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POLÍTICA
O presidente espera sair da eleição parlamentar com o controle do Legislativo, o que nenhum republicano consegue desde 53
Bush busca poder raro na política dos EUA
MARCIO AITH
DE WASHINGTON
Enquanto tenta extrair da ONU
uma resolução que estabeleça o
uso automático da força contra o
Iraque, o presidente George W.
Bush dedica-se a uma outra batalha, de natureza doméstica, que
poderá lhe dar um poder raro na
história política americana.
Se seu partido retomar o Congresso nas eleições de 5 de novembro, será a primeira vez, desde 1953, que um presidente republicano terá o controle simultâneo das duas Casas do Legislativo
por pelo menos dois anos.
Considerando o alinhamento
ideológico que existe hoje entre
Bush e a Suprema Corte dos EUA,
uma vitória republicana em novembro teria um significado ainda maior: seria a primeira vez desde 1929 que um presidente teria
força nos três Poderes.
Ciente disso, o presidente já coletou pessoalmente mais de US$
136 milhões para os candidatos de
seu partido. Além disso, a Casa
Branca atrelou a agenda de Bush
ao cronograma eleitoral. O presidente estará fora de Washington
em duas das próximas três semanas, participando de comícios em
oito Estados considerados vitais
para definir a balança de poder.
No dia 5 de novembro, estarão
em jogo 34 das 100 cadeiras do Senado e todas as 435 na Câmara
dos Representantes (deputados).
Os democratas precisam obter
sete cadeiras dos republicanos para conquistar a maioria na Câmara. No Senado, basta aos republicanos adicionar um único senador à sua bancada para retomar o
controle da Casa, perdido em
maio quando um de seus membros tornou-se independente.
Um Congresso totalmente controlado pelos democratas poderia
comprometer as chances de Bush
de reeleger-se presidente em
2006. Já um Congresso controlado pela Casa Branca poderia dar
ao presidente mais um mandato e
o poder de reformar o governo federal com uma liberdade não vista desde a desregulamentação
econômica feita por Reagan.
A importância das eleições de
novembro pode ser comprovada
pelo volume inédito de doações
eleitorais até agora. Os candidatos
democratas arrecadaram US$ 228
milhões, e os republicanos, quase
o dobro: US$ 404 milhões.
Os republicanos têm a vantagem financeira, mas lutam contra
uma tradição que lhes é desfavorável. Desde 1913, quando o voto
direto foi implemento para o Senado nos EUA, o partido que controla a Casa Branca perdeu cadeiras no Congresso em 75% das
"midterm elections", como são
chamadas as eleições que não
coincidem com a presidencial.
Há várias teorias para explicar
esse fenômeno. Uma delas seria a
disposição dos eleitores de reforçar o sistema de freios e contrapesos, "amarrando" o presidente
por meio do fortalecimento da
oposição no Congresso.
Os republicanos reconhecem
essa tendência histórica, mas preferem traçar comparações com as
exceções, e não com a regra. Eles
apontam para as semelhanças entre o quadro político atual, dominado pelas discussões sobre o Iraque e sobre a guerra contra o terror, e aquele da crise dos mísseis
em Cuba, em 1962, na qual o Partido Democrata, do então presidente John F. Kennedy, conseguiu aumentar sua bancada nas
eleições parlamentares.
"O Iraque tem sido tema central
dos discursos de Bush porque é isso que os eleitores querem ouvir.
Mas não podemos nos iludir:
Bush aponta para Saddam Hussein, mas seus olhos miram as urnas", disse Jennifer Duffy, analista
política do "Cook Political Report", uma respeitada newsletter
sobre política americana.
Estrategistas democratas apostam que a preocupação máxima
dos eleitores na hora do voto será
a fragilidade da economia. Pesquisas são conflitantes sobre a
prioridade número um dos eleitores. Algumas mostram a guerra
contra o terror. Outros, a manutenção dos empregos.
Para reforçar sua tese, os democratas realizaram anteontem um
fórum para debater formas de
reativar a economia. O líder democrata no Senado, Tom Daschle, definiu assim a visão de seu
partido sobre a opinião pública
americana: "No ano passado, tínhamos medo de abrir a caixa de
correio por causa do antraz. Hoje,
temos medo de abrir a caixa de
correio porque os extratos de
401k [planos de aposentadoria individuais baseados em ações] vão
mostrar quanto dinheiro já perdemos."
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