São Paulo, quinta-feira, 14 de agosto de 2008

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Putin assume comando de longo projeto de vingança contra o inimigo Saakashvili

NATHALIE NOUGAYRÈDE
DO "MONDE"

Em 1999, Vladimir Putin foi colocado diante do fato consumado da guerra da Tchetchênia por aqueles que o escolheram para suceder a Boris Ieltsin. Desta vez, foi ele quem tomou todas as decisões na intervenção militar russa na Geórgia. Essa guerra é "sua" guerra, uma operação de reconquista no Cáucaso contendo forte teor de vendeta pessoal contra o presidente georgiano, Mikhail Saakashvili, a quem Putin detesta abertamente e que vê como marionete dos Estados Unidos.
No dia 8 de agosto, durante conversa com Nicolas Sarkozy à margem dos Jogos Olímpicos de Pequim, Putin usou de grande violência verbal. "Não! Eles serão castigados! Eu vou castigá-los!", disse ele ao presidente francês, que se esforçava a todo custo para dissuadi-lo de enviar suas tropas contra a Geórgia.
Foi Putin, desde Pequim, o primeiro a reagir publicamente aos acontecimentos na Ossétia do Sul, qualificando-os de "agressão" da Geórgia. Foi ele quem interrompeu sua estadia em Pequim para embarcar para Vladikavkaze, na Ossétia do Norte, de onde partiram os tanques russos e para onde foram os refugiados, para apresentar-se diante da mídia como o comandante-em-chefe de fato.
Foi ainda ele, sempre diante das câmeras e sentado diante do presidente russo, Dmitri Medvedev, quem pela primeira vez lançou oficialmente a acusação de "genocídio" que estaria sendo cometido pelos georgianos na Ossétia do Sul. "Eu acho, Dmitri Anatolievitch, que o sr. deveria instruir o procurador militar a fazer uma investigação sobre isso", disse Putin ao ocupante do Kremlin, indicando a direção a ser seguida.
E foi com Putin que Sarkozy teve que negociar na terça.
Na véspera, durante uma reunião do governo russo, Putin explicara com paciência que uma intervenção militar externa se torna obrigatória quando o Exército de um Estado, agindo em seu próprio território, "arrasa dezenas de povoados" e lança seus tanques contra "crianças e idosos". Declarações interessantes vindas de um dirigente que a Anistia Internacional e outras organizações vêem como responsável por "crimes de guerra" e "crimes contra a humanidade" na Tchetchênia.
A segunda guerra de Putin contém a negação definitiva dos crimes da primeira. Mas nenhum dirigente europeu se lembrou de fazer uma pequena retrospectiva histórica.


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