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Opressão à mulher é contra islã, diz praticante de SP
DA REDAÇÃO
Quem vê a paulistana de família
libanesa Magda Aref, 27, percebe
imediatamente que ela é muçulmana -afinal, lá está o indefectível véu. E também logo vê que
uma muçulmana que segue à risca seu credo pode, sim, ser uma
mulher, como ela diz, "absolutamente normal, que sorri, chora,
tem problemas e alegrias, dança,
se diverte, sai, estuda, trabalha,
tem sua vida social, suas amigas".
"A única diferença", diz, "é que
cremos em um só Deus que adoramos na nossa vida diária, e uma
das maneiras de adorá-lo está em
nossa veste".
A veste de Magda, aliás, não têm
nada de exótica. Ela recebeu a reportagem da Folha em sua casa
trajando calça e camisa jeans com
uma camiseta vermelha por baixo. Mangas longas, nada justo.
Mas nada que não possa ser vendido em qualquer loja de seu bairro, o movimentado Brás, ou de
um shopping center.
Nascida em uma família muçulmana não-praticante e adepta fervorosa da religião desde os 14
anos, Magda é a presidente do departamento feminino da Liga da
Juventude Islâmica no Brasil. Formada em Ciências Sociais pela
USP, casada, mãe de duas meninas pequenas e professora de islamismo para crianças e mulheres,
ela discorre com entusiasmo sobre o papel da mulher no islã.
A opressão às mulheres, afirma,
atenta contra os próprios preceitos da religião, embora haja os
que busquem no islã maneiras de
justificá-la. Leia a seguir outros
trechos de sua entrevista.
(LC)
Folha - O véu é uma imposição?
Magda Aref - É uma obrigação
religiosa, como rezar cinco vezes
ao dia, pagar o tributo para ajudar
os mais pobres, jejuar no Ramadã. Mas cabe a cada um seguir ou
não, pois existem vários mandamentos e nem todos os seguem. O
significado do véu é supernobre, é
valorizar a mulher, não tem absolutamente nada a ver com repressão. Não é que uma mulher que
não esteja vestida assim seja desrespeitada, mas a veste faz com
que você coloque um obstáculo
em relação ao sexo oposto. Já na
frente do seu marido, não tem
restrição nenhuma. A mulher
muçulmana se arruma da porta
de casa para dentro.
Folha - Qual é o papel da mulher
no islã?
Aref - Todo muçulmano, homem ou mulher, é submisso a
Deus -eis o princípio do islã. Todas as adorações e obrigações religiosas basicamente são as mesmas para homens e mulheres. A
única coisa que é específica para a
mulher tem a ver com a sua própria condição fisiológica, que é o
fato de ser mãe. O islã sempre insiste nesse ponto: a condição primordial considerada para a mulher é ser uma boa mãe. Mas, além
da veste, ele não tem nada de especial em relação à mulher.
Folha - Como a sra. vê o Taleban,
que proibiu as mulheres de estudar
e trabalhar?
Aref - Eu nem sei se isso é real.
Folha - Há relatos confiáveis.
Aref - Se é verdade, você vê que
isso é diametralmente oposto a
tudo o que o islã prega, pois não
há proibição nenhuma em relação a trabalhar, a estudar. Há,
sim, determinadas delimitações.
Para a mulher, não é qualquer trabalho que é permitido no islã. É
proibido trabalhar seminua.
Folha - Maridos muçulmanos que
oprimem suas mulheres podem
usar a religião como desculpa?
Aref - Por exemplo?
Folha - Por exemplo, o marido
que obriga a mulher a usar o véu se
ela não quer ou a ficar em casa.
Aref - Se ele fizer isso, por exemplo, mantê-la em casa, ele estará
desagradando a Deus. Olha como
ele mesmo se contradiz. Ninguém
pode fazer de ninguém um escravo, ninguém pode manter uma
pessoa trancada em casa.
Folha - Recentemente, uma repórter narrou as dificuldades que
teve em trabalhar em Najaf (centro
xiita no Iraque) porque os homens
se recusavam a falar com ela diretamente. O islã recomenda que esse contato seja evitado?
Aref - Alguns homens religiosos
acham desrespeitoso encarar a
mulher, como se estivessem cobiçando. Então, por respeito, principalmente se você estiver acompanhada, eles vão cumprimentar,
mas vão ficar olhando para baixo.
Um homem e uma mulher religiosos não se encaram. Mas isso
vai muito da religiosidade e da
vergonha da pessoa, pois tem
gente que não se importa mesmo.
Folha - No Brasil, é mais difícil seguir o islã à risca?
Aref - Aqui não é um país muçulmano. É óbvio , então, que algumas adaptações você faz. O
véu, por exemplo, você usa, mas
muita gente ainda estranha.
Folha - A sra. sofre preconceito?
Aref - Tem um caso ou outro em
que, às vezes, a pessoa faz um comentário sem graça, uma brincadeira. Mas também tem gente que
me para na rua para elogiar. Uma
vez, um homem me parou para
dizer que todas as mulheres do
país deveriam se vestir assim.
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