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Referendo ratifica Morales e autonomistas
Boca-de-urna indica prosseguimento do impasse político na Bolívia, já que presidente e principais opositores devem manter cargos
Devem perder cargo dois oposicionistas e um aliado de Morales; presidente diz que vai buscar agora a "reconciliação do país"
FLÁVIA MARREIRO
ENVIADA ESPECIAL A COCHABAMBA
Pesquisas de bocas-de-urna
divulgadas por TVs na Bolívia
apontavam que a população do
país disse "sim" à gestão do presidente Evo Morales -mas
também ao quarteto de governadores oposicionistas do leste
do país- no referendo revogatório de ontem.
Segundo o dados do instituto
Captura Consulting, Morales
teria obtido 60% de "sim", contra 40% de "não", com grandes
diferenças regionais. O presidente venceu em 5 dos 9 departamentos do país.
Seu principal rival, o governador de Santa Cruz, Rubén
Costas, teria alcançado, segundo o mesmo instituto, 79% de
votos favoráveis, enquanto
seus companheiros oposicionistas de Tarija, Pando e Beni
também permaneceriam em
seus cargos. A margem de erro
do estudo é de cinco pontos para mais ou menos.
Os únicos governadores revogados devem ser os oposicionistas Manfred Reyes Villa, de
Cochabamba e José Luiz Paredes, de La Paz e o governista Alberto Aguilar, de Oruro. Os três
deixariam os cargos independentemente da regra aplicada
para interpretar os resultados,
a aprovada pelo Congresso ou a
modificada pelo Conselho Nacional Eleitoral (veja quadro).
Paredes, em coletiva à imprensa, admitiu a derrota, mas
fez duras críticas ao governo, a
quem acusou de instalar o medo no departamento de La Paz.
"O político está sempre à frente
da gestão", disse.
Já Reyes Villa disse ontem à
tarde à Folha que não se submeteria ao resultado. "O povo
me apoiará", disse (leia mais na
pág. A15). Mais tarde, em coletiva, disse que seguirá "batalhando legalmente" para ficar
no cargo. A polícia reforçou a
segurança da sede do governo
de Cochabamba para impedir
que grupos ligados ao ao partido do presidente, o MAS (Movimento ao Socialismo), tentassem tomá-la à força.
Apesar da tensão que antecedeu o dia da votação, só foram
registrados incidentes pontuais ontem no país inteiro.
Houve várias denúncias de duplicação de títulos eleitorais,
mas a opinião dos observadores internacionais do país era
de que o processo transcorreu
sem maiores problemas.
Se confirmado, o cenário era
o esperado pelas últimas pesquisas de opinião e analistas e
mantém, a princípio, o eixo de
conflito na Bolívia: o altiplano,
liderado por La Paz, com Morales, e a meia-lua, no leste,
com lideranças regionais que
desejam autonomia.
Ontem, após votar em Villa
Tanuri , no Chapare, seu berço
político no departamento de
Cochabamba, o presidente boliviano voltou a dizer que buscaria a "reconciliação" do país
após o referendo. Disse também que prentendia retomar a
discussão, com a oposição, sobre a Constituição aprovada no
ano passado e pendente de referendo. A nova Carta é um dos
principais pontos de divergência entre as partes.
Até o fechamento desta edição, Morales seguia reunido
com seu gabinete, em La Paz,
para analisar os primeiros resultados. Ele próprio disse que
estudava fazer um pronunciamento à nação ainda ontem.
Um dos governadores oposicionistas ratificado, Leopoldo
Fernández, de Pando, também
fez um chamado ao diálogo.
Ainda assim, o clima nas TVs
alinhadas aos oposiocinistas
frisava que o governo havia sido "revogado" nos departamentos da meia-lua. Grupos
radicais, como a União Juvenil
Cruzenha, prometeram vetar a
presença de Morales se ele perdesse em Santa Cruz. Nas capitais da meia-lua, opositores de
Morales foram às ruas comemorar o resultado do referendo, assim como fizeram em La
Paz partidários do presidente.
Para o governo nacional,
consulta trouxe uma vitória
parcial, de acordo com a análise feita à Folha por Manuel
Mercado, responsável pelo Observatório de Gestão Pública
do governo Morales, ligado à
Presidência. O motivo: ao conseguir o controle de La Paz e
Cochabamba, teria nas mãos 3
das 4 principais cidades do
país. De fora, só Santa Cruz.
Mas a derrota nas regiões ricas do leste pressionaria Morales numa mesa de negociação.
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