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No Chaco, ir e vir não é direito, mas concessão
DA ENVIADA A VILLAMONTES
Há 18 dias, os Comitês Cívicos decidem, na região do
Chaco, sul boliviano, quem
pode ou não se mover em
carros ou deixar as cidades.
As tradicionais associações conservadoras de empresários e políticos comandam as "permissões", papéis
onde escrevem a placa do
veículo, sua cor e o nome do
motorista. São autorizações
diárias distribuídas a algumas camionetes -de líderes
do comitê-, táxis, ambulâncias e, com sorte, jornalistas.
Nas ruas das principais cidades, ninguém se espanta
com o poder discricionário
dos comitês, e vão diligentemente atrás de sua permissão. Em Tarija, a Folha viu
um funcionário do Ministério Público em busca da sua.
A obediência faz sentido.
Quando se tenta chegar às
estradas, constata-se que as
saídas dos municípios de Villamontes, Yacuíba e Tarija
-junto com Bermejo, as
principais cidades do departamento de Tarija- estão
bloqueadas.
A Folha teve de parar ao
menos cinco vezes num trajeto de 130 km anteontem,
descer, mostrar a "permissão", explicar com detalhes a
natureza de seu trabalho
-num interrogatório que
chega à intimidação, com recomendações de não ouvir
representantes do governo
para as reportagens-, para
só aí poder passar. Em um
dos bloqueios, só uma entrevista a uma rádio, que combinou odes à amizade de
Brasil e Bolívia e palpites sobre o jogo de ontem, selou a
liberação.
A gente comum do Chaco
sofre inconvenientes muito
mais graves. A gasolina saltou de 3 bolivianos (cerca de
R$ 0,75) para 20 bolivianos o
litro. Há ônibus de transporte de passageiros parados no
meio do nada. Até as aulas da
rede pública foram interrompidas em Yacuíba. Parte
da população já começa movimento para protestar contra os protestos.
(FM)
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