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Fracasso ameaça futuro do bloco
DO "INDEPENDENT"
A cúpula da União Européia foi
palco das maiores e mais difíceis
negociações do bloco em anos,
um momento da verdade há muito adiado. Estava em jogo não
apenas a primeira Constituição
da UE mas o futuro do continente, reunificado após uma divisão
leste-oeste de 50 anos.
A dúvida era se o continente seguiria adiante unido ou se dividiria como ocorreu, de forma amarga, na Guerra do Iraque. O fracasso do encontro aponta para nova
divisão. Não houve acordo para
aprovar o projeto de Constituição, de 300 páginas, elaborado
por uma equipe liderada pelo ex-presidente francês Valery Giscard
d'Estaing. O maior impedimento
foi um protocolo na página 282
sobre o peso nas votações do bloco de seus atuais 15 membros e os
dez novos que entrarão em maio
do ano que vem.
O debate, altamente técnico, gira em torno de poder político e o
controle de bilhões de euros.
O que torna o debate potencialmente fatal para a Europa é a forma com que ele está sendo conduzido. A UE cresceu das cinzas de
um continente devastado pela Segunda Guerra. Seus arquitetos,
especialmente a Alemanha, colocaram a causa da integração européia acima de tudo. Com o milagre econômico da Alemanha Ocidental, o governo de Bonn financiou a conta. A UE se expandiu,
inicialmente de 6 para 12 países,
até o Muro de Berlim cair (1989) e
a Alemanha se reunificar.
Por mais de uma década, a Alemanha reunificada lutou para se
adaptar ao custo econômico da
reunificação e ao seu novo papel
de maior país do bloco. Antes, a
Alemanha Ocidental tinha quase
a mesma população dos outros
"grandes" da UE -França, Reino
Unido e Itália. Agora, supera em
20 milhões a Espanha e em 40 milhões a Polônia.
Numa desastrosa cúpula em Nice, há três anos, os líderes europeus se debateram com o tema da
representatividade por cinco dias.
O presidente francês, Jacques
Chirac, se recusou então a aceitar
uma mudança na paridade entre
França e Alemanha, principais
motores da UE. O compromisso
resultante deu à Espanha e à recém-chegada Polônia quase o
mesmo número de votos que a
Alemanha no sistema decisório
da UE expandida. Hoje o bloco
paga o preço do fracasso em Nice.
Chirac, agora percebendo que
os novos e menores membros terão influencia desproporcional,
mudou de lado e apóia a Alemanha. Mas a oposição espanhola foi
reforçada pela vontade polonesa.
Como disse um diplomata: "Em
Varsóvia, o tema é visto como um
teste para a sua influência. Se perderem essa batalha, acham que
não serão levados a sério". O assunto é tão importante que o premiê Leszek Miller foi a Bruxelas
em cadeira de rodas, convalescendo de acidente com helicóptero.
O fracasso em Bruxelas é relevante? A resposta é sim. França e
Alemanha fazem ameaças cada
vez mais fortes de que, sem acordo, seguirão adiante liderando
um núcleo duro de países dedicados a uma integração maior. Um
grupo baseado nos seis países-fundadores seria recriado, com os
países menos integrados e mais
atlanticistas, como o Reino Unido
e a Polônia, relegados ao segundo
círculo. A Europa mais unida seria criada à imagem franco-alemã, enquanto os outros se voltariam mais para Washington.
A Europa já evolui em várias velocidades. O Reino Unido, por
exemplo, está fora do euro, a
moeda única da UE. Como disse o
ministro das Relações Exteriores
alemão, Joschka Fischer, numa
Europa onde diferentes países
cooperam em assuntos diferentes, "alguns países estarão em todos os núcleos, então haverá um
núcleo dos núcleos", no qual estariam França e Alemanha.
Os assuntos na mesa não são
novos, e precisam ser resolvidos
pelo bem do bloco. Como disse o
presidente do Parlamento europeu, Pat Cox, antes da cúpula:
"Como já conhecemos as questões, não há grande benefício em
adiar as respostas".
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