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Em discurso, Bush ignora saques
Especialistas criticam plano militar para o pós-guerra e prevêem atraso na ajuda humanitária
FERNANDO CANZIAN
DE WASHINGTON
O presidente dos EUA, George
W. Bush, ignorou ontem, em seu
discurso semanal no rádio, a onda
de saques e o desgoverno no Iraque ocupado pelas tropas norte-americanas e britânicas.
Ao contrário, exaltou o trabalho
e a ""ação humanitária" dos soldados. ""O povo do Iraque está vendo a compaixão de nossos militares, que estão oferecendo água,
comida e medicamentos aos que
precisam", disse Bush.
O pronunciamento, que vai ao
ar todo sábado ao meio-dia, foi
recheado de passagens sublinhando ""o valor" dos militares e a
""liberdade"" no Iraque.
Dentro dos EUA, especialistas e
agências relacionadas à estabilização de países no pós-guerra aumentaram o tom das críticas contra o plano militar americano.
""A ausência de lei e ordem no
Iraque vai atrasar todo o processo
de ajuda humanitária", diz o porta-voz do escritório de Coordenação Humanitária das Nações Unidas, David Wimhurst. ""Não é difícil imaginar que após a queda de
um regime há reações extremas
nas ruas. Parece que realmente
não houve planejamento para
conter esse tipo de coisa."
""Estava claro que a fase EUA
versus Iraque seria seguida da fase
Iraque versus Iraque. Há anos os
EUA intervêm em países e os militares ainda não aprenderam a lição", diz James Dobbins, ex-funcionário graduado do Departamento de Estado que participou
da reconstrução do Haiti, Somália, Bósnia e Afeganistão, onde os
EUA intervieram.
Em entrevista à Folha, Dobbins
disse que ""rapidamente" os EUA
vão ""entender a necessidade de
chamar mais países e organismos" para controlar a situação no
Iraque. ""É uma tarefa muito pesada", afirma.
Custo>
Enquanto os EUA ainda avaliam qual papel vão oferecer à
ONU no Iraque pós-guerra, outros funcionários do governo já
correm atrás de dinheiro.
Ontem, o secretário do Tesouro
norte-americano, John Snow, defendeu que o Banco Mundial não
precisa de uma aprovação formal
de sua diretoria para iniciar ""imediatamente" um pacote de ajuda
financeira ao Iraque.
""O secretário acredita simplesmente que o banco precisa se engajar no processo o mais rápido
possível", disse o porta-voz de
Snow, Tony Fratto, durante a reunião de primavera em Washington do FMI (Fundo Monetário Internacional) e do Banco Mundial.
Os EUA são o maior sócio das
duas instituições.
Snow também reuniu-se com o
ministro das Finanças da França,
Francis Mer, em busca de apoio
financeiro e persegue um consenso entre os países credores do Iraque para que perdoem boa parte
das dívidas estimadas em US$ 100
bilhões que Saddam Hussein contraiu com o mundo.
Estimativas conservadoras colocam na casa dos US$ 25 bilhões
ao ano os gastos necessários para
devolver o Iraque à normalidade.
Dobbins estima que serão necessários pelo menos cinco anos para
que isso aconteça.
No final da noite de sexta-feira,
o Congresso norte-americano
aprovou um pacote de US$ 79 bilhões para pagar a guerra e parte
da reconstrução do Iraque.
Na votação, Bush foi derrotado
em sua intenção de ter todo o dinheiro livre e direcionado para o
Pentágono. Os parlamentares, ao
contrário, pediram dotações específicas para todos os valores, especialmente para cerca de US$ 2,5
bilhões designados exclusivamente para a reconstrução.
Mas a maior derrota de Bush no
Congresso na sexta deu-se quando o Senado partiu ao meio o valor que o presidente pretendia fixar para o corte de impostos nos
EUA para os próximos dez anos.
Visto como a única e polêmica
alternativa de Bush para reativar a
economia antes das eleições de
2004, o corte de impostos foi limitado a US$ 350 bilhões, contra os
US$ 726 bilhões propostos inicialmente pelo presidente.
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