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Rússia ocupa zona-tampão em terra georgiana
DA REDAÇÃO
Resguardada pela vaguidão
dos termos do cessar-fogo selado na véspera com a Geórgia, a
Rússia ontem enviou unidades
de infantaria para Gori, a 30 km
da região separatista da Ossétia
do Sul e ponto estratégico no
território georgiano. Ali, demoliu bases militares abandonadas e criou uma "zona-tampão"
ao redor da área conflagrada,
no que Tbilisi denuncia como
violação do acordo.
Com a decisão, Moscou deixa
claro que, apesar do fim oficial
dos combates, fará o que julgar
preciso para cumprir seu objetivo militar: expulsar as forças
georgianas da Ossétia do Sul e
da Abkházia, a outra área autônoma do país, e anular seu poder de fogo contra os encraves.
A invasão da Ossétia do Sul
pela Geórgia, há uma semana, e
a resposta da Rússia deixaram
saldo estimado por Moscou em
1.600 mortos e, pela ONU, em
100 mil refugiados e deslocados. O vice-primeiro-ministro
russo Sergei Ivanov, em entrevista à BBC, ontem equiparou a
reação do Kremlin à da Casa
Branca em 2001.
"Qualquer país civilizado faria o mesmo. No 11 de Setembro, a reação foi semelhante."
O movimento ontem incitou
medos na Europa e nos EUA de
que a Rússia viole o acordo mediado pela França em nome da
União Européia. O texto aceito
pelos presidentes russo, Dmitri
Medvedev, e georgiano, Mikhail Saakashvili, pede o recuo
das forças às posições anteriores ao início do conflito.
Mas abre uma brecha: "Enquanto esperam por um mecanismo internacional, as forças
russas de manutenção da paz
podem implementar medidas
adicionais de segurança temporariamente". Sem fixar limite para as "medidas adicionais",
o texto acaba permitindo a
Moscou não só manter tropas
estacionadas na Ossétia do Sul
e na Abkházia como criar um
cinturão em torno delas.
Além de Gori, os russos mantêm tropas em Senaki, ao sul da
Abkházia -o que, diz um agente de inteligência dos EUA citado pela Associated Press, indica
que a presença será longa.
"O documento de paz com
que os dois lados concordaram
estava claramente aberto a interpretações díspares", lembra
o "Financial Times". Isso em
um cenário no qual, para usar a
avaliação sem meias-palavras
da agência estatal russa Interfax, "o acordo de seis pontos, alterado para cumprir as demandas russas, é amplamente visto
como tendo deixado Saakashvili em uma posição muito mais
fraca do que antes de sua tentativa de tomar a Ossétia do Sul".
Tropas de paz
As unidades que atacaram as
bases em Gori -cidade que já
tivera alvos estratégicos bombardeados- possuem até 30
veículos blindados. Repórteres
do "Guardian" e da BBC citam
caminhões militares russos nas
estradas adjacentes. Saakashvili acusou os russos de rumarem
para a capital, Tbilisi, o que foi
negado por Moscou e, depois,
por seu próprio gabinete.
Autoridades locais também
afirmaram que navios russos
afundaram quatro embarcações militares georgianas no
porto de Poti, no mar Negro,
enquanto o Kremlin afirma ter
abatido na zona de conflito dois
aviões-espiões georgianos. Nenhum dos episódios foi confirmado de forma independente
nem pelo lado oposto.
A discussão sobre o que constitui um avanço russo -e uma
violação do cessar-fogo- se
torna ainda mais nebulosa porque a Rússia tem, sob acordo de
1992 que deu autonomia às regiões separatistas, tropas de
manutenção da paz na Ossétia
do Sul e na Abkházia. O chanceler russo, Sergei Lavrov, disse
que os movimentos das tropas
ontem visavam dar apoio a esse
contingente de paz -aliás, preservado no cessar-fogo.
A Geórgia quer a missão russa substituída ou, no mínimo,
acompanhada por uma força
internacional neutra. Segundo
Lavrov, a Rússia não tem objeções ao envio de tropas internacionais, mas o Kremlin não
quer nenhuma mudança significativa em seu mandato.
Por fim, há o debate sobre o
status das duas regiões separatistas, ponto no qual Lavrov
voltou a insistir e que, a pedido
de Tbilisi, foi suavizado no
acordo, que cita "negociações
sobre modalidades de segurança e estabilidade". Como também não foi incluída a menção
pedida pela Geórgia à sua "integridade territorial", há margem
de manobra para os dois lados.
Com agências internacionais, "Financial Times"
e "The New York Times"
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