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Ali defende fechar escolas muçulmanas
Ativista "atéia" absolve colégios judaico-cristãos; "eles são parte do legado histórico holandês", diz
DA REDAÇÃO
"Muçulmana atéia", Ayaan
Hirsi Ali defende o fechamento
das escolas islâmicas na Europa. Leia a continuação da entrevista à Folha.
(CF)
FOLHA - Em "A Virgem na Jaula",
você usa várias vezes a expressão
"nós muçulmanos". Você se considera muçulmana?
ALI - Sou uma muçulmana
atéia, como há católicos ateus e
judeus ateus: pessoas que foram criadas em uma tradição
religiosa na qual já não crêem.
Eu já não me submeto à vontade de Deus -é isso que "muçulmano" significa. Mas, é claro,
continuo a compartilhar a herança cultural islâmica.
FOLHA - Você acha que os muçulmanos têm de abandonar a religião
para se integrarem no Ocidente?
ALI - Essa é a questão do século... Faço uma distinção entro o
indivíduo e a doutrina. Há indivíduos bem integrados que rezam cinco vezes por dia e jejuam no Ramadã. Mas, numa
sociedade como a holandesa,
quase tudo entra em confronto
com a doutrina islâmica. É impossível integrar-se praticando
todos os aspectos da religião.
FOLHA - Sua autobiografia ("Infiel") retrata seu pai como modelo
moral de sua infância e juventude.
Ele ainda é um exemplo para você?
ALI - Ele não é mais um modelo para mim hoje, porque rejeitei o sistema de valores que ele
me ensinou. Mas, se ele não tivesse insistido que minha irmã
e eu fossemos à escola, eu não
estaria onde estou. Esse é o paradoxo: ao me mandar para a
escola, ele me abriu os portões
da modernidade.
FOLHA - Você defende o fechamento das escolas muçulmanas. Por
que acha que as escolas cristãs podem funcionar bem em países como
a Holanda, mas não as islâmicas?
ALI - A tradição judaico-cristã
é em si mesma parte do legado
histórico holandês. As escolas
são abertas ao questionamento
científico, os alunos falam holandês, conhecem a cultura do
país. Na Europa, as escolas islâmicas dificultam a integração.
Elas ensinam as crianças a serem hostis aos valores do país
onde vivem, a serem parte da
umma, a comunidade universal
de muçulmanos. Os alunos são
separados por sexo; os meninos
são educados para serem dominadores e as meninas, dóceis.
FOLHA - Você diz que o islã precisa
de um Voltaire [filósofo iluminista].
Você crê que possa ser esse Voltaire?
ALI - Só houve um Voltaire, no
seu tempo e seu contexto. O
que quis dizer é que nós precisamos de autocrítica -e também de críticas externas. Não
sou um Voltaire, mas me considero uma dessas vozes críticas
nascidas dentro do islã. Precisamos combater a crença de
que os responsáveis por nossas
misérias são sempre os imperialistas, os norte-americanos,
os judeus, nunca nós mesmos.
FOLHA - Muito do que você descreve como problemas dos países muçulmanos não seriam comuns a outras nações em desenvolvimento?
ALI - Muitos dos problemas
são compartilhados com outras
nações em desenvolvimento. O
que é único, nos países muçulmanos, é que eles parecem pensar que têm no islã uma alternativa superior a qualquer sistema ocidental.
Essa teoria alternativa, que muitas vezes torna a população passiva diante
de maus governos, não traz a
"salvação" às nações islâmicas.
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