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CASA BRANCA
Porta-voz de Bush diz que "há mais pessoas acenando com todos seus dedos do que com apenas um" ao presidente
Apesar das fãs, Ari Fleischer se despede
MICHAEL CROWLEY
DO "NEW YORK TIMES"
Encarregado de repassar informações à imprensa, o porta-voz
da Casa Branca, Ari Fleischer, 42,
virou notícia no mês passado, ao
anunciar sua saída do governo do
presidente George W. Bush até julho, após tê-lo acompanhado por
quatro anos, desde os tempos em
que Bush governava o Texas.
Com fama de durão entre os
jornalistas de Washington e dono
de uma careca lustrosa, Fleischer
deixará saudades a uma legião de
fãs, responsável pela criação de
diversos sites em sua homenagem
-fenômeno que, segundo ele,
mostra que "a nossa cultura anda
mal das pernas".
Leia, a seguir, entrevista concedida ao "New York Times".
Pergunta - A maioria das pessoas
folheia um jornal durante o café da
manhã, talvez, e passa os olhos por
alguns sites no trabalho. Mas o sr.,
como secretário de imprensa do
presidente, quanta mídia precisa
consumir antes de chegar a sua mesa de trabalho?
Ari Fleischer - Essa é uma das razões pelas quais estou deixando
esse emprego: minhas mãos ficam sujas demais de tinta. Acordo
às 5h e recebo o ""New York Times" e o ""Washington Post" em
casa. Às 7h15 tenho a primeira
reunião do dia. Dividimos os jornais principais entre nós e recebo
um briefing sobre o que estão dizendo os outros. Mais tarde, na
manhã, leio um serviço gigantesco de clipping. Se eu não tiver assistido a algum jornal das grandes
redes, lemos transcrições dos jornais de cada uma das emissoras.
Tenho quatro TVs no meu escritório.
Pergunta - Se fizessem ""The West
Wing" mais semelhante à Casa
Branca de Bush, quem poderia fazer o seu papel?
Fleischer - Bem, eu teria dito
Telly Savalas, mas ele não pode
mais. Seja quem for, terá de ser alguém que não tem cabelo. Isso é
só para você ver como eu estou
culturalmente alienado.
Pergunta - No entanto o sr. já virou uma espécie de ícone cultural.
Há fãs-clubes Ari Fleischer criados
por mulheres, há sites dedicados
ao sr. e assim por diante.
Fleischer - Isso só vem comprovar que nossa cultura anda mal
das pernas.
Pergunta - E o que o sr. pensa a
esse respeito?
Fleischer - Não sei. Eu não saio
muito. Vou sair um dia destes, e
não vejo a hora. Nas poucas ocasiões em que pude me afastar do
trabalho, é bizarro e lisonjeiro
quando as pessoas vêm me cumprimentar. Acho que é testemunho à popularidade do presidente
o fato de que há mais pessoas acenando com todos seus dedos do
que com apenas um.
Pergunta - E isso acontece com
frequência? As pessoas que odeiam
Bush descontam sua raiva no sr.?
Fleischer - Não, as pessoas têm
sido gentis. No início da administração, nos primeiros meses do
governo, houve um sujeito que
chegou em mim depois de um
concerto de música no Wolf Trap
e disse: ""Seu chefe é um canalha".
Pergunta - O que o sr. faz em situações como essa?
Fleischer - Na realidade, o que eu
disse ao cara foi: ""Não sabia que
trabalhava para você". E segui andando. Isso foi no início de 2001.
Acho que foi a última vez que
aconteceu alguma coisa do tipo.
Pergunta - Bem, apesar do estresse, você tem conseguido se manter
calmo e sorridente a maior parte
do tempo. Qual é o segredo para
não perder a calma?
Fleischer - Sou paciente. Vejo
meu trabalho como uma partida
de xadrez intelectual. Se eu disser
isto, eles dirão aquilo; eu vou ter
de responder com aquilo outro,
mas eles reagirão com mais aquilo
lá. É preciso sempre pensar três
ou quatro sentenças à frente, porque é assim que as coisas funcionam com a imprensa. E os próprios jornalistas são ótimos jogadores de xadrez intelectual.
Pergunta - O sr. se imagina dizendo a seus filhos que se recusa a levar em conta uma pergunta hipotética sobre a hora de dormir?
Fleischer - Não. Veja bem, isso é
meu trabalho. Tenho uma vida
real fora dele, e essa é uma das razões pelas quais estou disposto a
deixar esse trabalho. Acredito na
vida real.
Tradução de Clara Allain
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