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PAZ SOB ATAQUE
Fomentado pelos israelenses como contrapeso à OLP, o grupo se torna a linha de frente da Intifada "armada"
Hamas se torna o Frankenstein de Israel
HARVEY MORRIS
DO ""FINANCIAL TIMES"
Nas vielas sujas e de muros pichados dos campos de refugiados
da faixa de Gaza, quem manda é o
Hamas. Israel declarou guerra ao
Harakat al Muqawama al Islamiia
(movimento da resistência islâmica). Com isso, declarou guerra
ao movimento que cresce mais
rapidamente nos territórios palestinos.
O Hamas está à frente da Intifada ""armada", que, segundo o primeiro-ministro da Autoridade
Nacional Palestina, Abu Mazen,
conduziu os palestinos para um
beco sem saída de violência respondida por mais violência. Foi o
Hamas quem forneceu muitos
dos homens-bomba cujos retratos cobrem muros na Cisjordânia
e na faixa de Gaza e as paredes dos
quartos de jovens que os têm como ídolos.
Diante da indignidade da ocupação, o Hamas vem oferecendo à
sua base popular impotente a satisfação sombria de retaliar. Ao alvejar líderes do Hamas, nesta semana, o governo de Ariel Sharon
se propôs a esmagar um movimento que não conseguiu extinguir durante os 32 meses do levante palestino.
Perto de um acordo
A rodada mais recente do conflito já deixou dezenas de mortos
e de feridos, desde que a cúpula de
Ácaba, na quarta-feira passada,
suscitou esperanças de um avanço real em direção à paz no Oriente Médio.
O Hamas nunca aderiu ao plano
de paz proposto pelos EUA. Diferentemente da opinião palestina
mais geral, o Hamas jamais reconheceu o direito de existência de
Israel.
No entanto, nos dias que antecederam a cúpula de Ácaba, na
qual Mazen e Sharon deveriam
declarar sua adesão ao plano de
paz, o Hamas esteve a ponto de
ceder diante do apelo por um cessar-fogo lançado pelo premiê palestino. Em troca, Abu Mazen ofereceu uma parceria política com
um movimento que, desde seu
nascimento, durante a primeira
Intifada (no final dos anos 80),
sempre funcionou em oposição à
dominante Organização para a
Libertação da Palestina, de Iasser
Arafat.
O que começou há uma década
e meia como movimento social e
assistencial dedicado à islamização da sociedade palestina se
transformou num movimento
terrorista.
Frankenstein
O Hamas é o Frankenstein de Israel. Ele foi fomentado nos anos
80 como contrapeso à influência
da OLP e hoje representa a ameaça mais direta à vida dos israelenses comuns. Hoje, ambos os lados
negam o significado de seu vínculo anterior.
""O Hamas tem um problema",
diz o vice-ministro palestino de
Assuntos Civis, Sufian Abu Zaida.
""Seus líderes sentem que estão
numa encruzilhada, e está acontecendo uma grande discussão interna sobre o rumo que o movimento deve seguir."
Abu Mazen ofereceu ao Hamas
um caminho de volta à legitimidade. Falando como ""irmão palestino", apelou a seus líderes para
que dessem uma chance à sua estratégia de paz. Mas a iniciativa foi
atrapalhada. Na declaração que
Mazen fez em Ácaba, submetida à
aprovação prévia dos EUA, o premiê palestino fez o que o Hamas
interpretou como uma condenação unilateral da violência palestina. Aos olhos da poderosa liderança externa do movimento islâmico, ele falhou ao deixar de
mencionar a eterna exigência palestina de que os refugiados tenham o direito de retornar a seus
lares no que hoje é Israel.
""Ele cometeu um grande erro
em Ácaba", disse Nasser Abdel
Fateh Abu Zaida, responsável pelo arquivo dos refugiados no Hamas. ""Para o homem da rua palestino, ele deu uma impressão
mais de americano ou israelense
do que de palestino. Para mim, o
conflito verdadeiro ainda não começou. Será mais duro ainda no
futuro."
É um conflito que, inevitavelmente, ameaça o governo de Mazen, apesar dos esforços deste para trilhar um caminho intermediário. ""O governo não é mediador entre o Hamas e Israel", disse
o ministro da Cultura palestino,
Ziad Abu-Amr.
Culpa de quem?
Na violência que voltou a assolar o Oriente Médio, cada lado
atribui ao outro a culpa pela escalada mais recente. Ela começou
com a morte de dois militantes do
Hamas alvejados por Israel no dia
seguinte à cúpula de Ácaba? Ou
terá o culpado sido o Hamas, com
o ataque da semana passada, na
faixa de Gaza, que deixou quatro
soldados israelenses mortos?
""Se alguém ataca sua casa, você
a defende", diz um dos líderes do
Hamas, Ismail Abu Shanab. ""Por
que a comunidade internacional
não ordena àqueles que invadiram minha casa que saiam? Se
Sharon deixar nosso território,
não teremos interesse algum em
ir atrás dele."
"O Hamas vai reagir, porque
nós não ficamos parados quando
nosso povo é atacado. Mas os israelenses não dão ouvidos à voz
da sabedoria", afirmou Shanab.
Tradução de Clara Allain
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