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Preocupado, Brasil se solidariza e pede à Bolívia moderação
Para Lula, Evo Morales foi inábil em conduzir crise política;
Planalto vê erro em expulsão de embaixador americano
Ministro boliviano se reúne
com Garcia em Brasília e diz
que La Paz resolverá crise
sozinha; diplomatas tentam
dialogar com oposição a Evo
IURI DANTAS
LETÍCIA SANDER
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O governo brasileiro afirmou
ontem que se solidariza com o
presidente boliviano, Evo Morales, e "lamenta o recrudescimento da violência e dos atos
de desacato às instituições e à
ordem legal". Ao mesmo tempo, pediu uma solução negociada. Já extra-oficialmente, considera que Morales foi inábil na
condução da crise.
Em nota distribuída pelo Itamaraty, o governo expressa o
desejo de que "cessem imediatamente as ações dos grupos
que lançam mão da violência e
da intimidação". E "insta todos
os atores políticos a que exerçam comedimento, respeitem a
institucionalidade democrática
e retomem os canais do diálogo
e da concertação, na busca de
uma solução negociada e sustentável."
A posição do governo brasileiro foi divulgada no início da
noite, logo após reunião entre o
assessor especial da Presidência Marco Aurélio Garcia e o
ministro da Fazenda da Bolívia,
Luis Alberto Arce. Depois da
reunião, Garcia telefonou ao
presidente Luiz Inácio Lula da
Silva, que estava em Manaus,
para relatar o encontro.
Logo depois, Garcia telefonou ao vice-presidente da Bolívia, Álvaro García Linera. Lula
e Morales não se falaram.
Inabilidade
O Planalto avalia que Morales conduz com inabilidade a
crise política na Bolívia. Considera ainda que a expulsão do
embaixador dos EUA, ontem, é
um erro grave que atrapalha,
acirra a crise e dificulta a solidariedade internacional.
Segundo a Folha apurou, Lula vê como principal erro de
Morales não ter levado adiante
a oportunidade de um entendimento com a oposição quando
saiu vencedor de um referendo
revogatório em agosto, no qual
recebeu mais de 67% de aprovação para continuar no cargo.
Na época, Lula sugeriu, em
telefonema, que o colega boliviano abrisse "um diálogo nacional" e que aproveitasse a
"oportunidade de estar com
moral", de acordo com ministros que acompanharam.
Morales chegou, mais de
uma vez, a convidar os governadores de oposição para o diálogo, mas estes impuseram como pré-condição a revogação
de um imposto sobre a receita
do gás. O governo não aceitou.
Em viagem à Amazônia ontem, Lula disse reservadamente que julgava "extremamente
delicada" a situação na Bolívia.
No cálculo do governo brasileiro a tensão diminuiria com a
confirmação de Morales no
cargo. Mas a oposição ficou
mais violenta após o referendo.
Segundo um auxiliar de Lula,
o presidente boliviano resiste a
usar as Forças Armadas para
reprimir os atos da oposição
por temer eventuais mortes, o
que lhe tiraria a força política.
Amigos
O Brasil acena, agora, com o
grupo de amigos da Bolívia, que
inclui Argentina e Colômbia.
A avaliação oficial da crise
pelo Itamaraty é que se trata de
um problema interno da Bolívia e que o Brasil só atuará se e
quando solicitado oficialmente
por La Paz. Mas, nos bastidores, diplomatas e integrantes
da equipe de Lula buscam o diálogo com a oposição boliviana.
Arce, o ministro boliviano,
não deu entrevista ao deixar a
reunião com Garcia. "As relações com o Brasil são as melhores que temos", limitou-se a dizer. Indagado sobre o papel que
o Brasil poderia ter na crise, resumiu: "É um assunto interno
que nós vamos resolver".
Já Garcia, ao deixar o Palácio
do Planalto, que a "situação é
grave, anormal", mas que recebeu informações que o governo
da Bolívia vai retomar "rapidamente o controle da situação".
Questionado se a maior preocupação era política ou energética, Marco Aurélio disse que "a
preocupação agora é que o Brasil ganhe o jogo com a Bolívia",
em referência à partida entre as
duas seleções ontem pelas eliminatórias da Copa.
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