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SOCIEDADE
Gênero musical semiclandestino com histórias de traficantes, guerrilheiros e paramilitares vem ganhando público no país
Colombianos "cantam" tráfico e guerrilha
ROGERIO WASSERMANN
DA REDAÇÃO
"Sou chamado o rei das drogas /
os que estão começando admiram meu patrão." Com versos como esses, com histórias sobre traficantes, guerrilheiros e paramilitares, grupos musicais colombianos vêm ganhando cada vez mais
público para um estilo semiclandestino, batizado de "narcocorridos" ou "corridos prohibidos".
Multidões de até 25 mil pessoas
se aglomeram em apresentações
de grupos cujas músicas não tocam nas rádios e não aparecem na
TV. Seis volumes de compilações
de "narcocorridos" já venderam,
ao todo, mais de 600 mil cópias, e
um sétimo CD já está em fase de
produção. Um DVD sobre o estilo
foi lançado no mês passado.
"Este é um movimento que
cresce cada vez mais", afirma o
produtor Alirio Castillo, ex-executivo de gravadoras multinacionais que no final dos anos 1990 resolveu lançar, por um selo próprio, grupos como Uriel Henao y
Los Tigres del Sur, os intérpretes
de "narcocorridos" mais populares hoje na Colômbia.
O gênero, na realidade, nasceu
no México, ainda no início do século passado, quando músicos da
fronteira com os EUA começaram a cantar histórias sobre
gângsteres e tequileiros, os traficantes que abasteciam o mercado
americano de álcool, então ilegal.
Com o tempo, e a legalização do
consumo de álcool nos EUA, as
letras passaram a retratar a nova
realidade local, do tráfico de drogas. Os "corridos" mexicanos são
particularmente populares nos
Estados mexicanos de fronteira e
entre a comunidade mexicana
dos EUA. O principal grupo mexicano de "narcocorridos", Los
Tigres del Norte (homenageado
pelo colombiano Uriel Henao),
formado nos anos 1960, já vendeu
mais de 32 milhões de cópias de
seus 55 discos e recebeu o
Grammy de música regional mexicana em 2000.
A migração do gênero para a
Colômbia começou entre o final
dos anos 1980 e o início dos anos
1990, época do auge dos grandes
cartéis da droga no país andino.
"Os grandes narcotraficantes
dos anos 1980, como Gonzalo Rodríguez Gacha [membro do cartel
de Medellín conhecido como "o
Mexicano'], eram grandes fãs dos
"corridos" mexicanos e pagavam
aos grupos para compor músicas
sobre eles", conta Castillo.
Dali à produção própria foi um
passo. "Mesmo com referências à
Colômbia, músicas com histórias
como a morte de Pablo Escobar
vinham do México, então, a partir
de 1997, os grupos locais começaram a escrever suas próprias histórias", diz Castillo. Hoje há cerca
de 18 grupos colombianos com
"narcocorridos" gravados e outras centenas fazendo apresentações concorridas, principalmente
nas áreas de conflito.
Os "narcocorridos" não têm nenhuma restrição legal na Colômbia, diferentemente do que ocorre
no México, onde vários Estados
proibiram sua difusão. Mas há
uma espécie de autocensura por
parte dos meios de comunicação,
intensificada nos últimos tempos
com a política de pulso firme do
presidente Álvaro Uribe contra os
grupos armados ilegais.
"O governo pede para os meios
não veicularem esse tipo de música, e eles acatam o pedido, com
medo de represálias", diz Alberto
Chacón, executivo da gravadora
Fonocaribe, responsável pelos
"narcocorridos" na Colômbia.
Com a dificuldade de acesso aos
meios de comunicação, a gravadora lançou uma campanha bem-humorada para os discos, que dizia: "Compre-o, porque no rádio
você não vai escutar". Parece ter
funcionado, pelas centenas de milhares de discos vendidos.
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