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Europa precisa de fronteira controlada, diz somali-holandesa
Para ativista nascida na Somália, bloco deve deixar entrar os imigrantes necessários, não "selecionar os mais miseráveis"
Ex-deputada cuja biografia é best-seller mundial defende imigração seletiva e conta por que mentiu ao pedir asilo na Holanda
CLARA FAGUNDES
DA REDAÇÃO
Ativista feminista e uma das
mais célebres críticas do islã,
Ayaan Hirsi Ali acostumou-se a
controvérsias desde que desapareceu no caminho entre o
Quênia e um casamento arranjado com um primo no Canadá,
aos 22 anos. Um filme, um diploma, três livros e um mandato depois da chegada, diz que a
Europa não deve deixar entrar
multidões de miseráveis.
Jurada de morte por radicais
islâmicos, a pesquisadora do
conservador American Enterprise Institute, que veio ao Brasil há duas semanas para participar dos seminários Fronteiras do Pensamento Copesul-Brasken, em Porto Alegre e Salvador, diz ter sorte: pode falar o
que pensa. Não evita assuntos
embaraçosos, como as mentiras que lhe renderam asilo e liberdade na Holanda -e mais
tarde custariam seu mandato
pelo Partido Liberal.
Como é a vida sob escolta
permanente? "Assim", sorri,
olhando em volta. Na sala do
hotel paulistano onde Ali recebeu a Folha, sete pessoas -três
agentes da Polícia Federal brasileira- a escoltavam durante
a entrevista. "É assim, 24 horas
por dia". Desculpa-se: sobre isso não pode falar mais.
FOLHA - Os assassinatos de Theo
Van Gogh e Pim Fortuyn [político de
direita, morto em 2002] chocaram a
Holanda. Como isso afetou a política
em relação aos imigrantes?
AYAAN HIRSI ALI - A Holanda já
vinha mudando desde 1999,
quando começaram a ser propostas políticas para lidar com
os imigrantes muçulmanos.
Mas havia um tabu politicamente correto em relação à sociedade multicultural, ao islã e
os muçulmanos. A morte de
Fortuyn inflamou os debates.
O que mudou desde 2003,
quando entrei para o Parlamento, é que há uma atenção
maior sobre a posição das mulheres e debates abertos sobre a
influência do islã na integração
dos imigrantes. Desde novembro, porém, o novo governo
[coalização centrista liderada
pelos democratas-cristãos] está retomando o paradigma do
politicamente correto.
FOLHA - A "Diretiva de Retorno"
aprovada pelo Parlamento Europeu
é considerada excessivamente dura
por países latino-americanos. A Europa precisa de regras mais rígidas
quanto a imigração e asilo?
ALI - Não, a Europa precisa é
de um sistema comum de imigração, como nos EUA. A União
Européia tem 26 países, cada
um com um sistema. Ainda não
fizemos uma escolha sobre que
imigrantes devemos deixar entrar. Os EUA selecionam os
imigrantes com base nas necessidades do país. A Europa escolhe os que são mais miseráveis.
Eu acredito que isso é o que
tem de mudar.
FOLHA - Você conquistou mais do
que a maioria dos imigrantes e refugiados. Suas conquistas são parcialmente resultado da generosidade
que encontrou na Holanda?
ALI - A Holanda foi fundamental para minhas conquistas pessoais... Encontrei pessoas muito generosas, livres, que me
acolheram e me guiaram. Eu
freqüentei uma universidade
gratuita, consegui um trabalho
rapidamente como tradutora
paga pelo governo.
FOLHA - Em situações como as que
levaram à sua fuga para a Holanda é
justificável que migrantes desesperados mintam para autoridades?
ALI - Seria ridículo dizer que
não é justificável, depois de ter
feito isso. Na época, eu me senti
envergonhada, mas de algum
modo julguei válido mentir. Inventei uma história que se adequasse às exigências. Se tivesse
dito que estava fugindo de um
casamento arranjado, não teria
conseguido asilo.
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