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A Argentina em busca de um candidato
Para analistas, os argentinos esperam que seu futuro presidente aumente os gastos do setor público para gerar empregos, isto é, querem ver mais Estado na economia
GUSTAVO CHACRA
DA REDAÇÃO
JOÃO SANDRINI
DE BUENOS AIRES
Os argentinos estão em busca de
um candidato para presidente nas
eleições de março de 2003, alguém que traga mudanças, com
propostas totalmente diferentes
dos governantes anteriores.
O futuro presidente, na avaliação de analistas políticos ouvidos
pela Folha, deve estar mais preocupado em aumentar os gastos
públicos, criar empregos e investir na indústria nacional. "Os argentinos querem o Estado mais
presente na economia", afirma a
analista Graciela Rommer, diretora do instituto de pesquisas Rommer & Associados.
Após seguidos ajustes econômicos e cortes nos gastos públicos
- que, para os argentinos, apenas aumentaram a pobreza e o
desemprego-, os eleitores "querem distância de candidatos que
preguem políticas neoliberais",
acrescenta Rommer.
Hoje, o índice de desemprego é
de 21,4%. Mais da metade da população está abaixo da linha de
pobreza. Uma desgraça para um
país que nos anos 20 e 30 era um
dos mais ricos do mundo.
Esses eleitores, no entanto, não
levam em conta os riscos de retorno da hiperinflação que assolou o
país no fim da década de 80 e início dos anos 90.
Os eleitores ainda não sabem se
o governante ideal deve ser favorável ao Mercosul ou à Alca (Área
de Livre Comércio das Américas).
A maior parte dos candidatos é favorável a negociar a Alca em bloco, junto com o Brasil. A única exceção é o ex-presidente Carlos
Menem, 72, claramente favorável
a uma aproximação ainda maior
com os EUA, se possível com dolarização da economia.
Entre os empresários argentinos, de acordo com pesquisa da
Rommer & Associados, 75%
apóiam a Alca. Mas 65% concordam com os candidatos e acham
que ela deva ser negociada em
bloco com o Brasil.
Peronista ou militar
Nesse perfil de candidato ideal
dos argentinos se encaixam Elisa
Carrió, 45, do ARI (Argentinos
por uma República de Iguais), de
centro-esquerda, e o trotskista
Luis Zamora, 54, tido como um
dos poucos políticos honestos do
país. Se a eleição fosse hoje, Carrió
derrotaria qualquer que fosse o
adversário no segundo turno, em
abril. Mas os analistas lembram
que é preciso ver se, no momento
das eleições, os peronistas estarão
unidos, o que os fortaleceria.
Carrió e Zamora enfrentam ainda vários obstáculos para chegar à
Presidência. O mais importante
deles: não pertencem a nenhuma
agremiação de expressão, de
acordo com o analista político Ricardo Rouvier. Conforme reza
um ditado argentino, "para ser
presidente do país é necessário ser
peronista ou militar".
Nas últimas décadas tem sido
assim. Os únicos que vieram de
fora, e ainda assim de um partido
que era forte antes de cair na desgraça atual, foram Raúl Alfonsín
(1983-89) e Fernando de la Rúa
(1999-2001), ambos da União Cívica Radical (UCR). Os dois fracassaram e renunciaram.
De la Rúa pregava que a Argentina iria deixar os dez anos de menemismo e entrar em uma nova
era. Mas o ex-presidente afundou
carregando junto o mais célebre
ministro do menemismo, Domingo Cavallo, que dirigiu a economia argentina nos últimos meses do governo De la Rúa.
Com a UCR fraca, os outros adversários sem uma estrutura partidária e os militares quietos em
seus quartéis desde a aventura
frustrada nas Malvinas em 1982, a
importância da disputa interna
do Partido Justicialista (PJ, peronista) aumenta ainda mais. O escolhido do partido deve se tornar
um dos favoritos à vitória.
Na disputa estão o ex-presidente Carlos Menem (1989-99), o governador de San Luis, Adolfo Rodriguez Saá, 54 (que foi presidente
por pouco mais de uma semana
no ano passado), o governador de
Santa Cruz, Néstor Kirchner, 51, e
o governador de Córdoba, Juan
Manuel de la Sota, 52.
Já desistiu o governador de Santa Fé e ex-piloto de Fórmula 1,
Carlos Reutemann. Cada semana
um dos candidatos é o favorito.
Primeiro foi Reutemann, que, como disse a revista "Notícias", "se
acovardou". Em seguida foi Menem. Mas as denúncias de corrupção abalam sua candidatura.
Ele tem mais de 80% de rejeição
entre os argentinos. Segue, porém, na terceira posição, com
11%. "Menem sofreu uma condenação moral", diz Oscar Raúl Cardozo, colunista do "Clarín".
Agora fala-se em Kirchner e De
la Sota. Os dois contariam com o
apoio do presidente Eduardo Duhalde, mas ainda não conseguiram conquistar a população. Por
fora corre Rodriguez Saá, com um
discurso populista.
O candidato das elites econômicas é o ex-ministro da Economia
Ricardo López Murphy, 54, de
centro-direita. Mas suas chances
são quase nulas, dizem analistas.
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