|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
GUERRA SEM LIMITES
EUA geram confusão na imprensa sobre plano de ataque; estratégia seria levar Iraque a dar pretexto para ação
Com ameaças, Bush tenta arrastar Saddam à guerra
RUPERT CORNWELL
DO "THE INDEPENDENT", EM WASHINGTON
O governo de George W. Bush
está tentando provar que uma
guerra pode ser vencida só com
ameaças. Quase nenhum dia acaba sem nova reportagem ou declaração sugerindo que um ataque americano -no fim deste
ano ou no início de 2003- é uma
certeza virtual.
A posição oficial foi descrita por
Bush na segunda-feira. Os EUA
estão comprometidos com "a
mudança de regime" em Bagdá e
usarão "todas as ferramentas à
nossa disposição" para atingir esse objetivo, mas ele disse não ter
tomado decisão final ou elaborado nenhum plano.
Ele descreveu o vazamento de
planos de guerra detalhados do
Pentágono ao "The New York Times" como obra de "alguém lá
embaixo, no nível cinco".
Os vazamentos continuaram,
primeiro em uma reportagem
alegando que os EUA usariam bases aéreas jordanianas para lançar
seus ataques -apesar de os jordanianos não terem sido informados e de todos os indícios serem os de que eles não dariam
permissão se fossem consultados.
Depois, foi publicada outra reportagem no "USA Today" afirmando que estrategistas militares
haviam "levantado a âncora" para
uma invasão. Só seria preciso agora uma provocação do ditador
iraquiano, Saddam Hussein, como invadir um vizinho ou atacar
curdos ou xiitas iraquianos.
A implicação das revelações do
"The New York Times" é que o
"modelo afegão" para uma invasão do Iraque, envolvendo uma
combinação de bombardeios,
forças especiais e operações secretas da CIA (agência de inteligência), com a ajuda de uma insurreição interna, foi descartado. O projeto, intitulado Cent-Com Course
for Action, dá ênfase a uma agressão avassaladora envolvendo 250
mil ou 300 mil soldados e ataque
aéreo contra instalações de infra-estrutura iraquianas e locais onde
haveria armas de destruição em
massa.
Alguns analistas vêem as reportagens como parte de um processo para capturar Saddam em uma
armadilha, forçando-o a uma medida drástica que daria a Washington o pretexto de que precisa.
Por exemplo, boatos sobre agentes dos EUA e do Reino Unido
promovendo a discórdia entre
curdos e iraquianos poderiam levar Saddam a atacá-los -oferecendo, assim, uma justificativa.
Essa estratégia explicaria por que
os EUA são tão avessos a negociações sobre a volta de inspetores de
armas da ONU ao Iraque.
Paul Wolfowitz, vice-secretário
da Defesa e um dos principais
proponentes de ações anti-Saddam, tem protelado abertamente
as inspeções. Elas seriam incapazes de inspecionar qualquer coisa,
ele insiste, enquanto as negociações permitiriam que Saddam ganhasse tempo.
Agora, Washington começa a se
concentrar numa possível provocação que derrubaria qualquer
obstáculo concebível: ligações entre o Iraque e a Al Qaeda apontando para o envolvimento de Bagdá
em atos terroristas anteriores ao
11 de setembro, ou naquele dia.
A CIA e o Pentágono pareciam
desdenhar de reportagens que diziam que Mohammed Atta, o líder dos sequestradores, tinha se
encontrado com um agente secreto iraquiano em Praga no início
de 2001. Mas os funcionários do
governo estão reexaminando esse
episódio, enquanto um desertor
iraquiano alegou em um documentário na TV que havia visto o
próprio Osama bin Laden em
Bagdá em julho de 1998.
Qualquer uma das histórias, se
confirmada, justificaria o argumento de Washington para derrubar Saddam -o de que, mesmo que não use armas químicas,
nucleares ou biológicas, ele as disponibilizaria a terroristas.
Texto Anterior: Sociedade: Arábia Saudita repensa sua relação com o Ocidente Próximo Texto: Panorâmica - Terror: Turistas europeus são atacados com granada no noroeste do Paquistão Índice
|