|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Rivalidade impede exportação de gás
JUAN FORERO
DO "THE NEW YORK TIMES", EM LA PAZ
Quase todas as peças estão em
seu lugar para que esse país andino, longamente abatido pela pobreza, possa usar suas imensas reservas de gás natural descobertas
recentemente -as maiores da
América do Sul. Há um mercado,
a Califórnia, e há investidores estrangeiros prontos para gastar até
US$ 6 bilhões para a exploração.
Mas um obstáculo permanece: a
Bolívia está isolada do mar, sem
portos de onde embarcar mercadorias. Os analistas dizem que a
solução prática é construir um gasoduto de 650 quilômetros para
um porto no vizinho Chile, possivelmente em Mejillones ou Patillos, mas o projeto é ameaçado
por ressentimentos de um século.
Os bolivianos ainda não esqueceram que o Chile tomou a costa
boliviana em 1879 e resistem a
construir um gasoduto que permitiria a um velho inimigo comprar gás barato. A preferência de
muitos bolivianos é construí-lo
para a costa peruana, até o porto
de Ilo, embora isso seja mais caro
e mais complicado.
"O Chile só deseja bons negócios com a Bolívia, mas esquece o
problema que ainda está pendente", diz Jorge Torres, líder do MIR
(Movimento da Esquerda Revolucionária), um partido nacionalista que se opõe à opção pelo Chile. "Nove entre dez bolivianos dirão: "melhor com o Peru". Os sentimentos das pessoas são claros.
Isso significa dignidade", afirma.
As lembranças amargas e as
considerações políticas, segundo
as pessoas familiares com o projeto, têm atrasado a decisão do governo sobre construir o gasoduto
para o Chile ou para o Peru. Ambos os países estão dispostos a
oferecer incentivos como isenção
de impostos para obter a ligação.
Para os investidores que financiariam o projeto -um consórcio chamado Pacific LNG, formado por três companhias transnacionais- o Chile é a escolha mais
lógica. A costa peruana é 240 quilômetros mais distante das reservas de gás na Província boliviana
de Tarija, e a instabilidade peruana e sua baixa credibilidade internacional tornam o país menos
atrativo que o Chile. Além disso,
construir a ligação para o Peru
custaria US$ 600 milhões a mais.
"Se o governo boliviano nos
desse US$ 600 milhões, poderíamos considerar o Peru", diz Edward Miller, presidente da British
Gas Bolivia, uma das três companhias envolvidas no projeto que
financiarão o gasoduto. "Todo o
risco agora cai sobre o setor privado. Para o nosso dinheiro, o Peru
não é uma opção", diz.
Funcionários do governo boliviano e outros que conhecem o
plano dizem que a única opção
aceitável para as empresas seria o
Chile, porque a Bolívia não pode
arcar com a diferença. "A decisão
deve ser pelo Chile, ou não haverá
projeto", afirma um funcionário
envolvido nas negociações.
Mas, na Bolívia, é difícil esquecer o passado. Apesar de a Bolívia
ter perdido muito de seu território para seus vizinhos entre 1879 e
1935, foi a perda de sua Província
de Litoral, na costa, que mexeu
mais com a psique boliviana.
Desde que tentou recuperar Litoral e não conseguiu, a Bolívia
concentra sua política externa em
buscar uma saída para o Pacífico.
O país acionou órgãos internacionais, mas não obteve resultado.
A decisão pode ser tomada a
qualquer momento, mas pessoas
que conhecem a questão dizem
que o fator político é crucial. Mas
a Bolívia não é o único país que
quer fornecer gás à Califórnia. A
Venezuela, a Rússia, a Indonésia e
a Austrália estão na disputa. Muitos dos que se opõem à escolha do
Chile talvez ficassem mais calmos
se a Bolívia ganhasse soberania
sobre uma parte da costa do Pacífico. Mas essa opção não é realista.
Texto Anterior: América latina: Líder cocaleiro desestabiliza a Bolívia Próximo Texto: Brasil quer aproximação com favorito em eleição Índice
|