ideologias radicais, como a que existia nas sociedades européias havia um século.
Folha - Então Bush está no rumo
certo?
Ferguson - Está indo bem melhor do que as pessoas acham. O
regime do Taleban caiu, muita
gente da Al Qaeda foi presa e a
ameaça terrorista nos EUA diminuiu. E por isso os americanos
não vêem mais a coisa como uma
guerra.
Folha - E a guerra no Iraque?
Ferguson - A razão real para a
guerra contra Saddam Hussein
era que ele era uma ameaça aos
seus vizinhos e também que era
culpado de violações grotescas de
direitos humanos. Ele foi tolerado
pela comunidade internacional
por motivos nada idealistas. O
verdadeiro escândalo era que ele
ainda estava no poder em 2003!
Folha - Mas os Estados Unidos podem continuar sua ação militar
sem apoio internacional?
Ferguson - Sem a Espanha, pode.
Mas, depois da queda de Bagdá,
os americanos perceberam que
precisavam de ajuda militar e econômica. Foi uma tremenda ingenuidade do pessoal de Bush ter
alienado outras potências e desacreditado o Conselho de Segurança da ONU. Mas, depois das bravatas, haverá cooperação: a alternativa é desastrosa para todos.
Folha - Qual o papel da opinião
pública americana hoje?
Ferguson - O Império Britânico e
o atual império informal americano são entidades bem incomuns.
Continuam tendo pluralismo e liberdade política, mesmo enquanto governam outros países. Uma
das forças do Império Britânico é
que era constantemente debatido
em casa. Mas a pressão sobre
Bush ou Kerry para retirar a presença americana no Iraque vai aumentar nos próximos meses, e o
perigo é que os EUA percam o
controle da situação lá.
Folha - Essas intervenções não
acabarão sempre como o Império
Britânico?
Ferguson - O Império Britânico
se desintegrou porque dois impérios rivais o atacaram. O nacionalismo era um problema menor. Se
os iraquianos sentirem que é de
seu interesse colaborar com a Autoridade Provisória da Coalizão,
irão fazê-lo, e vai funcionar. Se
sentirem que Paul Bremer [administrador americano no Iraque] e
sua gente vão embora no dia 1º de
julho, eles não vão colaborar, e a
situação não será estável.
Folha - E os americanos estão dispostos a ficar dez anos lá?
Ferguson - Não, e esse é mais um
motivo para a cooperação com
outras potências. Quem estaria
disposto a fazer esse trabalho de
manter a paz depois que a batalha
termina? A resposta está nos países da União Européia, que têm
feito mais esse tipo de operação.
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