São Paulo, quarta-feira, 15 de abril de 2009

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análise

Cálculo político deixa presidente longe de anúncio

SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON

Enquanto seu porta-voz, Robert Gibbs, e seu assessor sênior para assuntos do Hemisfério Ocidental, Daniel Restrepo, davam a notícia de mais um passo no afrouxamento das restrições a viagens e remessas de dinheiro dos EUA para Cuba, na segunda-feira, Barack Obama se preparava para procurar ovos de Páscoa com a criançada na residência oficial.
Sua ausência contrastou com iniciativa recente tomada em relação ao Irã, um vídeo gravado pelo presidente por ocasião do Ano Novo persa. Nele, Obama se dirigia à população e aos governantes locais, chamava o país pelo nome oficial, República Islâmica do Irã, e abandonava a retórica de mudança de regime dos aiatolás adotada por seus antecessores.
Cuba não contou com tamanha boa vontade.
O tom do memorando assinado por Obama é em geral duro. A começar pelo título, "Promovendo Democracia e Direitos Humanos em Cuba", mas também em trechos como "medidas que diminuam a dependência do povo cubano do regime dos Castro e que promovam contatos entre cubano-americanos e seus parentes são meios para encorajar mudanças positivas em Cuba".
A diferença foi notada por estudiosos como Julia Sweig, especialista em Cuba do Council on Foreign Relations, de Nova York, que se preocupa com o tom de "mudança de regime" das declarações. "O governo cubano terá de passar por cima desse tom e se concentrar na substância", disse.
O descolamento da imagem de Obama do anúncio oficial tem pelo menos uma explicação: a eleição de parte do Congresso no ano que vem e a possível reeleição presidencial em 2012. Nem Obama nem os democratas podem se dar ao luxo de perder para os republicanos a Flórida, Estado que abriga a maior parte da população cubano-americana do país.
Embora pesquisas recentes concluam que a maioria da população local apoia o relaxamento da tensão entre os dois países, o embargo mantido há quase cinco décadas ainda é assunto tabu.
Assim, é pouco provável que Obama entre para a história como o presidente que tomou a iniciativa de derrubar a medida anacrônica, mantida por seus nove antecessores imediatos. Mas o democrata não vetaria uma lei nesse sentido que fosse aprovada pelo Congresso, e já há iniciativas tramitando tanto no Senado como na Câmara. Elas ganharão força se o regime cubano fizer um ato grandioso, como libertar parte dos presos políticos.


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