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ORIENTE MÉDIO
Partido de Sharon agora fala em retirada unilateral de áreas palestinas para manter caráter judaico de Israel
Demografia faz Likud mudar de posição
JAMES BENNET
DO "NEW YORK TIMES", EM JERUSALÉM
Num país frequentemente centrado em seu passado, é o futuro
que de repente está pesando.
Dentro do partido de centro-direita Likud (governista), líderes
que antes defendiam a retenção
de toda a Cisjordânia e a faixa de
Gaza -e que em três anos de Intifada (revolta palestina) argumentavam que Israel não podia fazer
concessões por não haver com
quem negociar do outro lado-
agora debatem como e quando
devolver áreas palestinas.
O Likud está publicamente lidando com uma perspectiva há
muito levantada pela esquerda israelense: a de que, em poucos
anos, os árabes devem se tornar a
maioria em Israel e nos territórios
ocupados e podem mudar de estratégia, passando a exigir, em vez
de seu Estado, o direito de votar
em Israel, ameaçando sua identidade judaica. O fator demográfico
é inquestionável. Cerca de 5,2 milhões de judeus e 1,3 milhão de
árabes são cidadãos israelenses,
enquanto mais cerca de 3,5 milhões de árabes vivem nos territórios. E a taxa de natalidade árabe é
muito maior que a judia.
O resultado é uma mudança
surpreendente. Apesar de a plataforma do Likud se opor a um Estado palestino a oeste do rio Jordão como uma ameaça a Israel,
alguns líderes do partido dizem
que concluíram que somente a
criação desse Estado pode salvar o
país e a democracia judaica.
O debate ocorre em meio a uma
espécie de trégua de dois meses na
violência que trouxe com ela uma
série de iniciativas pela paz, oficiais ou não.
Enquanto o premiê palestino,
Ahmed Korei, luta para cimentar
um cessar-fogo entre as facções
palestinas, o premiê israelense,
Ariel Sharon, age como se tivesse
pressa, ansioso por encontrar seu
colega palestino, reunindo-se
com membros da oposição trabalhista e até falando em remover
colonos que ele lutou duramente,
por muitos anos, para instalar em
Gaza e na Cisjordânia. Sharon diz
que irá esclarecer suas intenções
em breve, talvez já nesta semana.
Muitos na direita e na esquerda
crêem que as insinuações de Sharon podem ser meros gestos políticos e diplomáticos para satisfazer a administração Bush -que
quer a retomada das negociações-, restaurar sua popularidade em queda ou mesmo distrair a
atenção pública de uma investigação de corrupção.
Shimon Peres, o líder trabalhista que encontrou Sharon na semana passada, está cético. Ele diz
que houve uma mudança no Likud, uma aceitação da necessidade de um Estado palestino, mas
que o partido ainda precisa formular uma política com esse fim.
Assessores de Sharon afirmam
que ele está comprometido com o
plano de paz patrocinado pelos
EUA, mas que formula passos
unilaterais, em cerca de seis meses, se a iniciativa fracassar.
Os palestinos afirmam que
qualquer gesto unilateral seria
uma tentativa cínica de despejar o
máximo de palestinos na menor
faixa territorial possível. Os EUA
também são contra atos assim.
Estimulado por Sharon, o debate sobre uma retirada unilateral
explodiu após declarações do vice-premiê Ehud Olmert. Antigo
defensor da Grande Israel, ele sugeriu que pode ser necessário deixar até mesmo áreas de Jerusalém
Oriental, vista antes como "capital indivisível" do país.
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