São Paulo, quinta-feira, 11 de setembro de 2008

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Republicanos acusam Obama de sexismo

Democrata citou "batom em porco" para dizer que rival quer mudança cosmética, mas críticos vêem alusão a Palin

DANIEL BERGAMASCO
DE NOVA YORK

A menos de oito semanas das eleições presidenciais americanas, e com projeção de disputa muito acirrada, o republicano John McCain lançou ontem na TV anúncio no qual acusa o democrata Barack Obama de sexismo. O vídeo edita frases de Obama para que pareçam uma referência grosseira à vice da chapa republicana, Sarah Palin.
"Você pode colocar batom em um porco. Ele ainda será um porco", disse Obama na terça, usando expressão comum na política americana ao falar sobre a apropriação de seu slogan, "mudança", pela campanha rival -queria dizer que a mudança prometida no caso era apenas cosmética.
No anúncio de TV, a cena se segue à frase de Sarah Palin, da semana passada: "Vocês sabem a diferença entre uma "mãe do hockey" (mulheres que levam os filhos para o treino, como ela) e um pitbull? Batom!".
As críticas republicanas -o partido exigiu desculpas de Obama- haviam começado já na véspera, dia em que o foco da mídia estava nas acusações contra Palin, governadora do Alasca, por receber verbas de viagem sem sair de casa, publicadas pelo "Washington Post".
Em sua fala, Obama não havia citado Palin. Mas parte da mídia questionou: sendo os discursos dos candidatos preparados com tanto zelo, sua equipe não previu a controvérsia?
Antes que algum repórter lhe perguntasse, o democrata comentou o assunto ontem, em ato de campanha."Estou falando sobre a política econômica de John McCain e disse que ele é mais do mesmo. De repente, eles dizem: "Você deve estar falando da governadora (Palin)."

Campanha suja
Para a cientista política Barbara Kellerman, da Universidade Harvard, ainda que se ampare em um factóide o contra-ataque pode ser efetivo. "A campanha suja muitas vezes funciona, por mais que seja injusta", disse. E alertou que o rival pode fazer do medo do rótulo de sexista um escudo: "Ninguém quer parecer preconceituoso".
Steven Brams, da Universidade de Nova York, concorda. "É só o começo. A tendência é que Obama use da mesma arma no contra-ataque, para que não pareça fraco para as massas. Sua imagem de intelectual tem apelo limitado. Os eleitores gostam de certa agressividade."
Outra metáfora na mesma fala de Obama também gerou comentários. "Você pode enrolar um peixe velho em um pedaço de papel chamado "mudança". Ele vai continuar a feder pelos próximos oito anos", disse Obama, logo após a analogia suína. Na TV, a republicana Jane Swift, ex-governadora de Massachusetts, viu ali uma ofensa aos 72 anos de John McCain.
Obama reclamou da mídia por embalar a polêmica. "[Os republicanos] pegam um comentário inocente, tiram do contexto, vomitam um anúncio ofensivo porque eles sabem que para a imprensa isso é um "hortelã-de-gato" [erva que deixa os felinos excitados]", disse.
O Partido Democrata, contudo, já esteve em situação inversa. Na temporada de primárias, John McCain usou a mesma expressão sobre maquiar um porco para criticar o projeto de saúde pública de Hillary Clinton, na época pré-candidata democrata. Foi prontamente acusado pela equipe da senadora de ofendê-la.


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