|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
"Cantamos a realidade do país", diz compositor
DA REDAÇÃO
Os "narcocorridos" não fazem
apologia do narcotráfico, apenas
retratam a realidade vivida hoje
na Colômbia. Quem diz é Uriel
Henao, 34, líder do grupo mais
popular do gênero hoje na Colômbia, Uriel Henao y Los Tigres
del Sur. A banda, com dez músicos, já chegou a se apresentar para
platéias de 25 mil pessoas. "Na
Colômbia há de tudo, e não podemos tampar a realidade com uma
peneira", afirma Henao.
Leia a seguir a entrevista que
concedeu à Folha, por telefone:
Folha - Vocês fazem apologia do
narcotráfico ou do estilo de vida
dos narcotraficantes?
Henao - Não, de jeito nenhum.
Não cantamos sobre os que estão
vivos, mas sobre personagens históricos, como Pablo Escobar.
Gente que fez história no país.
Não fazemos apologia do delito,
apenas cantamos a realidade que
vive nosso país. Convertemos isso
em canções, com muito sucesso.
Folha - Mas as músicas não podem exercer algum tipo de influência sobre as pessoas?
Henao - Na Colômbia há de tudo, e não podemos tampar a realidade com uma peneira. Sabemos
que existem narcotraficantes,
guerrilheiros, paramilitares.
Folha - E vocês, pessoalmente,
têm contato com essas pessoas retratadas nas músicas?
Henao - Viajamos por muitas
partes do país, e onde quer que se
vá há guerrilheiros, paramilitares
e traficantes. Às vezes podem nos
convidar para trabalhar em uma
festa, e não sabemos se as pessoas
são narcotraficantes ou qualquer
outra coisa. Mas dizer que temos
contato ou relações próximas
com essas pessoas é mentira. Você chega num lugar onde não conhece ninguém, é difícil identificar quem é guerrilheiro ou traficante. Nós trabalhamos, recolhemos nosso dinheiro, tomamos o
avião e até logo.
Folha - Qual a razão do sucesso
dos narcocorridos, em sua opinião?
Henao - As pessoas se identificam. Por exemplo, se há gente que
vive de raspar coca, você canta
um tema como "Corrido del Cocalero", eles ouvem e gostam. Ou
então, com "La História del Guerrillero y del Paraco", tanto guerrilheiros como paramilitares escutam e gostam.
Folha - Vocês sofrem algum tipo
de perseguição?
Uriel Henao - Não existe nenhum
tipo de restrição legal aos narcocorridos, mas as TVs e rádios não
querem veicular nossas músicas.
Ouça narcocorridos colombianos e mexicanos na
www.folha.com.br/031771
Texto Anterior: Sociedade: Colombianos "cantam" tráfico e guerrilha Próximo Texto: Geopolítica: EUA estão em declínio, diz pensador francês Índice
|