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Atentado na Bolívia reduz gás ao Brasil
Fechamento de válvula seria causa de explosão em gasoduto; oposição, acusada, não assume ação, mas bloqueia acesso ao local
Redução, que pode chegar a 30% do fluxo diário, ainda não foi sentida, segundo governo brasileiro; La Paz denuncia ato terrorista
Antonio Pocoata/Associated Press
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Manifestantes oposicionistas que tentaram invadir e parar funcionamento de mercado camponês em Tarija fogem do gás lacrimogêneo lançado pela Polícia Nacional
FLÁVIA MARREIRO
ENVIADA ESPECIAL A VILLAMONTES
(BOLÍVIA)
ROBERTO MACHADO
DA SUCURSAL DO RIO
Uma explosão no começo da
manhã de ontem rompeu um
trecho do duto que leva gás da
Bolívia ao Brasil na conturbada
região do Chaco, no sul boliviano, onde opositores do governo
de Evo Morales organizam bloqueios rodoviários e impõem
locautes há 18 dias e já haviam
feito ameaças de interromper a
exportação do combustível.
A empresa que administra o
duto, a Transierra, que tem a
participação da brasileira Petrobras, disse que ainda investiga as causas da explosão, mas o
governo acusa seus oponentes
pelo que chamou de "atentado
terrorista" contra o gasoduto.
O problema aconteceu em
uma válvula entre os municípios de Yacuíba e Villamontes,
pouco depois das 5h da manhã.
A estrada de 130 km que liga os
dois municípios, pela qual a Folha passou ontem, tem nove
pontos de bloqueios. Neles, os
opositores reforçaram a ameaça de cortar o gás ao Brasil.
O rompimento pode diminuir em 30% o envio de gás ao
mercado brasileiro, segundo os
cálculos do engenheiro da
Transierra Oscar Sánchez, que
inspecionou a área. O governo
boliviano mencionou redução
ontem de 3 milhões de metros
cúbicos de gás, ou 10% do total
diário -informação confirmada por fontes da Petrobras.
Como o gasoduto está operando em carga máxima, os reflexos no Brasil só deverão ser
sentidos nos próximos dias. A
estatal boliviana de petróleo e
gás estima o reparo em 20 dias.
A Petrobras menciona uma semana de prazo.
Pela localização da explosão,
o mercado brasileiro poderá
deixar de receber o combustível extraído do megacampo de
San Alberto, mas não do maior
deles, San Antonio, ambos operados pela Petrobras no Chaco,
no departamento de Tarija.
Os líderes opositores da região, por enquanto, não assumiram a responsabilidade pela
explosão. "Estamos achando
que foi um auto-atentado, provocado pelo governo", disse à
Folha o presidente do Comitê
Cívico de Tarija, Reinaldo Bayard -que, na segunda, prometera interromper o envio de gás
tanto ao mercado brasileiro
quanto ao argentino, os dois
consumidores do gás boliviano.
Segundo a Petrobras, os manifestantes tentaram fechar a
válvula -há uma a cada 30km
ao longo do gasoduto. A interrupção teria causado a explosao. Uma hipótese levantada
ontem era a de que manifestantes com experiência no uso do
equipamento tenham participado do ataque - opositores
disseram nos últimos dias terem experiência no setor.
Argentina
O incidente no duto em Tarija, que concentra 60% da produção de gás, principal fonte de
renda da Bolivia, não foi o único
a afetar o fornecimento ao Brasil. Depois de anunciarem o fechamento de quatro válvulas
do gasoduto, anteontem, os lideres "cívicos" da região invadiram e ocuparam, na madrugada de ontem, o campo de gás
Volta Grande, que envia gás ao
Brasil e à Argentina.
A produção foi interrompida
pelos operadores, por motivos
de segurança. Com o fechamento, a principal afetada deve
ser a Argentina, porque vem
deste campo a maior parte do
gás que vai ao país.
O local, a 40 quilômetros de
Villamontes, mas já no departamento vizinho, Chuquisaca,
estava sendo vigiado por cerca
de 30 militares, que foram obrigados a se render, entregar as
armas e deixar a estação. "Os
fuzis são das Forças Armadas",
diz um soldado a um manifestante. "Não são não, são do povo da Bolívia", responde ele.
Depois, os opositores devolveram os armamentos.
"Dissemos que não queríamos confrontação e eles não
usaram gases [lacrimogêneos]
por razão de segurança", disse
Bayard, que liderou a invasão.
Escalada
As ações fazem parte dos graves episódios recentes que
acompanham a escalada da crise política, que ganhou novo fôlego desdedezembro passado,
quando a Assembléia Constituinte de maioria governista
aprovou o texto de uma nova
Carta, rejeitado pela oposição
de direita, incluindo quatro dos
nove governadores.
Os governadores também
exigem que Morales restitua às
regiões parcela do IDH, imposto sobre hidrocarbonetos, que
vem sendo usada por La Paz para pagar aposentadoria para
maiores de 60 anos pobres.
Os protestos promovidos pelos governadores e seus aliados
dos Comitês Cívicos -a elite
econômica e política dos departamentos- incluem a interrupção das principais estradas
do sul e do leste do país.
Ontem, em Tarija, grupos de
"cívicos" atacaram o Mercado
Camponês, na periferia da cidade. Os enfrentamentos causaram até o fechamento desta
edição ao menos 50 feridos, segundo a rede de TV ATB.
O mercado, cujos comerciantes são de origem indígena e
apóiam Morales, desafiou o toque de recolher imposto pelo
Comité Cívico na segunda-feira, comprovou a Folha.
No Rio, fontes da Petrobras
admitiram que há ameaça ao
fornecimento de cerca de 11
milhões de metros cúbicos diários ao Brasil, caso toda a produção de San Alberto tenha
que ser interrompida, se for
avaliado que há riscos para a
segurança de funcionários e
dos equipamentos. É uma decisão que não pôde ser tomada
até o fim da tarde de ontem,
porque o trabalho da equipe de
segurança estava prejudicado
pelo fogo (as chamas atingiram
a atingir seis metros de altura)
no local da explosão.
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