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IRAQUE OCUPADO
Impasses prosseguem; produção estagnada e suspensão de exportações ameaçam ampliar a crise humanitária
Disputa por petróleo do Iraque se complica
ÉRICA FRAGA
DA REPORTAGEM LOCAL
O cenário do Iraque no pós-guerra continua confuso e nada
alentador para a população do
país. De um lado, a produção de
petróleo, essencial para a sobrevivência dos iraquianos, está estagnada, o que ameaça agravar a crise humanitária no país. De outro,
se intensifica uma acirrada briga
de bastidores na comunidade internacional sobre o futuro da
commodity no país.
A queda de braços se dá entre os
Estados Unidos, que querem controlar os rumos da indústria petrolífera iraquiana, e os outros
membros do Conselho de Segurança da ONU (Organização das
Nações Unidas), que defendem
que as exportações do país sigam
monitoradas pela instituição.
Até antes da guerra, a produção
de petróleo do Iraque era limitada
pelos embargos comerciais impostos ao regime de Saddam Hussein. A ONU controlava as vendas
externas de acordo com o programa Petróleo por Comida, que
permitia a exportação da commodity apenas para a compra de alimentos e remédios.
A renda dessas exportações
-que somavam cerca de 1,5 milhão a 1,7 milhão de barris diários- era de algo entre US$ 1,3
bilhão e US$ 1,5 bilhão por mês.
Desde o fim da guerra, no entanto, a falta de uma autoridade
iraquiana estabelecida e as dúvidas em relação ao futuro envolvimento da ONU no país nessa fase
de pós-guerra congelaram o programa Petróleo por Comida.
Divergências
Parte dos integrantes do Conselho de Segurança da ONU, principalmente França e Rússia, querem a renovação do programa
que expiraria em junho até que
haja um governo eleito democraticamente no país. Mas os EUA,
que comandam a reconstrução
do Iraque, defendem a suspensão
imediata das sanções.
Enquanto esses embates se desenrolam, grandes empresas se
recusam a comprar petróleo do
Iraque. Hoje, há 8 milhões de barris da commodity iraquiana bloqueados na Turquia enquanto as
vendas não se concretizam.
"O Iraque vive uma espécie de
limbo legal. As grandes empresas,
inclusive as americanas, não querem comprar petróleo do país
porque têm medo de negociar
com o governo norte-americano
e, depois, uma nova administração iraquiana reclamar recursos
já pagos aos EUA", diz Valerie
Marcel, pesquisadora do The Royal Institute of Internacional Affairs (RIIA), prestigiado centro de
pesquisa britânico.
Além de não poder exportar, o
país viu sua produção de petróleo
despencar depois da guerra, o que
piorou sua situação econômica.
Segundo Gerald Butt, editor da
"Mees", revista especializada do
setor, a produção da commodity
caiu de uma média de 2,7 milhões
de barris por dia para cerca 120
mil barris atualmente.
"A produção voltou de forma limitada nos campos do norte e do
sul, mas tem sido suficiente para
atender a apenas 40% da demanda doméstica. O maior problema
no caso dessa demanda é a inabilidade de se colocar as refinarias
funcionando por conta da falta de
eletricidade", diz Butt.
Sem energia elétrica e sem a
renda das exportações, o Iraque
está à beira do agravamento de
sua crise humanitária. Para Marcel, essa ameaça, somada aos interesses de negócios no Iraque, poderá forçar as grandes potências a
chegar a um acordo a respeito da
indústria petrolífera do país.
A especialista lembra que a
França, por exemplo, moderou
sua posição e já admite um cronograma para a suspensão gradual
das sanções. Ela diz que, dadas as
pressões até de grandes multinacionais do setor, o normal seria
que a ONU acabasse retomando
papel importante nas vendas do
petróleo do país. Mas admite que
os EUA vão resistir a isso.
"Se a ONU controlar os ganhos
com a venda de petróleo do Iraque, deterá poder. Se você não
controla o dinheiro, não tem o
poder. E é isso que interessa ao
governo norte-americano: ter poder no Iraque", afirma.
Nova resolução
Por enquanto, os EUA têm
mantido sua posição a favor da
suspensão imediata das sanções e
do controle da renda das vendas
do petróleo iraquiano nas mãos
norte-americanas.
O governo Bush apresentou a
proposta de uma nova resolução
com esse conteúdo ao Conselho
de Segurança anteontem. Contou
com apoio da Espanha e do Reino
Unido. A princípio, os demais
membros não demonstraram forte oposição.
Apenas os representantes de
França e Rússia disseram que vão
querer mais esclarecimentos sobre as medidas propostas. Analistas antecipam que, se aprovada, a
nova resolução representará o total controle da indústria petrolífera iraquiana pelos EUA.
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