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Morales expulsa embaixador americano
Presidente boliviano acusa diplomata de conspirar com oposição; Washington rechaça denúncia e vê "grande erro" de La Paz
Governo afirma que não reagirá com violência a golpistas; "a oposição quer um morto e não vai ter", diz ministro da Presidência
DA REDAÇÃO
O presidente boliviano, Evo
Morales, declarou ontem o embaixador americano Philip
Goldberg "persona non grata",
o que o obriga a deixar o país.
Morales acusou o diplomata de
conspirar com opositores contra a unidade nacional, que estaria ameaçada pelo que o porta-voz presidencial Iván Canelas chamou "tentativa [da oposição] de desencadear uma espécie de guerra civil".
No discurso pronunciado no
Palácio do Governo, Morales
mandou que o chanceler David
Choquehuanca cumpra os
marcos legais e diplomáticos
para que "aquele que conspira
contra a democracia e busca a
divisão da Bolívia" volte "imediatamente" aos Estados Unidos. Citando o trabalho de
Goldberg para o Departamento
de Estado americano na Bósnia
e em Kosovo, qualificou-o como "especialista em promover
conflitos separatistas".
O chefe da diplomacia americana para a América Latina,
Thomas Shannon, rechaçou as
acusações de Morales e afirmou que a expulsão é "um
grande erro". Goldberg "é um
diplomata com comportamento impecável", disse Shannon.
O governo boliviano relacionou ontem a viagem aos Estados Unidos do empresário
Branko Marinkovic -líder do
poderoso Comitê Cívico do departamento de Santa Cruz, que
reúne a elite regional- ao levante de opositores na região, a
mais rica da Bolívia. La Paz acusa Marinkovic de ter fomentado a violência anteontem,
quando voltou ao país.
"Golpe civil"
"O fascismo deu início a um
golpe de Estado contra a unidade do país e a democracia", afirmou o ministro do Governo, Alfredo Rada. Segundo o ministro, a ofensiva da oposição será
enfrentada "junto ao povo",
com todos os instrumentos legais ao seu alcance. "Os fascistas não passarão."
"Certamente eles estão esperando que respondamos com
armas. Não vamos abrir fogo,
não usaremos armas de fogo
sob nenhuma circunstância.
Não vamos pôr em risco a vida
dos cidadãos", afirmou o ministro da Presidência, Juan Ramón Quintana. "O que a oposição quer é um morto e isso eles
não vão ter."
O ministro da Defesa, Walker
San Miguel, elogiou ontem o
"trabalho patriótico" das Forças Armadas e da Polícia Nacional -que, nas palavras reproduzidas pela agência estatal de
notícias da Bolívia, "enfrentaram os vândalos com tolerância
e sem disparar nenhuma bala".
O governo afirma que não
reagirá com violência nem decretará estado de sítio. Especialistas citam o despreparo dos
militares bolivianos como uma
das razões para a relutância em
conter, pela força, os motins.
"O governo sabe que nem a
Polícia Nacional nem as Forças
Armadas estão preparadas para
situações como essa, de motim.
Há essa consciência, e isso só
mostra a debilidade do Estado
boliviano", afirma Roberto Laserna, economista e estudioso
dos conflitos na Bolívia, lembrando o episódio de 2003,
quando mais de 70 morreram
na chamada "guerra do gás".
Ele não crê em golpe nem em
enfrentamento com forças de
segurança regulares. O risco,
diz, é que ocorram conflitos entre grupos civis dos dois lados.
Para Manuel Mercado, do
Observatório de Politicas Publicas -ligado à Presidência-,
"há um nervosismo grande na
polícia e nas Forças Armadas,
há muita pressão por uma ação
mais dura do governo, de setores das Forças e dos movimentos sociais". A decisão de não
declarar estado de emergência
é "muito dinâmica", diz o especialista. "Tudo esta sendo reavaliado o tempo todo."
"Terrorrismo de Estado"
O governador de Santa Cruz,
Rubén Costas, ex-líder "cívico"
do departamento e principal
opositor de Morales, culpou o
presidente pela "batalha campal" registrada na terça na capital cruzenha. Segundo Costas, o
conflito é causado pelo "terrorismo de Estado" e pela "cegueira" em não reconhecer "o
direito dos povos (...) às autonomias departamentais".
O presidente do Senado boliviano, Óscar Ortiz, do opositor
Podemos, de direita, ameaçou
intensificar as manifestações
caso o governo insista em aprovar a nova Carta.
Com FLÁVIA MARREIRO, enviada especial a Villamontes, e agências internacionais
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